Amadeu Robson Machado
Grande é o poder da memória. Tanto que Santo Agostinho diz: “eu me lembro de ter me lembrado”. Daí, nestes instantes de incertezas tenho em minha memória a lembrança dos meus primeiros passos no Sindifisco-PB, nossa entidade que acompanho desde a sua fundação. Coisas da memória, coisas que não se apagam. Dos presidentes com quem tive uma convivência mais próxima, lembro de Antonio Pereira e Manoel Isidro. Ressalto que reconheço os seus erros. Pereira construiu a base, o alicerce que teve como argamassa os sonhos e esperanças da categoria, colocando o nome da entidade no ápice do sindicalismo nacional. Manoel deu prosseguimento e consagrou-se através de uma administração prospera, amiga, participativa e aguerrida, exportando know how de norte a sul do país. Tanto é que hoje para nosso orgulho é presidente da FENAFISCO – Federação Nacional do Fisco Estadual.
Antes de adentrar no cerne do meu artigo, quero deixar claro que falo por mim, sem nenhuma ligação com minha entidade associativa ou qualquer colega do Grupo Fiscal. Faço registrar do meu grande respeito ao presidente e seu vice e por toda a diretoria do Sindifisco, composta por colegas, homens (mulheres) pais (mães) de famílias a quem credito toda honestidade e respeito, quer na vida funcional, quer na labuta operacional da instituição.
Todos me conhecem no seio da categoria fiscal. Nunca desrespeitei nenhum colega, nenhum superior hierárquico, nenhum governo. Nunca incitei movimentos grevistas, nunca provoquei contrários, como também, nunca me dobrei diante de injustiças. Mas o que tenho visto nas atitudes da minha entidade representativa me assusta, o que me levou a divagar em pensamentos, buscando decifrar este quebra cabeça, este enigma da estagnação até em artigos e crônicas na internet. Encontrei escritos fabulosos, ousando aqui, através de uma analogia, fazer referências a textos de Maristela Bairros, Heitor Scalambrini Costa, dentre outros.
Pois é amigos…me pergunto: por qual razão ainda me surpreendo e me escandalizo com a falta de compromisso e até da ética institucional que nos assola? Pior: a troco de quê ainda sofro com isso? Ontem, xinguei e ao mesmo tempo pedi perdão ao meu pai, Otacílio Cordeiro, que já não se encontra entre nós, por ter-me educado sobre bases tão rígidas de comportamento. A culpa é dele e de dona Onilda, minha mãe, por terem me exigido tanto: boas notas na escola pública, comportamento exemplar em relação a mim mesmo e ao próximo, observância diuturna de regras de boa conduta a partir da máxima “faça ao próximo o que queres que faça contigo”.
Teoricamente, todas estas ferramentas que tive de aprender a exercitar deveriam ter facilitado a minha vida. Teoricamente, o mundo é dos que cuidam para agir sem ferir ninguém, sem pisar fora da lei, atentos a valores morais que visam a nos manter na categoria dos civilizados.
Tenho ouvido muitas criticas à atuação do nosso Sindifisco, na pessoa do seu presidente e vice-presidente, por suas condutas omissivas, letárgicas e desestruturantes. Nós escolhemos nossas amizades e os nossos dirigentes têm a liberdade de assim o fazer. Não obstante, o que não pode acontecer é não saber delimitar os espaços, o que necessariamente não resultaria em rompimento. Conversei pessoal com o presidente por duas vezes e expus o desconforto da categoria, que esperava uma atitude mais efetiva, mais participativa na busca dos nossos direitos. Engana-se quem pensa que queremos um movimento paredista de supetão. Hoje, já não tenho como contestar o que fora previsto e proclamado pela oposição quando do último pleito eleitoral da nossa instituição.
Respeito o governador Ricardo Coutinho. Ele sabe quem eu sou, inclusive, em outros tempos já lhe ofertei meu voto de cidadão. Ricardo foi criado politicamente nas bases dos sindicatos e associações. Ricardo foi líder de movimentos e não aceitava o pelegismo como parceiro. Creio que ele não nega esta assertiva. Ricardo hoje é governo e sindicato sempre continuará a ser sindicato. Cada um tem de entender suas atribuições, negá-las é atirar no próprio pé.
Pois é amigo leitor, o termo pelego citado acima, foi popularizado durante o governo de Getúlio Vargas, nos anos de 1930. Originalmente, na indumentária dos peões, pelego é um pano grosso e dobrado, ou uma pele de carneiro curtida, mas ainda com a lã, que se coloca em cima do arreio. O cavaleiro monta o pelego antes de montar o cavalo. Conforme o mestre Aurélio, pelego é: a pele do carneiro com a lã; indivíduo subserviente, capacho. Seguindo as linhas de Heitor S. Costa é sobre essa última definição que quero comentar.
De tanto ouvir tal adjetivo, eu mesmo me pergunto: O nosso presidente e vice têm sido pelegos? Faça sua avaliação.
Por definição, pelego é tido como o líder sindical de confiança do governo que garanti o atrelamento da entidade ao Estado. A palavra, que antigamente designava a pele ou o pano que amaciava o contato entre o cavaleiro e a sela, virou sinônimo de traidor dos trabalhadores e aliado do governo e patrões. Logo, quando chamada de pelego, significava que a pessoa era subserviente/servil/dominada por outra, ou seja, capacho, puxa-saco, bajulador.
Mas como se pode rotular esse trabalhador que se estremece, que aceita tudo o que o governo quer, sem questionar? Pelego é trabalhador que se deixa montar pelo governo; é o que não consegui reagir frente à humilhação da categoria; é quem não luta por seus direitos, por medo das conseqüências; é o pusilânime que se esconde atrás de desculpas esfarrapadas para justificar a própria covardia; o que não tem coragem de lutar; o que se esconde atrás dos que lutam, aproveitando da peleja alheia como um parasita. Pelego não sabe o significado da palavra solidariedade, é egoísta que não consegue ver nada além de suas próprias e momentâneas necessidades; é aquele que terminada uma assembléia não consegue olhar nos olhos dos seus companheiros, porque se sente uma sub-pessoa, uma não gente, pois lhe falta uma parte essencial a todo ser humano que se preze: o brio, a coragem, o amor próprio, a nobreza de caráter, enfim.
Recentemente encontrei amigos do Ministério Público e da Magistratura e me perguntaram o que estava acontecendo com o nosso Sindifisco. Eu apenas respondi: Um pequeno desvio de rumo. O GPS não está bem conectado com o satélite. Não quero destas ilações acreditar que a presidência da minha entidade seja pelega. Eu quero apenas dignidade, o restabelecimento do crédito construído com muita luta e coragem da nossa categoria.
Reafirmo, para que não pairem dúvidas ou conjecturas do meu respeito a todos da diretoria do Sindifisco-PB, da minha compreensão, da minha solidariedade e da minha confiança em todos, como também sou franco em afirmar que só temos duas saídas: ou o Sindifisco reencontra o seu rumo ou o presidente e seu vice, em respeito à categoria peçam a RENÚNCIA.