Até quando, Catilina? - Rubens Nóbrega

Catilina, ou melhor, Lucius Sergius Catilina, traiu a confiança do povo de Roma, que o escolheu questor em 77 a.C. e governador da África em 67 a.C.

“De família patrícia, mas pobre, Catilina teria iniciado desde cedo uma vida de crimes e vícios (…) Durante as proscrições deu demonstrações de ambição e crueldade”, diz sobre ele a Wikipédia, a enciclopédia livre da Internet.

Outros historiadores lembram que “Catilina ficou marcado como conspirador, e o nome dele emprega-se até hoje para designar os que desejaram fazer fortuna sobre as ruínas da própria pátria”.

Desmascarado em seu plano de prejudicar os cidadãos de bem de Roma, Catilina armou uma conjuração para exterminar os opositores, mas foi contido e denunciado pelo cônsul Cícero (Marcus Tullius Cícero), o maior orador de todos os tempos.

Foi no dia 8 de novembro de 63 a.C. que Cícero ocupou a tribuna do Senado para revelar aos seus pares e concidadãos o golpe que lhes preparava Catilina, que estava presente à sessão e não se atreveu a rebater as acusações, tantas e tamanhas as provas e evidências reunidas pelo cônsul.

Naquela data, o pronunciamento de Cícero inaugurou a série conhecida mundialmente como ‘Catilinárias’, que deu ao seu autor fama de grande tribuno.

A abertura do discurso do cônsul eternizou-se como obra-prima da oratória; ao mesmo tempo, exemplo de indignação patriótica contra a tirania, o autoritarismo, a soberba e a arrogância dos que tramam contra o bem coletivo.

Releiam no tópico a seguir o trecho mais famoso da primeira Catilinária.

‘Nem os temores do povo’

Prestem atenção agora e reflitam depois sobre o que disse Cícero quando se dirigiu a Catilina em pleno Senado para revelar a conjura em andamento contra a pátria.

***
Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio?

Nem a guarda do Palatino, nem a ronda nocturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te?

Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?

Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?

Oh tempos, oh costumes! O Senado tem conhecimento destes factos, o cônsul tem-nos diante dos olhos; (…) contra ti é que se deveria lançar a ruína que tu, desde há muito tempo, tramas contra todos nós.

A aliança com Cássio

Por conta das presepadas de Catilina, o general Cássio (Gaius Cassius Longinus) reaproximou-se de Cícero, de quem havia se distanciado desde as eleições de 67 para governador.

E foi para defender o povo de Roma que Cássio colocou suas tropas a serviço de Cícero, que também recebeu o apoio de Catão (Marcus Porcius Cato) e os três, juntos novamente, impingiram derrota magistral ao exército de conjurados formado por Catilinina em Pistóia.

A batalha decisiva aconteceu em janeiro de 62 a.C. Dizem que Catilina morreu de armas na mão, chegando a merecer elogio de Floro (Publius Annius Florus), historiador latino de origem africana que disse sobre o fim do conspirador:

– Bela morte, assim tivesse tombado pela Pátria.

Qualquer coincidência…

Como disse ontem, a história de Catilina parece tão atual que é possível suspeitar da reencarnação dos seus personagens centrais em plena Paraíba do século XXI.

Daí por que não vou me culpar se alguém vestir a carapuça e se achar o próprio Catalina. Afinal, como diria o velho Potinho de Veneno, “qualquer coincidência com personagens e fatos reais e atuais, camarada, é mera semelhança”.

Ah, tem mais um detalhe: o artigo de hoje sobre a história de Catilina contou com a decisiva e inspiradora colaboração da pesquisadora Maria Maria, mui especial amiga do colunista.

A frustração de D. Zilda

Na missa de 30º dia pós-falecimento de Dona Zilda Soares de Oliveira, ontem, na Capital, familiares e amigos lamentaram muito o fato de ela ter morrido sem ver realizado o seu último desejo: uma escola do município de João Pessoa com o nome do Maestro Joaquim Pereira, de quem era viúva.

Tanto que ela e a família pediram ao prefeito Luciano Agra! Mas o alcaide ignorou não apenas os apelos de Dona Zilda. Ignorou, sobretudo, uma lei aprovada há mais de dez anos pela Câmara Municipal de João Pessoa, de autoria do então vereador Pedro Coutinho, autorizando o prefeito da Capital a homenagear daquela forma o Maestro Joaquim Pereira.

Em vez de atender a quem reivindicava a concretização de justíssimo reconhecimento, o Doutor Agra preteriu o grande arranjador e compositor paraibano para, no lugar dele, atribuir a escolas recém construídas nomes de personalidades de evidência mais recente ou de figuras que nunca pisaram os pés na Paraíba.

Diante da lamentável atitude do prefeito, restou concordar, endossar e subscrever o comentário do cronista Pedro Marinho, genro de Dona Zilda e do Maestro, que me escreveu dizendo assim:

– A lei de Joaquim Pereira deve se encontrar em algum escaninho da Prefeitura, quem sabe aguardando que amanhã ou depois alguém que efetivamente conheça a nossa história e seus vultos a transforme em realidade e o nome de Joaquim Pereira, um dos fundadores de nossa Orquestra Sinfônica e o seu segundo regente, passe a figurar no frontispício de um dos nossos educandários, servindo assim de exemplo para as gerações futuras.