Candidatura de Eduardo Campos é irreversível

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Nonato Guedes

Fontes bem informadas acionaram o “RepórterPB” para informar, com exclusividade, que a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), a presidente da República em 2014, é irreversível. O gestor pernambucano, que é neto de Miguel Arraes, um mito da política nordestina e brasileira, já teria comunicado à presidente Dilma Rousseff, que será candidata à reeleição, a sua pretensão de também concorrer ao Planalto já no próximo ano. Ficou combinado, em tese, que Dilma e Eduardo evitariam agressões e conflitos, um pacto que pode se tornar inviável dependendo da evolução da conjuntura no próximo ano e dos desdobramentos da campanha presidencial em diferentes regiões do país.

“O assédio a Eduardo para dar-lhe apoio tem sido grande. Ele mesmo está surpreendido, embora se comporte com pragmatismo”, revela um dos interlocutores, com trãnsito privilegiado nas hostes socialistas. O assédio parte tanto de empresários como de expoentes do meio político. Jorge Gerdau, um dos representantes do PIB brasileiro, com base operacional a partir de São Paulo, é um dos entusiastas da “alternativa” Eduardo Campos, com quem mantém, já há algum tempo, permanente intercâmbio de ideias e informações, além de facilitar a circulação do governador de Pernambuco na elite do empresariado brasileiro. O PSD, presidido pelo ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, embora externe simpatia pela candidatura da presidente Dilma à reeleição, evitou indicar ministros na minirreforma promovida por ela e que resultou na posse dos escolhidos em pleno sábado, diante de compromisso da presidente com o Papa Francisco.

A interpretação reinante em algumas áreas é a de que o PSD, presidido na Paraíba pelo vice-governador Rômulo Gouveia, não indicou ministros para não se comprometer oficialmente com o projeto de reeleição de Dilma, diante da perspectiva de aliança com Eduardo Campos. Em São Paulo, o PSD é fundamental para a postulação de Eduardo, e, também, em Estados como Santa Catarina, além de dispor de espaço precioso no horário eleitoral em rádio e televisão. Tem mais: o ex-senador Roberto Freire, atual deputado federal por São Paulo e presidente do PPS (que tem entre seus filiados na Paraíba o vice-prefeito de João Pessoa, Nonato Bandeira, e a deputada estadual Gilma Germano, representante de Picuí), está em franca articulação a favor de Eduardo Campos e movimenta-se para atrair o ex-presidenciável José Serra para o bloco.

Roberto Freire, de acordo com versões fidedignas, teria fechado acordo com Eduardo Campos para voltar a ser candidato a deputado federal por Pernambuco, com a condição de apoiar o projeto do socialista em 2014. Com a possível saída de Serra do PSDB, Freire também poderá abrir mão da presidência do PPS, cargo que exerce há 20 anos, facilitando a evidência de Serra, que poderá vir a ser candidato a governador de São Paulo enfrentando Geraldo Alckmin, companheiro de jornadas dentro do ninho tucano. Prevendo oscilações ou reviravoltas no cenário político, com repercussão nacional, o PT já cogita a possibilidade de convencer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a disputar o governo paulista no próximo ano, num confronto que promete muita emoção. Em inserções veiculadas no horário gratuito no rádio e na TV em São Paulo, Lula dirigiu-se diretamente à população daquele Estado, insinuando que “chegou a hora de cuidar mais de perto de São Paulo”.

Os informantes do “RepórterPB” lembraram, ainda, que na campanha municipal de 2012 o governador Eduardo Campos e o senador Lindbergh Farias (paraibano de João Pessoa) e representante do PT do Estado do Rio estiveram juntos em disputas fluminenses. Lindbergh acalenta a pretensão de ser candidato a governador do Rio pelo PT, enfrentando o vice-governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB, que é apoiado por Sérgio Cabral, atual chefe do Executivo fluminense. O êxito alcançado pelo PSB em cidades como Duque de Caxias, segundo colégio eleitoral do Rio, e Petrópolis, seria resultado da articulação montada entre Eduardo Campos e Lindbergh Farias. No que diz respeito a José Serra, ainda há a possibilidade dele tentar conquistar a presidência nacional do PSDB, mas é remota a chance de vitória. Já lhe foi oferecida a secretaria-geral nacional do partido, e o candidato tucano a presidente será mesmo o senador por Minas Gerais Aécio Neves. A convicção de falta de espaços desejados no ninho tucano estaria induzindo José Serra a considerar fortemente o ingresso no PPS, com o pleno aval de Roberto Freire.

Em meio a todo esse quebra-cabeças, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, jantou em São Paulo com empresários influentes, na casa de Flávio Rocha, dono da “Riachuelo”, e dirigiu estocadas indiretas a petistas sem mencionar nomes. Eduardo Campos enfatizou que o Brasil “não começou ontem” e nem começou com partido A, B ou C, referência a declarações da presidente Dilma e do ex-presidente Lula de que as verdadeiras reformas sociais e econômicas foram implementadas pelos governos do PT que completaram uma década de ascensão ao poder federal. Eduardo Campos afirmou, também, que “dá para fazer muito mais”, o que foi entendido como uma comparação subliminar com as gestões petistas. Pelo menos 60 empresários foram ao jantar na quinta-feira em São Paulo, dizendo-se interessados em “conhecer” Eduardo Campos, que passa a ser tido, na mídia, como fenômeno do cenário político nacional e uma alternativa concreta à candidatura de Dilma à reeleição. O governador de Pernambuco chamou a atenção quando sustentou, no discurso, que há nas elites brasileiras uma grande preocupação com o futuro do país, pelo receio de que as coisas podem piorar. Segundo ele, “os florais aplicados em todas as crises”, desta feita, não funcionaram corretamente.

Em paralelo, o governador socialista criticou o que chama de debate eleitoral maniqueísta. “Fazer crítica não é, necessariamente, ser contra nem ser inimigo”, admoestou, com endereço certo, na interpretação criteriosa de analistas políticos. De concreto, os dados estão rolando. Em tempo: um dos discípulos de Eduardo Campos é o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, também filiado ao PSB, que mantém uma relação respeitosa e institucional com a presidente Dilma Rousseff, a quem recepcionou recentemente no Estado. Ricardo Coutinho é presidente de honra do Partido Socialista na Paraíba e na campanha de 2010 ao governo foi apoiado pelo PSDB, sobretudo pelo senador Cássio Cunha Lima, e pelo Democratas, presidido pelo ex-senador Efraim Morais, que já foi primeiro-secretário do Senado e vice-presidente da Câmara Federal.