Burity, “quase” ministro do STF

Nonato Guedes

O ex-governador da Paraíba Tarcísio Burity, falecido em 2003, chegou a ser cogitado para ocupar uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) nos primeiros meses de 90. Vivendo seu último ano do segundo mandato à frente do Palácio da Redenção, enfrentando dificuldades com a Assembleia e problemas de ordem administrativa, ele decidira não concorrer a qualquer posto nas eleições daquele ano. Em Brasília, num jantar no apartamento do ministro da Justiça, Bernardo Cabral, este teria dito que iria lutar para que Burity fosse nomeado ao STF depois de deixar o governo. A inconfidência foi testemunhada pelo advogado Johnson Abrantes, ex-assessor especial do Governo da Paraíba, presente ao jantar com Cabral. Segundo ele, o então ministro fizera muitos elogios a Burity, considerando-o um homem de grande conceito.

Cabral tomou posse numa cerimônia concorrida que atraiu vários políticos paraibanos. Johnson o conhecia desde o primeiro governo Burity, quando participou de um Congresso nacional da OAB em Manaus, representando o governador, de quem era chefe de gabinete. Cabral, no período, era secretário geral da Ordem dos Advogados. Tempos depois, Johnson foi um dos articuladores da presença de Bernardo em João Pessoa para atuar como debatedor num Congresso de Filosofia do Direito. No jantar no apartamento localizado na superquadra 302 Norte, em Brasília, o ministro rev elou a Johnson ter sido informado das dificuldades de Burity para concorrer a um mandato nas urnas. O presidente da República era Fernando Collor de Mello, a quem Burity apoiou, tendo rompido com ele após o fechamento do Paraiban. Uma articulação política que estava sendo montada em Brasília previa a candidatura do senador Raimundo Lira ao governo, com o apoio decidido de Burity, que seria, então, remanejado para o Supremo.

Lira chegou a dar declarações salientando o prestígio de Burity no “staff” collorido, pela sua lealdade na campanha do candidato do PRN no primeiro e segundo turnos. Isto levava Lira a concluir que não haveria obstáculos para uma nomeação do governador. O senador chegou a pedir autorização ao governador para trabalhar seu nome, mas Burity pediu tempo para amadurecer a hipótese. Burity chegara a se encontrar com Collor, em véspera de carnaval, no chamado “Bolo de Noivo”, onde ficava o escritório de transição do novo presidente, o que fortaleceu os rumores de que teria sido abordada a sua convocação para o Supremo. Burity encarregou-se de colocar uma ducha fria nas especulações, informando, de Brasília, que não estava lutando para conseguir a referida vaga e classificando de boato o noticiário em torno do assunto. Ele fora assistir à posse de Collor e diante da alegação deste repórter de que sua cotação era forte no “Bolo de Noiva”, ironizou: “Se pelo menos fosse junto ao dono da noiva…” Ele ainda acalentava pretensões políticas, como a de concorrer ao Senado, mas referia-se a dificuldades para se desincompatibilizar do cargo diante da instabilidade política na Paraíba, provocada pelo conflito com a Assembleia Legislativa. Sem dispor de vice, já que Raymundo Asfora falecera às vésperas da posse, Burity temia ser substituído por “xiitas” do Legislativo nos 30 primeiros dias subsequentes à desincompatibilização. Nesse caso, estaria na iminência de entregar o poder aos adversários, o que não gostaria de fazer. No final das contas, nem Burity disputou o Senado nem foi nomeado ministro do Supremo Tribunal.