Com uma extensa lista de declarações e atitudes polêmicas nos seus 30 anos de vida pública, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) busca provar na Justiça, nas redes sociais e em entrevistas que não é racista, homofóbico ou misógino.
Para isso, usa vídeos amistosos com amigos negros, como o relato de que salvou um colega negro da morte em 1978, e a troca de amabilidades com o costureiro e deputado Clodovil, morto em 2009, entre outros recursos.
A acusação de racismo contra o deputado tomou corpo em 2011 quando, em entrevista ao programa CQC, da TV Bandeirantes, respondeu que não iria discutir “promiscuidade”. Era uma resposta a uma pergunta da cantora Preta Gil sobre como ele reagiria caso um filho seu se apaixonasse por uma negra.
Após a veiculação do programa, o parlamentar disse que tinha entendido “gay” no lugar de “negra”.
O caso foi arquivado no Supremo, sob o argumento de que Bolsonaro goza de imunidade parlamentar e porque a emissora não forneceu a gravação original, sem edição, que permitisse juízo de valor sobre a possibilidade de engano em relação à pergunta.
No ano passado, nova polêmica. Em discurso no clube Hebraica, afirmou: “Eu fui em um quilombola [termo correto é quilombo] em Eldorado paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais”.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou no último dia 12 denúncia por racismo ao Supremo Tribunal Federal.
Bolsonaro nega ser racista e tem repetido o apelido do sogro, “Paulo Negão”, como um dos argumentos a seu favor. Ele e seus aliados também veiculam vídeos em que é elogiado por negros, um deles pelo jogador de futebol Somália.
No livro que escreveu sobre o pai (“Bolsonaro, Mito ou Verdade”), o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) relata que no ano de 1978 o hoje presidenciável salvou um colega de morrer afogado. “Negão Celso”, como era conhecido, havia caído na água durante uma prova militar.
“Rapidamente, Bolsonaro arrancou a gandola, os coturnos e pulou na água para resgatá-lo. […] Uma evidente prova de ‘racismo’ de Bolsonaro já nos tempos da caserna”, ironizou Flávio.
O rótulo de homofóbico Bolsonaro diz ter ganho por combater a partir de 2011 o que a bancada religiosa na Câmara batizou de “kit gay”, a distribuição de material sobre diversidade sexual nas escolas.
Em debate na Câmara em 2012, ele afirmou: “A tropa de homossexuais, agora, está batendo em retirada do campo de batalha. São heterofóbicos. Quando veem um macho na frente eles ficam doidos. […] Homossexualismo… Direito… Vai queimar tua rosquinha onde tu bem entender, porra!”
Bolsonaro coleciona, antes e depois do kit gay, declarações contrárias a homossexuais e troca de ofensas com o colega Jean Wyllys (PSOL-RJ), que é homossexual.
Agora, afirma combater apenas o que chama de apologia gay nas escolas, que se dá bem como homossexuais e que até já contratou assessor gay.
“Ao contrário do estereótipo equivocado que o réu tenta imputar ao autor, este vê e trata homossexuais como seres humanos normais, detentores de direitos e obrigações”, diz peça de ação por danos morais que ele move contra o apresentador Marcelo Tas, que em entrevista o chamou de racista e homofóbico.
No mesmo documento, é relatado aparte elogioso feito por Bolsonaro, no plenário da Câmara, a Clodovil, que era homossexual. “Eu respeito a sua pureza, a sua inocência.”
“Um homofóbico iria à tribuna para elogiar, afagar e prestigiar um colega homossexual?”, pergunta sua defesa.
Em relação às mulheres, o presidenciável responde a duas ações penais no STF sob acusação de incitação ao estupro e injúria contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Ele afirmou numa discussão –e, depois, em entrevista e pronunciamento – que não estupraria a parlamentar porque ela não merece.
O presidenciável defendeu em 2014, em entrevista ao jornal Zero Hora, o pagamento de salário mais baixo às mulheres, já que elas engravidam.
Advogado de Bolsonaro e presidente de seu novo partido, o PSL, Gustavo Bebianno diz que as acusações são injustas. “Ficam inventando essas bobagens, dando destaque a bobagens, como se tratasse de coisa séria. O Jair não é racista, tem 500 amigos negros”, afirma.
Sobre Maria do Rosário, diz que foi só um bate-boca infantil. “Ele respondeu no calor das emoções. De cabeça fria teria outra atitude.”
O que o presidenciável ou sua defesa falam sobre suas frases polêmicas
MULHERES
“Entre um homem e uma mulher jovem, o que o empresário pensa? ‘Poxa, essa mulher tá com aliança no dedo, daqui a pouco engravida, seis meses de licença-maternidade. (…) Por isso que o cara paga menos para a mulher. (…) Eu sou um liberal, se eu quero empregar você na minha empresa ganhando R$ 2 mil por mês e a Dona Maria ganhando R$ 1,5 mil, se a Dona Maria não quiser ganhar isso, que procure outro emprego! O patrão sou eu”
– 2014, em entrevista ao jornal Zero Hora
“Eu não empregaria [homens e mulheres] com o mesmo salário. Mas tem muita mulher que é competente”
– 2016, em entrevista à apresentadora Luciana Gimenez na RedeTV!
“Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias tu me chamou de estuprador no Salão Verde e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fica aqui para ouvir”
– 2014, em discurso no plenário da Câmara
“Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens. A quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”
– 2017, em palestra no clube Hebraica, no Rio
O QUE DIZ ELE E SUA DEFESA
– Afirma não ser misógino
– que está protegido pela imunidade parlamentar em relação às suas opiniões, palavras e voto
– No caso da defesa de que mulher ganhe menos do que homem, diz que que estava explicando a situação do empresário brasileiro, não dando uma opinião pessoal
– Sobre o caso do estupro, afirma que foi chamado de estuprador pela deputada e que apenas reagiu à agressão
GAYS
“Se o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, [ele] leva um couro e muda o comportamento dele”
2010, em entrevista à TV Câmara
“O comandante Jean Wyllys abandonou a tropa de homossexuais. E a tropa de homossexuais, agora, está batendo em retirada do campo de batalha. São heterofóbicos. Quando veem um macho na frente eles ficam doidos. (…) Homossexualismo… direito… vai queimar tua rosquinha onde tu bem entender, porra!”- 2012, em sessão da Câmara que discutiu a chamada “cura gay”
“Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”- 2011, em entrevista à revista Playboy
“A sociedade brasileira não gosta de homossexual”- 2013, em entrevista ao comediante inglês Stephen Fry
“Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater”- 2002, em entrevista à Folha
O QUE DIZ ELE E SUA DEFESA
– Afirma não ser homofóbico
– Diz apenas combater a veiculação de conteúdo educacional sobre diversidade sexual nas escolas
– Diz já ter tido assessor gay e aponta um aparte elogioso que fez ao deputado Clodovil (1937-2009) como prova de que não é homofóbico
NEGROS
“Eu fui em um quilombola em El Dourado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais”- 2017, em palestra no clube Hebraica, no Rio
“Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu”- 2011, em entrevista ao CQC, respondendo a uma pergunta gravada de Preta Gil sobre o que ele faria se um filho seu se apaixonasse por uma negra
O QUE DIZ ELE E SUA DEFESA
– Afirma não ser racista
– Que está protegido pela imunidade parlamentar em relação às suas opiniões, palavras e voto
– Sempre repete que seu atual sogro (pai da sua terceira mulher) se chama “Paulo Negão”
– Em 1978, salvou um colega soldado, “Negão Celso”, de morrer afogado durante um treinamento. “Uma evidente prova do ‘racismo’ de Bolsonaro já nos tempos de caserna”, ironizou o filho Flávio no livro que escreveu sobre o pai
- Sobre o caso do CQC, afirma ter entendido errado a pergunta (teria ouvido “gay” no lugar de “negra”). O caso foi arquivado no STF sob o argumento de imunidade parlamentar e a falta da gravação original, sem edição, que permitisse juízo de valor sobre a possibilidade de engano em relação à pergunta
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Ranier Bragon