Joaquim Barbosa concedeu uma entrevista a Mônica Bergamo na Folha desta quinta. O trabalho da entrevistadora foi impecável. As respostas do entrevistado trazem uma das maiores quantidades de bobagens por centímetro quadrado dos últimos tempos.
Mas deve ser vista e percebida muito além do conteúdo imediato. Trata-se da fala de um pré-candidato. Os tempos, dados a metafísica influente e o trabalho contínuo, cotidiano e dedicado de idiotas e oportunistas, produzirão muitas vozes assim.
Eu ia escrever aqui que o circo de 2018 está se armando. Mas seria injusto com os profissionais desse ramo. Escolho outra imagem: o hospício de 2018 está se anunciando.
Barbosa já foi o Sergio Moro da esquerda e da direita. Sua figura passou por evoluções curiosas. No pré-mensalão, ele era considerado o “negro de ouro do PT” e simbolizaria o novo poder. Afinal, lá estava um “afrodescendente” no Supremo. Por razões técnicas e conceituais, houve alguns embates muito duros entre o então ministro e Gilmar Mendes, que permanece na Casa.
Eram tempos em que os petralhas mandavam nas redes sociais, com a popularidade de Lula costeando os 80%. Os vermelhos o transformaram em herói. Era o “nosso (deles) negro” contra a “elite de olho azul”. Era o “nosso (deles) Barbosa contra o Gilmar deles (que seria nosso…)”.
Mas aí Barbosa virou relator do mensalão. O PT tentou cobrar do ministro a fatura. Não lhe foi dito deste modo, mas o sentido era este: “Bem, botamos um negro do Supremo; chegou a hora de você nos pagar, beijar a nossa mão…”.
Barbosa, justiça se lhe faça, repudiou o assédio, deu-lhes uma solene banana e não promoveu, em seu relatório, a sugestão de absolvição em massa. Muito pelo contrário. Aí o PT o transformou num demônio, o que fez com que Barbosa virasse herói dos antipetistas.
Bem, queridos, o meu arquivo está aí. Mesmo no auge do mensalão, procurem saber quantas vezes tratei o então relator como Deus. Muito pelo contrário: eu apontei o que considerava suas fragilidades técnicas e conceituais quando ele era o queridinho dos petralhas e quando era o queridinho dos antipetralhas.
Não estou preparado para adorar humanos. Se e quando cometem erro, aponto.
A entrevista
É claro que Barbosa está testando a viabilidade de uma candidatura, seja à Presidência da República, seja ao governo do Rio.
Na entrevista, o ex-ministro do Supremo tenta surfar na insatisfação dos brasileiros, diz que o impeachment foi uma “operação Tabajara”, compra a tese petista de que os políticos estavam apenas tentando conter a Lava Jato, diz que se mexeu no pilar fundamental do país que é a Presidência, que o Congresso entrou em conluio com o vice e vai por aí…
Num dos momentos mais eloquentes de suas bobagens, afirma:
“Os cientistas políticos consolidaram o pensamento de que o presidente depende do Congresso para governar. E não é nada disso. Uma das características da boa Presidência é a comunicação que o presidente tem diretamente com a nação, e não com o Congresso. Ele governa em função da legitimidade, da liderança, da expressão da sua vontade e da sua sintonia com o povo. Dilma não tinha nenhum desses atributos.”
Nesse retrato, caberiam Hitler e Mussolini. Inclusive no que diz respeito à repulsa aos políticos.
Ao ler a entrevista de Joaquim Barbosa e constatar o que escrevi sobre ele neste blog, fico muito feliz de não ter batido palma para doido dançar, como fazem alguns oportunistas hoje em dia, com os Joaquins Barbosas da hora.
Todos esses que hoje vociferam contra políticos estão fazendo, queiram ou não, uma aposta: a de que 2018 será a hora de muitos Barbosas…
Se os políticos continuarem a ser a Geni do Brasil, também não haverá reformas.
Chegaremos com um país quebrado, em pandarecos, com uma fila de malucos que julgam falar com seres de outro mundo.
Não se enganem. Países não fecham as portas. Mas podem piorar infinitamente.
Fonte: VEJA
Créditos: Reinaldo Azevedo