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Campanha de Bolsonaro mente sobre mobilização de mulheres contra o candidato no Facebook

Enquanto grupo era atacado e chegou a sair do ar, filho de candidato e vice divulgaram informações falsas

Marcha feminista em São Paulo.
 

Alvo de uma série de ataques cibernéticos ao longo do fim de semana, o grupo “Mulheres unidas contra Bolsonaro” no Facebook foi reativado na tarde deste domingo. As responsáveis pela iniciativa, que chegou a sair do ar na noite de sábado e por algumas horas no domingo, disseram ter prestado queixa à polícia sobre a ofensiva, que envolveu ameaças pessoais e violação de dados. Enquanto os ataques aconteciam, nomes ligados à campanha de Jair Bolsonaro disseminavam informações comprovadamente falsas a respeito da mobilização que reúne mais de um milhão de integrantes ativas contra o candidato de extrema direita do PSL.

Na tarde de sábado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro divulgou em sua conta oficial no Facebook acusações sem qualquer prova contra o grupo e suas criadoras. Em uma mensagem, o parlamentar candidato à reeleição, que é filho de Jair Bolsonaro, divulgou um texto em que acusava o jornal britânico The Guardian de espalhar fake news sobre a mobilização digital contra o presidenciável. Segundo ele, “uma página qualquer do Facebook tinha 1 milhão de seguidores quando foi vendida para a esquerda. Então, sem qualquer vergonha, eles mudaram o nome dela para ‘Mulheres Unidas Contra Bolsonaro’ e saiu alardeando por aí que havia uma onda de mulheres contra o presidenciável”. Apesar da confusão entre os termos “página” e “grupo”, a referência fica clara mais adiante no texto: “Resultado: a página contra Bolsonaro está em queda vertiginosa, tanto que passou a ser página privada e em resposta foi criada a página MULHERES COM BOLSONARO #17 (OFICIAL), que já conta com mais de 1.100.000 seguidoras”. A publicação gerou mais de 15 mil reações, majoritariamente positivas, 20 mil comentários e 3,2 mil compartilhamentos. O conteúdo também foi publicado na conta oficial de Eduardo Bolsonaro no Twitter, onde recebeu 1.888 retuítes, 6.405 curtidas e 718 comentários.

O grupo “Mulheres Unidas contra Bolsonaro” foi criada em 30 de agosto e jamais havia mudado de nome até ser hakeada, segundo o Facebook, que foi consultado por um conjunto de meios de comunicação que verificam boatos que circulam nas redes. Ainda assim, também no sábado, o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, Hamilton Mourão, deu declarações com o mesmo teor de Eduardo Bolsonaro: “Essa rede aí que apareceu dizendo que tinha 800 mil mulheres contra o Bolsonaro, a gente sabe que aquilo ali é uma coisa fake. Ela era um site, foi comprado por um grupo de opositores e que se apropriou daquilo ali. Essa é a realidade e nós estamos até aprofundando os nossos dados sobre isso”, disse em declarações publicadas pelo jornal A Crítica, de Manaus.  O título da reportagem “Grupo de mulheres contra Bolsonaro no Facebook é ‘fake’, diz vice em Manaus”, que não contesta a afirmação, teve expressivo compartilhamento.

Escalada dos ataques e Twitter

Tanto as moderadoras quanto as administradoras da mobilização contra Bolsonaro no Facebook  dizem ter recebido ameaças não só no Facebook como também em suas contas de WhatsApp (a rede de mensagem instantâneas pertence ao Facebook). As mensagens ameaçavam expor dados pessoais como CPF, nome da mãe, dados de conta bancária da administradora M.M. caso o grupo não fosse retirado do ar até a meia noite daquele dia. Os responsáveis pelo ataque também invadiram a conta da administradora no Facebook, o que os permitiu alterar o nome do grupo para “Mulheres com Bolsonaro”, causando confusão entre as participantes. Algumas pessoas passaram a recomendar a saída do grupo, enquanto outras pediam calma e alertavam sobre o ataque.

Na noite de sábado, a conta da administradora L.T. foi invadida e os responsáveis pelo ataque passaram a divulgar mensagens ofensivas às mulheres do grupo. Em seguida, o nome e a identidade visual grupo votaram a ser alterados, tornando-o similar ao oponente “Mulheres Com Bolsonaro #17 (OFICIAL)”, celebrado pelo próprio Jair Bolsonaro no Twitter. Na disputa pelo nome do grupo, as demais moderadoras e administradoras foram excluídas e, por volta da meia noite, o grupo saiu do ar. Ainda na madrugada, o Facebook informou por meio de sua assessoria de imprensa que  estava “trabalhando para esclarecer o que aconteceu e restaurar o grupo às administradoras”.

Mesmo após a restauração do grupo, já no domingo, o perfil da administradora L.T. voltou a ser invadido, novas postagens ofensivas foram postadas no canal por meio de perfil. No começo da noite, a situação foi normalizada e seguia sem contratempos até a publicação desta reportagem.

No Twitter, os ataques produziram uma forte reação que extrapolou os grupos mais assíduos em defesa dos direitos das mulheres e trouxeram para o debate celebridades como a atriz Deborah Secco. Do sábado até a tarde deste domingo, a mobilização das mulheres em reação aos ataques produziu 185.698 postagens com as hashtags da campanha, que permanecerem entre os assuntos mais comentados da rede durante todo o dia. Fora mais de 58 mil perfis envolvidos engajados com as hashtags críticas à Bolsonaro como #mulherescontrabolsonaro, #elenao e #elenunca. Um grupo de apoiadores do candidato tentou se apropriar das hashtags, mas a estratégia não teve sucesso. Os 2.581 perfis que fazem parte da rede em defesa de Bolsonaro representam apenas 5,85% da rede de interações que se formou no microblogue no período.

A mobilização nas redes é um trunfo de Bolsonaro que, além de liderar as pesquisas de opinião com até 26% das intenções de voto, é o candidato com mais seguidores nas plataformas digitais. O grupo de mulheres contra o capitão reformado no Facebook é uma ofensiva para tentar transformar em palpável a rejeição recorde de Bolsonaro nesta parcela da população. Agora, o movimento convoca para atos de rua. O agendado para 29 de setembro no Largo da Batata, em São Paulo, conta com 59 mil confirmações e outras 200.000 pessoas interessadas. No Rio de Janeiro, a convocatória para a Cinelândia conta com 31 mil confirmações e 64 mil pessoas interessadas e em Porto Alegre (RS) conta com 15 mil confirmações e 33 mil pessoas interessadas. As manifestações também foram convocadas em diversas outras cidades pelo país.

Fonte: El País
Créditos: El País