Calamidade no campo

Rubens Nóbrega

Quem acompanhou a campanha eleitoral do ano passado deve lembrar que o então candidato a governador Ricardo Coutinho convenceu muitos eleitores de que faria uma ‘revolução no campo’, se eleito.

A revolução viria com o fortalecimento da agricultura familiar e do mercado agropecuário interno, inclusive porque o Estado transformar-se-ia no maior comprador dos nossos produtores agrícolas.

Com a Nova Paraíba, os agricultores também teriam acesso à tecnologia, ensino profissionalizante e crédito assistido, conforme ensina a clicheria de tantas campanhas pelo voto e poder no Estado.

A vitória de Ricardo em 2010 significa que ele realmente conseguiu convencer muita gente de que daria aos paraibanos uma Nova Paraíba, começando pela anunciada revolução no campo.

Entre os que acreditaram no atual governador estava Antônio Carlos Ferreira de Melo, professor aposentado da UFPB e ex-coordenador do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) na Paraíba durante o Cássio I ou II.

Antônio Carlos não apenas acreditou, como votou, ajudou a eleger e se dispôs a colaborar com o novo governo, sendo nomeado inicialmente para um cargo direção na Vigilância Sanitária Estadual.

De onde sairia após dois meses. Motivo: recusou-se a demitir técnico experiente e competente do órgão sobre o qual pesava a suspeita de ter cometido o crime de não ter votado em Ricardo Coutinho.

Mesmo assim, o professor foi chamado para uma conversa na Casa Civil e terminou aceitando continuar colaborando com o Ricardo I.

Foi designado, então, para trabalhar na Defesa Agropecuária.

Tentou, tentou e tentou… Três ou quatro meses pelejando, sem ver resultado algum, Antônio Carlos convenceu-se de outra coisa: esse é um governo de muita conversa e pouca ou nenhuma ação.

Desligado da Nova Paraíba, o Professor resolveu tornar públicas as críticas que deve ter feito internamente à estagnação do setor primário na Paraíba em razão da inércia governamental nessa área.

As críticas estão contidas na avaliação que o Professor fez sobre o governo em mensagem dirigida ao colunista, mensagem que reparto com os leitores no tópico seguinte.

A mensagem de Antônio Carlos foi enviada ontem ao governador do Estado e auxiliares aos quais pedi – e não obtive mais uma vez – informações e esclarecimentos sobre o conteúdo que encerra gravíssimas denúncias. Confiram.

Cadê a ‘revolução no campo’?

Caro Rubens Nóbrega, como paraibano aguardo até hoje a tão propalada Revolução no Campo que o nosso Governador prometeu durante a campanha e sobre a qual tem falado muito ultimamente.

O que temos assistido é uma verdadeira inércia da Secretaria da Agricultura, que concretamente não apresentou até agora nenhuma ação que venha beneficiar o setor rural.

A realidade mostra apenas uma infinidade de reuniões, sem definição de nada, sem apresentar sequer um planejamento, que pelo menos aponte para um horizonte positivo.

Podemos citar como exemplo a situação da Defesa Agropecuária, que ultimamente foi beneficiada com gordos recursos de convênio com o Ministério da Agricultura, mas não vem executando as ações programadas no citado convênio, correndo o risco de perder as verbas.

Essas ações não vêm sendo executadas porque instalou-se na Defesa um clima de desânimo, insegurança e desestímulo em seus funcionários, que tiveram gratificações cortadas e, principalmente, a falta de confiança naqueles que estão no comando da Secretaria.

Veja, meu caro, que tivemos uma campanha de vacinação da febre aftosa, encerrada em 31 de maio deste ano, e até esta data não conhecemos qual foi o percentual de vacinação, que deveria ter sido apresentado ao Ministério da Agricultura desde 30 de junho passado.

Significa que o Estado está inadimplente e fui informado hoje por técnicos da Defesa que só Deus sabe quando iremos apresentar aqueles resultados.

Podemos citar também a situação calamitosa da Emater, que teve desde janeiro de 2011 vários escritórios fechados e com isso não vem prestando assistência técnica de qualidade àqueles que mais precisam, que são os agricultores familiares.

Muitos desses agricultores, inclusive, estão com dificuldade para conseguir crédito subsidiado no BNB e no Banco do Brasil, porque não obtêm da Emater a Declaração de Aptidão ao Pronaf.

Temos ainda a situação dos projetos de irrigação das Várzeas de Sousa, que não saem do papel, e o Programa do Leite, também em visível declínio, além das minguadas aplicações de créditos do Pronaf.

Bem, se a revolução prometida for essa, temo que ela será – como já está sendo – tremendamente prejudicial aos que vivem e dependem do campo na Paraíba.

Atenciosamente, Antônio Carlos Ferreira de Melo.