O candidato do PRB ao governo do Rio, Marcelo Crivella, disse, em sabatina do GLOBO nesta quinta-feira, que a expansão recente das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) foi uma medida eleitoreira do governo. Entretanto, pretende manter essa estratégia na área de Segurança. Sem esconder que nomeações de superintendentes no Ministério da Pesca tiveram um componente político em sua gestão e que queria evitar perguntas espinhosas, ele reafirmou o voto na presidente Dilma Rousseff, apesar de chamar Marina de “mulher extraordinária” e achar que o PT terá “dificuldade de eleger um novo presidente do Brasil”. No tema LGBT, defendeu a criminalização da homofobia, mas disse que os líderes religiosos precisam ter o direito de achar a homossexualidade pecado.
— Defendo o projeto de lei que criminaliza a homofobia. O quer nós não podemos é criminalizar um pastor por dizer que homossexualismo é pecado. Isso é liberdade religiosa. Crime é agredir, crime é fechar as portas da sua igreja para um homossexual. As pessoas podem expressar a sua fé, de um jeito que não ofenda.
Crivella afirmou ainda não ter preconceitos, justificando que trabalha com homossexuais e que tem um parente com essa opção sexual na família. No entanto, contou que não iria a uma parada gay.
— Não sou homofóbico. Não sou mesmo. Tem pessoas que trabalham comigo e na minha família que são homossexuais, e tenho uma convivência respeitosa. Nós divergimos, mas nos respeitamos. Não irei à Parada Gay, como não obrigarei ninguém a ir na minha igreja, nos meus cultos. E não é o dinheiro deles que me preocupa, não é interesse na economia não, é interesse na pessoa. Para que sejam respeitados como cidadãos. Meu partido tem uma instância e um vereador muito prestigiado que tratam desses assuntos.
SEGURANÇA PÚBLICA
Já quando perguntado sobre o futuro das UPPs, Crivella avaliou que o Estado vive um “momento difícil” e que não é hora de abandonar o projeto, mas acusou o governo do PMDB de usar a expansão do projeto de pacificação nos últimos anos como estratégia eleitoral. Ele disse criticou ainda a falta de efetivo e de mobilidade na Polícia Militar, propondo “grupamentos de motociclistas nos batalhões”.
— A UPP é importante, tem que ser mantida. A nossa civilização fluminense vive um momento tão difícil que nós não podemos nos dar ao luxo de acabar com nada que está dando certo. Mas, sem estrutura, foram fazendo UPPs para todo lado, para ganhar votos. Virou palanque. Não adianta trazer meninos despreparados, os traficantes vão atacar. Essa é a política perigosa.
Apesar dos elogios e da perspectiva de ser aconselhado pelo General Abreu — vice de Crivella — em um eventual mandato, Crivella afirmou que ele não deve ser secretário de Segurança (”não creio que pudesse acumular funções tão importantes”). Apesar de dizer que “um novo governo impõe um novo nome” para a pasta, afirmou não ter “nada contra o [José Marino] Beltrame, secretário de Segurança. Ele disse que um caso como o desaparecimento do pedreiro Amarildo, em julho do ano passado, “desautoriza” um governo, e defendeu mais vigilância sobre as ações policiais em manifestações — alvo de crítica de entidades de direitos humanos.
— Acho que temos que usar uma política de câmera, polícia e ação. As pessoas quando estão sendo filmadas tomam mais cuidado. Nesses confrontos com civis, onde muitos deles não são vândalos, existe uma atividade política que só enriquece a democracia. Se estivessem filmando, isso não teria acontecido. Nada desautoriza mais um governo que um caso como o do Amarildo, quando a polícia lesa a população.
Crivella se disse ainda “pronto para o debate” sobre a desmilitarização da polícia.
— Eu estou pronto para o debate [sobre a desmilitarização da PM]. Não sei se teremos grandes ganhos, mas acho que o debate é válido.
O candidato comentou ainda a prisão do terceiro oficial mais importante na hierarquia da PM do Rio, segundo ele, um reflexo da política no Estado do Rio.
— O terceiro homem [da PM] foi encontrado numa situação calamitosa. E isso é reflexo da política.
DILMA X MARINA
Sobre uma possível aproximação com a presidenciável Marina Silva (PSB) no segundo turno, Crivella afirmou que seguirá apoiando a presidente Dilma Rousseff (PT), apesar de Marina ser uma “mulher extraordinária”. Segundo ele, ser ficha limpa é de fato o que atrai o eleitorado atualmente.
— Ser evangélico não é uma coisa decisiva. As pessoas hoje procuram um candidato Ficha Limpa, aí está o nosso diferencial [dele e de Marina] — avaliou Crivella. — Tem uma cartilha agora da Igreja Católica que pede para os fiéis irem no [site] Transparência Brasil. Eu não tenho um processo. Eu não sou ficha limpa, eu sou “ficha limpinha”. No segundo turno das eleições, eu certamente vou votar na presidenta Dilma. Tenho apreço pela Marina, uma mulher extraordinária. A Dilma também.
Segundo Crivella, uma vez reeleita Dilma, o PT terá dificuldade para continuar no poder em um próximo mandato.
— Eu acho que o PT elege sua presidente Dilma, mas terá dificuldades de eleger um novo presidente do Brasil, porque a democracia brasileira impõe a alternância. Eu vejo a presidente Dilma mais preparada para os momentos difíceis que vamos enfrentar.
MINISTÉRIO DA PESCA
Sobre o fato de 11 dos superintendentes do Ministério da Pesca serem ligados ao PRB, partido de Crivella, o senador afirmou que “as indicações são técnicas”, mas também políticas.
— As superintendências são ocupadas por técnicos, mas com uma indicação política. No Ministério da Pesca, fiz questão de colocar quadros que pudessem respeitar nossos princípios, nossos valores. A primeira coisa que me chamou atenção foi o [gasto com o] Seguro Defeso. O que nós gastávamos no ano anterior à minha chegada, e depois que assumi. Economizamos 380 mil salários mínimos — comentou Crivella.
De acordo com o senador, se eleito, “no Rio de Janeiro, as indicações serão técnicas”.
— No Rio de Janeiro, eu vou fazer as indicações sempre técnicas, mas quero parcerias políticas. Os bons políticos têm que estar ao nosso lado. O Rio de Janeiro não está elegendo o governador para ser o papai sabe-tudo, e sim para fazer um novo marco de poder, um marco institucional. É um momento de ruptura.
Questionado sobre a parceria da Confederação Nacional da Pesca e o Ministério da Pesca – na qual houve denúncias sobre os cadastramento de eleitores – e sobre o fato de o presidente da entidade ter ganho um cargo no PRB, Crivella justificou que “não houve exclusividade” e que não pode impedir ninguém de se filiar ao seu partido.
— Não houve exclusividade para ele. A Confederação é enorme, tem uma capilaridade enorme. Ele veio para o nosso partido. Eu tenho por ele respeito. Ele é da força sindical e defendia causas legítimas, populares. Depois soube que se filiou no quadro do Rio Grande do Norte. Acho que ele deveria ter se filiado a outro partido, e não ao meu. Mas eu não posso impedi-lo de fazer isso.
Crivella afirmou serem “formalidades” o fato de a Controladoria Geral da União ter concluído não havia controle de gestão das superintendências da pasta.
— São formalidades. Precisa contratar mais gente. Mas safadeza, pilantragem, não. Pode ter havido alguma falha — admitiu.
POLÍTICAS SOCIAIS
O candidato negou que tenha intenções assistencialistas com programas como o Cimento Social (de moradia) e o Sou Mais Eu (que ensina música a jovens). Além da Fazenda Nova Canaã, instituição de caridade que Crivella diz tocar com “recursos próprios” na Bahia.
— Na fazenda nova Canaã, já aplicamos R$ 12 milhões com auditoria externa, mas tem ajuda de fora. Tem ajuda da igreja e há também a renda da fazenda, onde plantamos 10 mil pés de pinha. Em um bom ano colhemos um milhão de pinhas. O retorno é em torno de R$ 300 mil. No projeto ” Sou mais eu”, o que eu fiz foi financiar. Comprei materiais e contratei professor. As empresa ajudam com a Lei Rouanet . No morro da Providencia fizemos casa, com tecnologia, fizemos em 3 dias. Cada casa dessa custa R$ 30 mil reais. Ea gente capricha. O projeto foi adotado pela prefeitura. Nunca mais fiz uma casa depois disso.
Crivella afirma que parou de bancar o projeto Cimento Social quando ele foi incorporado pela Prefeitura do Rio.
— Os projetos tem que servir de exemplo. Fiz com a minha família. Depois que a prefeitura começou a fazer as casas eu parei. Espero que o governo use o exemplo da Nova Canaã para a reforma agrária. Eu propus no Congresso as casas, eu precisava fazer para mostrar que era viável. O que eu quero dizer é que nós temos que descobrir os caminhos do nosso progresso e isso depende de boa vontade — disse Crivella, ressaltando que a prefeitura adotou as reformas do Cimento Social “porque achou o projeto bom” — Quando o prefeito fez a primeira casa do Cimento Social eu não fiz mais nenhuma. O Cimento Social é importante. Essas favelas são um monumento hediondo à nossa desigualdade.
O candidato do PRB aproveitou para criticar os gastos do governo atual com propaganda e prometeu destinar essa quantia à Saúde. Segundo ele, a administração do Estado do Rio foi desmantelada por uma “visão tucana”:
— O Estado do Rio de janeiro gasta 300 milhões com propaganda. e quero dizer que vou gastar esse orçamento com a Saúde. É um estado desmantelado na parte administrativa. Não faz concurso para médico, para engenheiro. O estado foi desmantelado por uma visão um tanto tucana, liberal, e deixou de prestar serviços.
CENÁRIO ELEITORAL
Veterano em disputas estaduais e municipais, Crivella explicou o seu diferencial nesta eleição. Segundo ele, está mais maduro e sofrendo menos rejeição por parte do eleitorado.
— Das outras vezes, eu tinha uma rejeição que era a maior de todas e que ia pesando, ficando cada vez maior a partir da decisão das pessoas. Mas essa rejeição era alimentada por por uma imprensa que não me conhecia bem. Um desconhecimento. Tempo é o melhor remédio: dez anos como senador, dois anos como ministro, as pessoas foram percebendo que eu era só um servidor público. Hoje, minha rejeição é menor, meu relacionamento com a imprensa também melhorou.
Ele comentou ainda sua posição nas pesquisas de intenção de voto, nas quais aparece em terceiro lugar — atrás de Garotinho e Pezão.
— Nós estarmos embolados. Para um partido que tem uma estrutura pequena, pouco tempo de televisão e pequenos recursos, é notável.
CORRUPÇÃO
Crivella falou ainda sobre os escândalos de corrupção que vieram recentemente à tona na Petrobras.
— O caso da Petrobras é uma calamidade total, a PF vai investigar e isso ainda vai dar muito amargura. Vi ontem que o depoente não quis falar. Mas para a PF ele falou porque negociou a delação premiada. Lamento que a nossa maior empresa esteja nisso. Lamento muito que políticos da minha terra estejam evolvidos nisso
Ele defendeu que Dilma, dizendo que, na época, ela se tratava de um câncer.
— Eu acho que a presidente Dilma, no momento que era ministra não teve acesso a todos os dados.Isso pode acontecer.O que eu acho precipitado é que enquanto os processo estão correndo e as investigações , nais quais a presidente não interfere nisso. Mas, me lembro que nesse período a presidente Dilma estava em tratamento contra o câncer. Me lembro dela interrompendo reuniões para vomitar no banheiro por causa do tratamento.O presidente Lula a escolheu por duas razões lealdade e competência. Acho que ela cumpre esse requisitos.
Sobre o escândalo do mensalão — Crivella estava no PT na época – o candidato do PRB disse que o escândalo “foi uma surpresa” e “jamais poderia supor” que Bispo Rodrigues, religioso da Igreja Universal e a quem Crivella chamou de “companheiro” estivesse envolvido no esquema.
— Eu jamais poderia supor que um companheiro (Bispo Rodrigues) de tantos anos estivesse envolvido nisso. Foi uma surpresa para nós todos. A partir do momento que tive noção de que aquelas coisas praticadas ocorreram, eu e José Alencar pedimos uma reunião do partido, que ocorreu em Brasília. Eu era líder do Senado. A reunião durou o dia inteiro. A minha tese foi colocada em votação: para que todos se afastassem dos cargos de liderança. O José Alencar não quis votar e eu perdi aquela eleição por 48 votos contra só o meu. Quando saímos dali, eu e José Alencar decidimos que íamos sair do partido e fundar o PRB. Ele com uma idade avançada e um câncer. Colocamos em risco nossas pretensões. É a prova de que minha intenção era a melhor.
Na ocasiao, Crivella chamou Pezao de “clone de Cabral” e de cria do ex-governador. O candidato do PRB disse que o rival tenta passar uma imagem de “humildade” para se afastar da imagem de Cabral, o que ele considerou uma “fraude eleitoral”.
— Quem é o clone do Cabral? O governador Pezão. Cabral teve um cuidado materno com ele, amamentou, trouxe no colo de Piraí até agora. A mãe humilde, o pai humilde, tem um pé grande. Dá uma impressão de que ele é uma pessoa boa. É incrível que isso ocorra. Considero uma fraude eleitoral.
MARACANÃ
Crivella criticou a promessa do rival Anthony Garotinho de quebrar os contratos do Maracanã, chamando-as de “desonestas”.
— Eu vejo essas promessas como a frase “eu vou devolver o Maracanã para o povo” como desonestas. A dona de casa acredita nisso, mas o político está sabendo que nem a justiça vai devolver essa posse. O que a gente pode fazer é usar um artigo da constituição brasileira, reunir os clubes, as pessoas interessadas, e discutirmos até que ponto não podemos implantar a tarifa popular sem comprometer o orçamento. Ou piorar o estádio. Essa promessa (de devolver o Maracanã para o povo) não poderá ser cumprida.
ROYALTIES
Crivella lamentou a divisão dos royalties de petróleo por todos os estados, o que diminui a quantia que fica com o Rio.
— De fato essa questão dos royalties foi um absurdo. Só tínhamos o Espírito Santo ao nosso lado. Encontramos Cabral e montamos uma estratégia para protelar isso, mas não podemos radicalizar. Para minha surpresa, o governador fala ‘não vou deixar vagabundo nenhum botar a mão nos royalties’. Não faz sentido mandar royalties para Brasília, Paraná, Mato Grosso, que têm uma estrutura grande. E aí perdemos. Precisamos aplaudir a nossa presidente Dilma, a alma feminina. A presidente saiu sob vaias, mas sob aplausos da sua consciência. Se tivermos o infortúnio de dividir, ainda haverá recursos para Educação e Saúde.
CULTURA
O candidato voltou atrás em relação a uma medida que, durante a entrevista ao RJ TV, da TV Globo, prometeu adotar: fundir a Secretaria de Cultura com a de Esporte e Lazer. Segundo ele, o Rio tem potencial na indústria criativa e poderia explorar mais a “energia” dos jovens de comunidades pacificadas. Crivella disse que não vai chegar a destinar 1,5% do orçamento para a cultura — como prometeu Lindbergh Farias (PT) — mas disse esperar que ao longo de seu governo, os recursos “dobrassem ou triplicassem”.
— Eu me confundi. Na verdade eu tinha feito um estudo para ter 13 secretarias. A Secretaria de Cultura não seria unida não. E pensei em botar a secretaria de Casa Civil junto com a de governo. Mas a Secretaria de Cultura seria preservada. A secretaria tem poucos recursos hoje, algo em torno de 100 milhões. E tem que aproveitar o vigor, a energia que temos nessas comunidades [pacificadas]. Eu gostaria de que ao longo do meu governo a gente dobrasse ou triplicasse esses recursos.
OUTROS CANDIDATOS
O candidato do PT, Lindbergh Farias, foi o primeiro a ser entrevistado. Ele disse que representa uma “nova forma de governar”, e criticou a atuação do PMDB no estado. Lindbergh também respondeu a perguntas de internautas sobre temas variados, como mensalão e seu governo em Nova Iguaçu.
Já o candidato do PR, Anthony Garotinho, cancelou sua participação na sabatina por motivos de saúde. Após uma intensificação na agenda de campanha, ele se sentiu indisposto na segunda-feira, e passou a cancelar os compromissos. Em nota enviada à redação na noite de terça-feira, o ex-governador disse que sofre de uma virose, “que tem provocado, além de febre alta, indisposição física e sinais evidentes de cansaço”.
A entrevistado com o governador Luiz Fernando Pezão, candidato à reeleição pelo PMDB, está prevista para sexta-feira, também às 10h.
O Globo