Bandido não perde viagem

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Rubens Nóbrega

Não sei mesmo onde vamos parar, se temos um governo mais afeito a enfrentar a violência a golpes de publicidade, enquanto a criminalidade cresce a olhos vistos, sem ter como esconder o medo e a insegurança em que vive a maioria da população, tanto faz se no interior ou na Capital.

Pra terem uma ideia, vou citar alguns dos crimes ocorridos na Paraíba nos dois últimos dias do fevereiro que passou. Começo por um tiroteio na Torre de Babel, no Valentina, em João Pessoa. Aconteceu dia 27. Resultado: duas crianças de 11 e 12 anos e um jovem de 18 baleados, levados para o Trauma com risco de morte.

Na mesma comunidade, conta-me a advogada Laura Berquó, do Conselho Estadual de Direitos Humanos, facção que disputa o controle do tráfico na área matou a tiros o estudante Edjackson, 17 anos, capoeirista e judoca. Ele morreu ‘de graça’.

De ‘graça’ porque bandidos foram lá eliminar inimigos que não encontraram. “Para não perder viagem”, segundo Laura, mataram quem encontraram pela frente, ou seja, mataram Edjackson, que morava no Conjunto Amizade, lugar de muita droga, tiroteios e raríssimo policiamento, tal e qual a Torre de Babel.

Já no dia 28, na Pedro II, quase centro da cidade, bandidos assaltaram um carro-forte dentro da Secretaria de Saúde do Estado e de lá fugiram com anunciados R$ 20 mil. O assalto ocorreu no estacionamento do órgão, pertinho de onde executaram um vigilante do Hemocentro uma semana antes.

No mesmo dia, de Campina Grande veio a notícia de que uma escola pública fora assaltada pela décima vez nos últimos dois anos e, para manter o ritmo e não baixar a média diária, explodiram na mesma data mais um caixa eletrônico de banco. Dessa vez em Livramento, Cariri paraibano.

Por essas e outras, a bancada paraibana deve se reunir no próximo dia 13 em Brasília com o ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, para tratar justamente de providências, recursos e meios de ajudar o Estado a deter a escalada da violência.

O governador Ricardo Coutinho será convidado a participar da audiência ou mandar representante. Não acredito que faça uma coisa ou outra. Até por que, para não perder viagem, Sua Majestade já estaria cuidando de esvaziar a reunião e a pretensão de deputados e senadores interessados no encontro com o Ministro da Justiça.

Digo isso porque, segundo publicou ontem o jornalista Cláudio Humberto em sua coluna, “o ministro Eduardo Cardozo acertou com governador Ricardo Coutinho (PSB) de levar para a Paraíba ações do programa Brasil Mais Seguro, aos moldes da parceria com São Paulo e Santa Catarina”.

Procedente ou não a notícia, não importa. Se da bancada ou por iniciativa do governador, o que vier vem bem se for para socorrer a nossa insegura e mal policiada Paraíba. Só não dá é pra continuar do jeito que está. Afinal, cantaria o velho Chico, “essa onda de assaltos e mortes tá um horror”.

Em defesa do MP

O Professor e jornalista Arael Costa volta a este espaço para mais uma vez insistir no enorme prejuízo à moralidade pública que advirá de eventual aprovação, no Congresso, de projeto que limita ou acaba com o poder de investigação do Ministério Público. Confiram adiante como ele se expressa com indiscutível propriedade e qualidade a respeito do assunto.

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Meu caro amigo, vejo com apreensão o crescimento do movimento que busca retirar do Ministério Público suas prerrogativas investigatórias.

Agora mesmo, como se divulgou nacionalmente, os deputados estaduais de São Paulo se apressam a votar lei que proíbe aos procuradores estaduais o exercício dessa prerrogativa na investigação de atos e procedimentos praticados por integrantes do poder público, notadamente os do executivo.

No meu entender essa proibição escancara abertamente uma autorização implícita para a prática de irregularidades, pois tem sido o Ministério Público o grande responsável pela apuração das diatribes praticadas pelos nossos políticos, muitos dos quais passíveis de ser incluídos em listas de tão ou mais perigosos quanto os que assaltam bancos, caixas eletrônicos e carros fortes, pois enquanto estes se expõem a violentos confrontos com a polícia, aqueles agem no conforto de seus gabinetes refrigerados e servidos por grande número de áulicos, praticamente sem nenhum risco.

O avanço de propostas dessa natureza, a meu ver, representa uma das grandes preocupações que a sociedade deve considerar, como bem enfatizou o ilustre Procurador Geral de Justiça de São Paulo, em entrevista ao Jornal da Globo News. Especialmente se prosperar, como se anuncia, a aprovação da PEC 37, que corre no Congresso Nacional. Será a oficialização da vigilância do galinheiro pela raposa, que fica autorizada a se fartar das galinhas postas sob sua guarda…

Coisa de campanha

Pelo visto, segunda que vem Dona Dilma não vai pisar este solo pela primeira vez como presidente em visita de trabalho, mas já de candidata à reeleição.

Digo assim porque no Estado mais castigado pela seca, Madame Presidenta vai dar um pulo no interior apenas para ver água muita armazenada, na barragem de Acauã.

Antes, passa por João Pessoa para inaugurar e entregar casas populares.

Pra ser mais ‘soft’ ou mais ‘light’, só falta levarem a mulher pra comer filé de lagosta e camarão gigante na Granja Santana.