O crime de ódio contra policiais brancos em Dallas, na noite de quinta-feira, e as mortes aparentemente sem motivos de negros por policiais no meio da semana terão também impactos políticos. Se, por um lado, podem aumentar o debate sobre formas de ampliar o controle de armas, algo caro aos democratas, por outro, o clima de medo e intolerância tende a afetar a avaliação do presidente Barack Obama, que está até sendo acusado por republicanos de ser o “responsável” pela onda de violência, com respingos na campanha de Hillary Clinton. Além disso, o temperamento explosivo e o discurso divisionista de Donald Trump podem afastar ainda mais o eleitor moderado do republicano para as eleições presidenciais de novembro.
De Varsóvia, onde participa da reunião de cúpula da Otan, Obama afirmou que o ataque contra policiais foi “perverso, calculado e desprezível”. Ele prometeu que a “justiça será feita” e tentou demonstrar comoção diante do caso – embora críticos lembraram que ele fez apenas um breve comentário, contra um discurso inflamado de 16 minutos sobre as mortes dos negros, no dia anterior:
— Estamos horrorizados com estes crimes e estamos unidos com o povo e o departamento de polícia de Dallas — afirmou o presidente, que cancelou parte da visita que fará à Espanha para antecipar o retorno aos EUA, no domingo à noite.
Obama aproveitou para tratar do controle de armas, levando os republicanos a criticarem a “politização” da tragédia:
— Quando as pessoas têm armas poderosas, isso faz com que ataques como estes sejam mais mortais e mais trágicos — afirmou, em referência ao uso de armas automáticas pela população.
No discurso de quinta-feira, já na Europa, Obama voltou a pedir reformas no sistema policial. Opositores criticam o presidente e afirmam que o democrata tem sido “duro demais” com os policiais.
O ex-congressista Joe Walsh, de Illinois, chegou a culpar o presidente em uma série de mensagens no Twitter. “Obama diz que policiais são racistas, então dois negros atiram em dez”. Ele, que tem um programa numa rádio de seu estado, chegou a apagar algumas destas mensagens, como a que dizia “agora é guerra” e acusava grupos como o “Black Lives Matter” (Vidas negras importam) pela onda de ódio contra policiais.
Outros atacaram o fato de Obama ter falado do controle de armas. Em uma entrevista à Fox News, o senador Darryl Glenn, do Colorado, afirmou que este é o momento de lamentar juntos e consolar a família, e não de fazer política:
— O presidente precisa ter muito cuidado para não aproveitar (a tragédia) para tratar de sua agenda política — disse.
Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas, afirmou preferia que Obama reagisse ao tiroteio de Dallas como Ronald Reagan reagiu após o desastre do ônibus espacial Challenger, em 1986:
— O presidente não precisa colocar mais argumentos de divisão, como o controle de armas, em um momento de grande dor para a nação – disse.
Por sua vez, o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Paul Ryan, pediu união.
— Cada membro deste Congresso quer um mundo em que as pessoas se sintam seguras, independentemente da cor da sua pele. — afirmou.
— Haverá uma tentação de deixar nossa raiva endurecer nossas divisões. Não vamos deixar isso acontecer. E, como disse o presidente legitimamente, a justiça será feita.
O grupo de congressistas negros se reuniu na manhã desta sexta-feira em Washington e voltou a pedir um debate sobre o controle de armas:
— Se não agirmos, este será um verão longo e quente — afirmou G.K Butterfield, líder do grupo e representante da Carolina do Norte.
Os candidatos a presidente cancelaram suas agendas hoje e divulgaram pronunciamentos pelas redes sociais. Trump prestou condolências à família dos mortos e disse que o país precisa de “uma liderança forte”. “Temos de restaurar a lei e a ordem. Temos de restaurar a confiança das pessoas de estarem seguras em suas casas e nas ruas”, disse.
Em entrevista à CNN, Hillary Clinton declarou que o que ocorreu em Dallas “foi absolutamente terrível”, e tentou pregar a união do país, afirmando que quer criar, como presidente, “uma orientação nacional” para as polícias, em especial sobre o uso de força letal. Hillary ainda conclamou os bancos a “se colocarem no lugar dos negros”, e defendeu os policiais, que segundo ela merecem mais respeito:
— Veja o que aconteceu em Dallas. Os policiais estavam protegendo um protesto pacífico. E quando o tiroteio começou e todos estavam fugindo, a polícia estava se movendo em direção ao perigo — disse ela, que cancelou um comício na Pensilvânia que marcaria a entrada do vice-presidente Joe Biden em sua campanha.
Fonte: O Globo