Ausência de RC ao pleito de domingo é inadequada

Sérgio Botêlho

Em se confirmando, é absolutamente inadequada a decisão do governador Ricardo Coutinho em se ausentar da Paraíba durante o pleito do próximo domingo, quando João Pessoa e Campina Grande escolherão, em segundo turno, seus futuros prefeitos. É inadequada pelo fato do senhor governador ser o comandante supremo de todos os órgãos integrantes do sistema organizacional da segurança e da defesa social, segundo a Constituição do Estado. É inadequada também pelo alto significado que tem a eleição dentro do processo democrático, onde o governador desempenha elevado papel simbólico e didático. Em resumo: Coutinho não é um cidadão comum que pode anunciar, sem qualquer motivo grave, sua falta às urnas. Aliás, nem o cidadão comum pode fazê-lo, uma vez que a falta ao pleito somente se verifica em virtude de doenças graves ou viagens inevitáveis.

O caso é grave, pois, jogando tudo isto para o alto, Ricardo anunciou à imprensa, sem que pudesse evitar certo ar de desdém para com o pleito de domingo próximo, que iria justificar o voto em função de “compromissos oficiais e particulares”. O compromisso oficial, segundo ele declarou, seria na próxima terça-feira, 30, em Brasília. Porém, justificou a viagem de domingo em função da necessidade de “descansar”, antes do compromisso. O mais curioso é que alguns secretários – não é possível saber se todos – estão também anunciando ausência de João Pessoa no próximo domingo. Coincide o movimento com a ausência no segundo turno, também, da candidatura apoiada pelo governo.

Acontece que qualquer pleito é cercado de interesses conflitantes, geralmente inconciliáveis, e cercado de perigos com relação à ordem pública. Anteontem, por exemplo, o deputado estadual Anísio Maia, do PT, em discurso no Plenário da Assembléia Legislativa, acusou o governo de estar apoiando “logisticamente” a campanha do senador Cícero Lucena, do PSDB, adversário do deputado estadual Luciano Agra, do mesmo PT de Anísio. A denúncia pode ser atribuída ao calor da disputa, mas, se alguma coisa de grave acontecer no próximo domingo, estando ausente o comandante supremo da segurança na Paraíba, o faltoso pode ser responsabilizado.

O processo eleitoral paraibano, tanto em João Pessoa quanto em Campina Grande, interessa diretamente a forças políticas que ultrapassam os limites dos dois municípios e as divisas do estado. A presença do governador da Paraíba, com toda a certeza, pode dissuadir badernas e atitudes as mais diversas de burlar a lisura do pleito, que pode partir de todos os lados em disputa, na Capital e na Serra da Borborema, e de todas as bandas. Não que ele, o governador, não possa atribuir ao vice-governador, ao secretário de Segurança e ao comandante da Polícia Militar as responsabilidades pela ordem pública. Mas, tendo em vista que goza de todas as suas faculdades mentais e físicas, e tem obrigação de votar, não há justificativa para o afastamento.

Enfim, ausentando-se, o governador deixa de contribuir decisivamente para com a educação democrática. Aliás, perdeu uma grande oportunidade de fazê-lo, logo ao concluir o primeiro turno, quando sua candidata não passou ao segundo. Ao invés de, respeitando a liturgia do cargo que ocupa, cumprimentar os vencedores, nas pessoas de Luciano Agra e Cícero Lucena, e elogiar a presença do povo às urnas, preferiu desconsiderar a decisão popular, entendendo a opção dos pessoenses como equivocada, uma vez que são “candidaturas do atraso”. Isto não é próprio para quem tanto benefício tem usufruído exatamente pelo voto popular. Agora, continua passando um mau exemplo, às novas gerações, de que a democracia deve ser vista como algo relativo, personalista, grupal, estritamente vinculado a interesses individuais.

Sob todos os aspectos que forem utilizados para análise da anunciada ausência do governador no pleito do próximo domingo, na Paraíba, sua atitude, se confirmada, é um grande erro. E um precedente que em nada contribuirá, de positivo, para a grandeza da história da Paraíba.