As pesquisas exigem um novo tom

Gilvan Freire

Ainda não se viu, na atual campanha em João Pessoa, o acirramento entre os principais nomes na disputa, como inicialmente estava previsto. É que as eleições mudaram muito nos últimos anos e o comportamento dos candidatos reflete os métodos exigidos pelas novas conjunturas.

A linguagem e as formas de comunicação, que antes eram mais agressivas e diretas, passaram a ser policiadas pela Justiça Eleitoral, que examina os conteúdos e garante o direito de respostas em casos de ofensa ou desvio de foco. O próprio eleitor, que anteriormente se envolvia emocionalmente nas brigas paroquiais, passou a exigir propostas no lugar dos ataques a pessoas. Já há um mínimo de civilidade onde antes era mais pancadaria. É um fenômeno recente, muito provavelmente surgido pela globalização do conhecimento e da cultura, que coloca online os padrões mundiais usados em centros mais avançados, além do papel do rádio e da televisão, que criaram o chamado palanque eletrônico, monitorado por regras de convivência.

Os marqueteiros também chegaram com seus serviços especializados, privilegiando o visual e as artes gráficas, e incorporando às campanhas as metodologias modernas da atividade mercadológica, onde um candidato há de ser apresentado ao eleitor como um produto há de chegar ao consumidor.

Enfim, as campanhas ficaram laboratorizadas, e o eleitor já pode escolher seu candidato como quem escolhe uma marca de veiculo, um terreno ou apartamento, mostrados pelas velhas e novas mídias. Lógico que ainda há marcas personalizadas, caras noviças ou figuras do cotidiano político, mas eventos como comícios e carreatas, transtornos do trânsito e excessos de sonoridade volante, pichação de muros, pregagem de retratos e camisas pintadas, vêm sendo substituídos, há algum tempo, por novas abordagens e modelos mais eficientes de interação com o eleitor.

É certo que as mudanças não melhoraram a conduta moral dos políticos e nem estancaram outros métodos tradicionais de aliciamento eleitoral, porque a influência do dinheiro, do poder público e da corrupção cresceu em proporção ainda maior do que a modernização dos meios técnicos de fazer campanha. Trata-se de uma contradição inexplicável, só concebível pelo fato de que, como tem ocorrido ao longo da História, o dinheiro só não pode muito quando é pouco. E o Brasil todo está nadando em dinheiro. Falta pudor, mas dinheiro mesmo há de sobra.

Mas, até onde se sabe, está encerrada a fase mais light da campanha na Capital. As pesquisas eleitorais deram uma mexida no tabuleiro, especialmente a última do Ibope, que criou um cenário de disputa acirrada. E quando gladiadores se enfrentam em arena apertada e são quase todos do mesmo tamanho, até arrancar com os dentes a orelha um do outro vale. Mike Tyson já fez isso na busca do cinturão.

Não há de se esperar uma briga de foices, mas a partir de agora até o final da campanha o ringue passou a ficar estreito para os pugilistas que vestem luvas de pelúcia. O mais apropriado é que, não podendo mudar de palco, os boxeadores mudem as luvas. E a tática. Só rasteira não voga – mas, se não for no juiz, é possível que todo mundo aceite. E até goste.