Meu tio Humberto me mostrou Gershwin. Começou – claro! – pela Rapsódia in Blue, mas não ficou somente nela.
Muitos anos depois foi que Kaplan conversou comigo sobre “Gershwin é Nova York, Nova York é Gershwin”.
Lennon me pegou com aquele rock visceral: “Que pasa, New York? Que pasa New York?”.
Simon, com a doçura da melodia de American Tune.
E os versos? A Estátua da Liberdade navegando para o mar, e ele – o songwriter – a sonhar que estava voando.
Ou a Estátua da Liberdade vista pelo menino no navio de imigrantes, ao som de Nino Rota.
Mas o impacto definitivo veio numa sessão noturna do Cine Tambaú: o cinema e a música naquela telona, as imagens e os sons de West Side Story. Não havia só Gershwin. Agora havia também Bernstein.
Todos foram para Nova York ou vieram de lá.
Os homens e as mulheres do jazz.
Os cantores e as cantoras que passaram pelo palco do Teatro Apollo. O “Apollo of freedom” do verso de Lennon.
Os judeus como Gershwin e Bernstein.
Os italianos do cinema, como Scorsese.
Ou da música e do cinema , como Sinatra.
“New York, New York! It’s a hell of a town!”.
Um Dia em Nova York.
Sonhei com vários dias.
A vida toda.
Estudei os mapas com afinco.
Nunca fui.
Talvez morra sem ir.
*****
Bolsonaro não vai mais a Nova York.
O prefeito não quis.
O senador do Partido Democrata não quis.
O museu não quis.
O restaurante não quis.
O hotel ficou em dúvida.
Os patrocinadores começaram a chiar.
O presidente brasileiro é racista?
O presidente brasileiro é homofóbico?
O presidente brasileiro é machista?
O presidente brasileiro defende a tortura?
O presidente brasileiro é tudo isso?
Meus Deus! Que presidente o Brasil tem!
Nova York não quer Bolsonaro!
Nova York não ama Bolsonaro!
Nova York amava Tom Jobim!
Ainda bem!