Bastidores da imprensa

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Nonato Guedes

A revista “Jornalismo & Cultura” faz uma triagem inicial de 25 livros sobre a história da imprensa, recomendando-os a estudantes e profissionais que queiram se aprimorar. Alguns dos livros constam da minha lista particular, outros não cheguei a ler. Entre os recomendados, concordo que “O Grande Livro do Jornalismo”, de James E. Morris, é especialmente instigante, porque resgata textos literários de densidade. São 55 textos curtos que cobrem desde o rumoroso Caso Dreyfus, no século 19, à Guerra do Iraque. Os textos são assinados por escritores como Charles Dickens, Mark Twain, Norman Mailer, John Reed, George Orwell, Gore Vidal, John Steinback,  entre outros. Não li, ainda, “Clarice Lispector Jornalista”, que disseca a produção de uma das mais importantes escritoras brasileiras de todos os tempos quando, por necessidade de sobrevivência, teve que trafegar pelo jornalismo entre as décadas de 1940 e 1950.

“Chatô, o Rei do Brasil”, de Fernando Morais, é uma das mais profundas narrativas sobre o paraibano que construiu o império dos “Diários Associados” e protagonizou situações mirabolantes em cenários requintados do poder, no Brasil e no exterior. “Cobras Criadas”, de Luiz Maklouf de Carvalho, é uma obra brilhante e irretocável sobre a consolidação do jornalismo de massa no Brasil após a Segunda Guerra Mundial, narrando a história do polêmico David Nasser e a trajetória da revista “O Cruzeiro”. Há sugestões para todos os gostos, nesta primeira seleção de 25 livros da revista. Como “O Demolidor de Presidentes”, de Marina Gusmão de Mendonça, sobre o controvertido Carlos Lacerda, e “Do Golpe ao Planalto – Uma vida de Repórter”, de Ricardo Kotscho, um dos mais éticos e respeitados jornalistas do Brasil, que foi assessor de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva.

Isabel Lustosa, escritora cearense, comparece com “Insultos Impressos”, radiografia da imprensa brasileira nos primórdios de 1800 com a chegada de d. João VI. Personagens conhecidos da história usavam pseudônimos para escrever sobre temas que dividiam as atenções, como a monarquia e a proclamação da Independência. William Bonner adentra nas particularidades do Jornal Nacional, relatando como ele foi apresentado uma vez na laje de um prédio em construção e o dia em que freiras salvaram a edição do noticioso mais importante do país. Há uma passagem sobre o “JN” que não figura nessa obra: a de que sua influência era tamanha que quando Cid Moreira dava o “Boa noite” de encerramento, milhares de telespectadores, como autômatos, repetiam: “Boa noite!”. Em relação a “Insultos Impressos”, creio que segue, com outro viés, é claro, a diretriz de “O Livro dos Insultos”, de Henry Louis Mencken, o cidadão privado mais influente da América, como foi definido pelo New York Times. A comparação, pelo menos, é inevitável.

Na verdade, há uma infinidade de livros sobre jornalismo que empolgam não apenas os profissionais do ramo mas atraem a atenção do cidadão comum, interessado em conhecer os bastidores desse ofício. “Notícias do Planalto”, de Mário Sérgio Conti, é impecável, assim como “Os Melhores Jornais do Mundo”, de Matias M. Molina, “Minha Razão de Viver”, de Samuel Wainer, relembrando a fase épica da “Última Hora”, as versões de Walter Clark e de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) sobre essa máquina chamada TV Globo. “Crônicas de Repórter”, de Pedro Bial, e “Diário da Corte”, de Paulo Francis, são imprescindíveis. Também “O Jornal da Noite”, de Arthur Hailey, “Notícia, um produto à venda”, de Cremilda Medina, “Cale a Boca, Jornalista”, de Fernando Jorge, “Cale-se”, de Caio Túlio Costa e o atualíssimo “O Destino do Jornal”, de Lourival Sant’anna, já incluindo a controvérsia entre mídia impressa e mídia digital.

Temos inúmeros outros títulos relevantes como “O bravo matutino”, um compêndio sobre o jornal “O Estado de São Paulo” e até mesmo “O repórter do outro mundo”, psicografado pelo repórter Silveira Sampaio. Mas eu incluiria, na minha lista, “Confidencial”, de Chico Maria, meu ex-companheiro de bancada na TV Cabo Branco em João Pessoa. É uma compilação de polêmicas entrevistas que ele realizou ao vivo na TV Borborema, em plena censura (ainda que no seu fastígio), com personalidades como Dom Helder, Frei Damião, Gregório Bezerra e Luís Carlos Prestes. Chico Maria, a meu ver, foi o mais sagaz entrevistador de toda uma geração que conheci, pelo estilo direto, franco. Digno do Chefe de Polícia que ele foi!