Bandeira estica a corda no jogo

Nonato Guedes

O jornalista Nonato Bandeira, secretário de Comunicação Social do Estado, fez-se obstinado e mantém quase todas as fichas no projeto de ser candidato a prefeito de João Pessoa pelo PPS, mesmo convivendo com a preferência do governador Ricardo Coutinho pelo nome de Estelizabel Bezerra, indicado pelo PSB. O governador tem dito que no seu agrupamento só há uma candidatura, a de Estela, mas evita polemizar com o seu secretário. Bandeira, enquanto isso, estica a corda no jogo, criando uma espécie de ‘Coletivo’ que busca agregar deputados, vereadores, intelectuais, militantes famosos e anônimos. Faz uma peregrinação ostensiva, ainda que contida pelas regras da legislação que não permite propaganda antes da oficialização do registro em convenções partidárias.

Essa cruzada plural de Bandeira, em certa medida, é intrigante ou desafiadora para analistas políticos e eleitores, que se perguntam até onde vai o fôlego do estrategista em que o pré-candidato do PPS se converteu. Numa de suas últimas manifestações, ele resolveu ampliar o leque de personalidades a serem auscultadas sobre o processo na capital, adicionando os nomes do senador Cássio Cunha Lima (PSDB) e do prefeito Luciano Agra, que, no íntimo, não gostou de ser substituído no pódio do PSB e, por isso, aparentemente, não morre de amores pela “alternativa” Estelizabel.

No princípio, reinou a impressão de que havia um enredo combinado para que se mantivessem Estelizabel e Bandeira como pré-opções, até que fosse batido o martelo. Hoje, não dá mais para suspeitar de orquestração, pela desenvoltura com que o secretário se expõe e pelos apoios que tem colecionado. Tornou-se, por assim dizer, um pré-candidato irreversível. Enquanto o governador não chama o feito à ordem, pelo menos no sentido de definir quem será aliado, já que não tem poder de intervir em outras agremiações situadas na sua órbita, essas agremiações vão se cosendo com suas próprias linhas, preparando-se para eventualidades. Com isso, desagregam a unidade do bloco governista e generalizam um clima de confusão e agitação de conseqüências imprevisíveis. O DEM começa a pôr as unhas de fora e anuncia exame de candidatura própria. No PT, a ala pró-ricardista trava luta encarniçada para vencer a batalha interna e aprovar coligação com o PSB, de olho no que seria uma apetitosa vaga de vice, para fazer jus à lei do menor esforço, diante da pulverização que incendeia as hostes internas. E outros partidos aproveitam para se valorizar, nem tanto pelos votos que possam transferir, mas pelo tempo de TV que podem ofertar.

A “pantomima” dentro do PMDB

O glorioso PMDB paraibano partiu, célere, para adotar a pantomima, a propósito da escolha do candidato a prefeito de João Pessoa. Reuniu gatos pingados para ouvirem o ex-senador José Maranhão dizer que há pesquisas apontando-o como o mais cotado para representar as cores partidárias. (Aliás, Maranhão, sempre que possível, costuma repetir que é o cargo que falta no seu currículo. Outros pretendentes podem dizer o mesmo). Mas, voltando à encenação: depois de revelada a tendência das pesquisas, sem a divulgação dos percentuais, para não ferir a Lei, o deputado federal Manoel Júnior encrespou-se e ameaçou recorrer à direção nacional para liquidar a parada.

Era uma reação esperada, diante da queda de braço travada internamente. A novidade veio na sequência: por questão estratégica, o partido deliberou que só após o carnaval divulgará o retrato falado do ungido. É o tempo mais ou menos aguardado para que o senador Cícero Lucena, do PSDB, consiga desvencilhar-se de problemas no ninho tucano e executar uma operação que redunde na aproximação com o PMDB, ainda que por vias transversas. Com o PMDB de Maranhão, bem entendido. Enquanto isso, os dissidentes que esbravejavam dentro do partido contra “caciquismo”, “nepotismo”, e outros “ismos” associados a Maranhão, recolheram os “flaps”. Acharam mais conveniente deixar o ‘piloto’ voar em céu de brigadeiro, uma vez superadas as turbulências a que já está acostumado com as milhas estampadas no brevê.

Há um aspecto que deve ser levado em conta nessa tática de gênios: o PMDB se desestimula a olhos vistos. Já não é mais o partido respeitado e temido que fazia contraponto a esquemas tradicionais com maior musculatura. Definha a agremiação, ainda que isto não possa ser medido em quantidade de defecções ou rompimentos. O problema é que todos estão presos no “jiqui”, diante de prazos vencidos para migração com intenção de lançar candidatura ou de filigranas ameaçadoras da Lei contra trânsfugas vocacionados. Maranhão conhece bem os meandros dessa alquimia. Em 98, quando decidiu disputar a reeleição, estimulou os Cunha Lima a baterem chapa em convenções, sob as quais ele tinha controle absoluto. Na mais célebre delas, Haroldo Lucena derrotou Ronaldo Cunha Lima por margem apertada na disputa para presidir o diretório. Incorporou o feito ao currículo. Os Cunha Lima tiveram que aceitar o papel de reféns. Por baixo dos panos, incentivaram a candidatura de Gilvan Freire a governador pelo PSB, mas não podiam subir em palanque nem recomendar essa candidatura. Maranhão ganhou de capote, como mostravam as cartas do tarô. Só depois, recolhidas as cinzas, os Cunha Lima migraram em alto estilo para o PSDB, levando Cícero Lucena a tira-colo. A História se repetirá? Convém ler os autores que tratam desse capítulo com versatilidade e conhecimento de causa. Em última análise, para sermos mais prosaicos, vale apegar-se à máxima dos políticos mineiros: “Esperteza, quando é muita, come o dono…”