Rubens Nóbrega
O jornalista Nonato Bandeira, vice-prefeito eleito de João Pessoa, mostrou ontem ser mesmo adepto, aplicado seguidor e competente aplicador da festejada estratégia de que a melhor defesa é o ataque.
Bandeira foi acusado anteontem por Tatiana Domiciano, sucessora dele na Secretaria de Comunicação Social do Estado, de ter desestruturado o órgão e utilizado o cargo de secretário para fins políticos.
Na réplica, em entrevista ao programa Rádio Verdade (Arapuan FM da Capital), Bandeira desafiou o governador Ricardo Coutinho para um embate direto onde o desafiante teria oportunidade de dizer o que sabe.
Desafio em tom de ameaça. Um aviso, no mínimo. Como quem diz: “Não apertem muito não que eu abro o bico”. Coisa de quem privou da mais reservada intimidade pessoal e política do ex-chefe.
Ao chamar o governador ‘pra briga’, Bandeira estaria também adiantando defesa que provavelmente precisará fazer se o seu ex-amigo divulgar o resultado de auditoria que teria ordenado fazer sobre o que o jornalista fez na Secom.
Informações de bastidores dão conta de que Ricardo recebeu e guardou a sete chaves o que a tal auditoria colheu, para somente utilizá-lo publicamente por motivo extremamente relevante ou necessidade extrema.
De modo que os dois lados teriam munição suficiente um contra o outro, mas nenhum teria coragem de dar o primeiro tiro porque sabe que vai ter bala trocada. Sendo assim, dificilmente o distinto público saberá o que Bandeira sabe.
Muito menos saberá o que a suposta auditoria apurou de errado da gestão do jornalista na Secom estadual, onde ele passou um ano e três meses. Nesse período, conforme divulgou ontem, gastou pouco mais de R$ 15 milhões.
R$ 30 milhões em sete meses
Aquela cifra já seria extraordinariamente elevada não fosse por um detalhe, igualmente revelado por Bandeira: com Tatiana na Secom, em apenas sete meses os gastos ultrapassaram R$ 30 milhões.
Lembra que me referi ontem aos afrontosos orçamentos da Comunicação Social do Estado? Diga mesmo se não é um acinte gastar essa fortuna para promover governo num Estado onde mais de 2 milhões vivem na indigência!
Pois bem, se os R$ 15 milhões ‘de’ Bandeira já seriam uma afronta, mais revoltante é saber que a Secom pode ter ‘investido’ os mais R$ 30 milhões para ajudar a candidatura a prefeito da Capital apoiada pelo governador.
Afinal, vamos combinar que é razoável a suspeita de que assim aconteceu porque, como afirmou ontem o ex-secretário, a maior parte dos gastos ‘de’ Tatiana ocorreu durante o último período eleitoral.
“Com muita propaganda em João Pessoa, tentando alavancar a candidata oficial do PSB”, acunhou o futuro vice-prefeito, no melhor estilo bateu-levou, acrescentando:
– O Governo do Estado extrapolou e muito o que determina a lei e terá enormes dificuldades em aprovar as suas contas. A verba destinada à publicidade (em 2012) é de R$ 17,5 milhões por semestre. Mesmo que tenha feito um aditivo de 25%, está muito longe de atingir os R$ 30 milhões previstos no orçamento e que definiu o valor global da licitação para as oito agências publicitárias (que prestam serviço ao governo).
Daria apuração, ação e até CPI
Se na Paraíba as leis valessem para todos e as instituições cumprissem fiel e integralmente as suas obrigações, as declarações de Nonato Bandeira seriam o bastante para motivar investigações e ações judiciais do Ministério Público, subsidiar apurações do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e justificar uma CPI na Assembleia.
Mas nada disso deve acontecer. Nos órgãos citados não há coragem nem vontade para tanto. Já no Poder Legislativo, falta força à oposição e parece superada a insatisfação de uma banda da bancada governista que até poucos meses atrás se mostrava altamente receptiva à ideia de um impeachment do governador.
É preciso lembrar e ressaltar, por fim, que o contra-ataque do ex-secretário de Ricardo Coutinho está calçado por documentos, documentos públicos, a exemplo de notas do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira) e atos publicados no Diário Oficial do Estado.
Desse jeito, precisa nem oferecer delação premiada ao rapaz.
A incompetência dessa gente…
Deu na Agência Brasil e na Revista Consultor Jurídico:
– Apesar do déficit de vagas no sistema penitenciário do país, 29 presídios deixaram de ser construídos entre 2011 e 2012 porque os estados não cumpriram o prazo de execução das obras previsto nos contratos, que foram cancelados pelo Ministério da Justiça. Os recursos, da ordem de R$ 103,4 milhões, foram recolhidos pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Entre os estados que tiveram obras canceladas, a Paraíba de Ricardo Coutinho. “Os recursos retornaram ao Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) e devem novamente ser aplicados em construções de estabelecimentos penais no país”, complementa a informação que baixou anteontem à noite na minha caixa de correspondência.