Balanço violento: Na 1ª semana de 2015, 4 mortes são registradas por dia na Paraíba

O ano começou violento no Estado. Levantamento feito pelo JORNAL DA PARAÍBA com informações dos Centros Integrados de Operações Policiais (Ciop), delegacias e Batalhões de Polícia Militar de todo a Paraíba, aponta que pelo menos 27 homicídios foram registrados na Paraíba, na primeira semana de janeiro, entre os dias 1º e 7, o que representa uma média de 3,86 crimes por dia, nesse período.

Os números podem ser ainda maiores, conforme explica o Secretário de Segurança e Defesa Social, Claudio Lima. “Alguns casos só chegam para a análise criminal quatro ou cinco dias depois, porque foram para o hospital, e demoram até chegar o documento do hospital”, destacou, ao explicar porque o número total de homicídios do ano de 2014, ainda não foi divulgado.

Para o doutor em psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba, Nilton Formiga, que estuda, entre outros temas, as condutas antisociais e delitivas e a interação social,  a criminalidade tem atingido dados alarmantes, principalmente  pela falta de intervenção do poder público e da família.

“Temos um Estado, que em termos gerais, é falho no processo de impor e inibir os processos de violência. Falta investimento para qualificar e equipar. O poder de fogo e a novidade no armamento do criminoso é maior que a da polícia.  O que me preocupa é que o criminoso se torna quase o ‘dono do poder’. Faltam políticas públicas na base. investimento na educação, nas práticas esportivas, dentro das comunidades”, enfatizou.

Sobre a família, Nilton Formiga ressaltou a ausência dos pais na formação dos filhos  e a  falta da imposição de limites e valores humanos para evitar que os mesmos tenham condutas antisociais. “Se uma criança briga na escola o pai muitas vezes não a repreende e ainda diz: ‘você tem que ser macho’ ou ainda ‘se apanhar lá na escola vai apanhar aqui também’ e com isso não criam o que chamamos de ‘atitude do não’.   E este é um problema de todas as classes sociais. Desde cedo a criança  entender o que é errado e porque  está errado . Mas intervir requer esforço”.

Para o professor, a banalidade dos crimes se deve à fragilidade emocional dos autores. “Geralmente quando o criminoso é preso diz que cometeu o crime porque não tinha emprego ou porque o outro não cumpriu uma regra ou algo que havia prometido, como pagar uma dívida por exemplo. Há o que podemos chamar de ‘prazer de matar’”.

Este prazer de matar, relatado pelo professor, pode ser visto em uma das cenas de homicídio no fim de 2014. Em 28 de dezembro, após matar o companheiro com golpes de facas e marretas, Danilo da  Silva Santos, de 20 anos, escreveu na porta da geladeira com o sangue da vítima, a frase “Eu senti o gosto de matar. Bem, é isso!”. Danilo se entregou à polícia horas depois do crime e confessou que matou o companheiro porque era impedido de sair de casa por ele.

Mensagem foi escrita na porta da geladeira com sangue da vítima

Dos 27 homicídios registrados em 2015, cinco foram em João Pessoa, três em Alhandra, dois em Cabedelo, dois em Conceição e dois em Catolé do Rocha. Os municípios de Alcantil, Bayeux, Cajazeiras, Conde, Cruz do Espírito Santo, Itaporanga, Patos, Pitimbu, Santana de Mangueira, Sousa,  São José de Caiana, Taperoá e Queimadas registraram um homicídio cada, entre os dias 1 e 7 de janeiro.

Secretário aponta queda nos números e diz que gestão precisa melhorar

Segundo o secretário Cláudio Lima, o número de homicídios vem diminuindo no Estado, mas este é um processo lento e que necessita de melhorias na gestão. “Nós já estamos diminuindo os homicídios há três anos consecutivos, mas sabemos que essa diminuição ainda não é a que nós queremos. Precisamos fazer mais e o governo é consciente disso. Precisamos convencer as pessoas que nós não resolvemos isso da noite para o dia, é um processo que precisa ter permanência e continuidade de ação e ter de certa forma uma melhoria de gestão e um melhor emprego dos recursos públicos, tanto estaduais, quanto federais. Não adianta tentar prometer milagres, porque quem prometer certamente não cumprirá”.

O JORNAL DA PARAÍBA solicitou os dados consolidados de 2015 para a Segurança e da Defesa Social da Paraíba., mas até a publicação desta reportagem, os números não haviam sido informados.

Os homicídios

1 e 2 – Ainda durante as comemorações do ano novo foram registradas quatro mortes.  Por volta das 3h30 um duplo homicídio aconteceu na comunidade Nova Descoberta em Alhandra.De acordo com o agente da Polícia Civil Antônio Carlos, dois homens, que não tiveram a identidade revelada, foram mortos a tiros, pauladas e pedradas. Ainda de acordo com a polícia, um dos mortos era ex-presidiário.

3 – Às 3h50 houve uma morte nas proximidades do campo do ‘Juracizão’ no bairro de Mandacaru, em João Pessoa. Um homem, não identificado, foi morto na Rua Padre Antonio Diogo Feijó, vítima de ferimento com arma de fogo. Segundo a polícia, os moradores do local não passaram maiores informações sobre o crime.

4 – Dez minutos depois, um lutador de MMA foi morto em Cabedelo, na Grande João Pessoa. Herisson da Silva Medeiros, de 30 anos, foi assassinado vítima de cinco disparos, após uma discussão com um adolescente. A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.

Ainda na madrugada do dia 1º, três pessoas foram detidas suspeitas do assassinato do lutador. De acordo com a Polícia Militar, o crime foi cometido porque a vítima esbarrou em um dos suspeitos.

5 e 6 – Um outro duplo homicídio foi registrado no dia 1. De acordo com a PM, um casal foi morto na Rodovia PB-404, próximo a Conceição, no Sertão do estado. O casal José Carlos Rodrigues de Moura, de 39 anos, e Elissandra Felix Fernandes, de 26, foi atingido por diversos disparos de arma de fogo quando estavam em uma caminhonete com placas de São Paulo.

Aos policiais, parentes das vítimas informaram queo casal teria ido ao Sertão paraibano, para a passagem de ano e estariam indo visitar a cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará.

O duplo homicídio está sendo investigado pela Polícia Civil de Conceição.

7 – Também na quinta-feira(1), uma mulher aposentada, de 62 anos, foi atingida por uma bala perdida no bairro de Mandacaru. Os registros do Centro Integrado de Operações Policiais (Ciop) apontam que o alvo dos tiros era um homem que foi atingido de raspão na perna. A aposentada foi atingida no abdômen e encaminhada para o Hospital de Emergência e Trauma da Capital.

De acordo com familiares, a aposentada recebeu alta hospitalar cerca de 40 minutos após dar entrada na unidade, mas ao chegar em casa sentiu fortes dores e chegou a perder a sangue e foi novamente hospitalazada na manhã da sexta-feira (2), quando não resistiu as complicações provocadas pelo ferimento .