Afasta de mim

CÁLICE: canção de Chico Buarque embala manifestações contra fim do MinC em SP

Cerca de 300 artistas e ativistas de movimentos sociais se reuniram em frente à Funarte nesta quinta (19)

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Repetida diversas vezes, a música “Cálice”, de Chico Buarque, subitamente cessa. Em seu lugar, uma voz anônima no carro de som diz: “A extinção do Ministério da Cultura inviabiliza a formação do pensamento crítico”. É ovacionada.

Às 18h45, com uma temperatura de 14°C, cerca de 300 artistas e integrantes de movimentos sociais aglomeram-se em frente à representação da Funarte em São Paulo, ocupada desde terça (17).

Discursos breves se sucedem. São criticas ao fim do Ministério da Cultura – que não querem de volta, pois “não servia a nós” -, exigências de saída do presidente interino Michel Temer, clamores pelo fim da morte de negros, louvores às artes. Entre as falas, instala-se um minuto de silêncio pelos mortos na ditadura.

No meio da multidão, artistas de terno usam máscaras de políticos e, num exercício de ironia, empunham cartazes pelo fim da CGU, pela redução de morarias populares, pelo corte do Bolsa Família.

Às 19h20, começam a caminhada até a esquina famosa da música de Caetano Veloso, av. Ipiranga com a av. São João. Mas o som que os acompanha é “Cálice”.

No trajeto de 1,3 quilômetro, os manifestantes entoam palavras de ordem: “Fora, Temer”, “Aha, uhu, a cultura é nossa”, “Vem pra rua, vem, pela cultura”. Das sacadas dos prédios na São João, moradores acenam e piscam as luzes dos apartamentos.

No fim da massa de manifestantes –que aumentou para aproximadamente 500–, três viaturas da polícia militar e duas motos da Rocam acompanham o protesto.

Em frente a uma unidade da Igreja Internacional da Graça de Deus, os artistas param para deixar um recado: “As bi, as gay, as trava e sapatão, unidas pra fazer revolução”. Nesta hora, dois soldados da PM abordam o carro de som ao fim da manifestação. Por ser um caminho na contramão, o carro de som deve deixar a passeata.

Às 19h50, os manifestantes chegam à esquina. Tanto a avenida São João quanto a Ipiranga estão apinhadas de carros e motos, que buzinam.

No cruzamento fechado por cones e um cordão humano, o grupo de artistas mascarados faz uma encenação em que representam políticos. Propõem pautas apresentadas pelo governo interino e são vaiados.

As vaias deixam passar despercebidos os xingamentos de um senhor que, da esquina, chama o grupo de “bando de filhos da p…”.

Algumas mulheres tiram a blusa e, com os seios à vista, gritam” golpistas, fascistas, não passarão”. Todos aplaudem.

Ouça:

https://www.youtube.com/watch?v=RXjH1w5gTdc

Fonte: Folha
Créditos: Rodolfo Viana