avaliação com 30 países

DESIGUALDADE SOCIAL: Brasileiros mais pobres demorariam nove gerações para atingir a renda média do país

Brasil só perde para a Colômbia na comparação

Entre as grandes economias do mundo, o Brasil é um dos piores países para se subir na escala social. De acordo com estudo divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) nesta sexta-feira, um brasileiro nascido entre os 10% mais pobres da população levaria nove gerações para atingir a renda média do país. Esse tempo é o segundo maior entre as trinta nações pesquisadas, superado apenas pelo da Colômbia – onde a proeza demoraria 11 gerações, ou pelo menos 300 anos – e empatado com a África do Sul. Entre os 24 membros da OCDE (integrada sobretudo por países ricos e da qual o Brasil não faz parte), a média é de 4,5 gerações.

Na Dinamarca, país melhor posicionado entre os pesquisados, duas gerações seriam suficientes; na vizinha Argentina, estima-se seis. De acordo com o estudo, os países que estão na lanterna do ranking são aqueles com alta desigualdade social e baixa mobilidade de renda. Entre as nações pesquisadas, o Brasil tem o segundo maior índice de desigualdade e a terceira menor mobilidade de renda entre as gerações.

As previsões feitas pela OCDE só se concretizariam, é claro, se as condições encontradas hoje para esses indicadores se mantivessem estáveis pelas próximas décadas.

“Em termos de rendimento através das gerações, a persistência inter-geracional é de cerca de 40% entre a média dos países da OCDE, contra menos de 20% nos países nórdicos e mais de 70% em alguns países emergentes. Esses números significam que se um pai rico tem o dobro da renda de outro pai, o filho do mais rico ganharia 40% mais que o filho do mais pobre na média dos países da OCDE. Enquanto isso, a proporção seria de apenas 20% mais na Finlândia e 70% mais no Brasil”, escreveram os pesquisadores.

O estudo pondera, porém, que o Brasil fez progressos nas últimas duas décadas e se destaque entre alguns dos países emergentes. O estudo citou como benéficas algumas iniciativas adotadas pelo governo brasileiro, como o Bolsa Família e a política de cotas para estudantes negros e pobres em universidades públicas.

“O Brasil, por exemplo, conseguiu reduzir a desigualdade de renda desde o começo dos anos 2000. Por outro lado, China, Indonésia e África do Sul se tornaram mais desiguais ao longo do tempo e agora apresentam níveis muito acima da média da OCDE, embora a trajetória da desigualdade na China pareça ter se estabilizado recentemente”, explicou.

O levantamento da OCDE concluiu, porém, que, em escala global, a mobilidade social desacelerou, enquanto aumentou a perpetuação de riqueza através das gerações.

“Famílias e comunidades em vários países parecem estar presas nos degraus inferiores da escada social, particularmente desde o começo dos anos 1980. Isso significa que as crianças nascidas no piso da distribuição de renda têm menos chances de subir e melhorar seus status ocupacionais e sua renda do que seus pais e gerações anteriores”, escreveu Gabriela Ramos, diretora do gabinete do secretário-geral da OCDE. “A renda dos seus pais será um dos principais fatores, ou mesmo o principal, para explicar suas próprias rendas, pesando 38% na média da OCDE e até 70% em alguns países.”

Fonte: O Globo
Créditos:  RENNAN SETTI