As pesquisas e os temores de sempre

Gilvan Freire

Via de regra os institutos de pesquisa eleitoral chegam à Paraíba com os questionários aplicados através de empresas de fora, muitas das vezes de Recife, com o objetivo correto de evitar que pesquisadores locais possam alterar as amostras por causa de suas paixões políticas ou outros interesses menos nobres. Pareceria uma atitude prudente, não fosse o fato de, noutras campanhas, já tenha ocorrido de pequenas empresas locais, de quase fundo de quintal, terem sido contratados por grandes institutos de pesquisa do país com o fim de aplicar e manipular dados sob encomenda oculta. A população nunca sabe disso, porque isso é artimanha de bastidores e subterrâneos da política e do poder. É coisa dos esgotos.

A maior complexidade, para não dizer complicação, existe quando as estruturas oficiais do poder estão agindo no processo eleitoral, especialmente quando os governantes estejam com grandes e vitais interesses em jogo. A capacidade que os governos têm de gastar dinheiro público em causas de seu particular interesse é igual ou superior a que têm de gastar com o mais exigente interesse público.

O IBOPE FOI CHAMUSCADO

A desqualificação do Ibope por causa de erro técnico do material de pesquisa, que nem sequer foi aplicado, coletado e avaliado, embora tenha sido um erro grosseiro e inaceitável, poderá ser um mote para os tradicionais vendedores de pesquisas, na medida em que foi destruída a confiabilidade de um dos maiores institutos de pesquisas do Brasil que, em João Pessoa, poderia informar, através da Rede Globo, sobre o andamento da campanha e as eventuais oscilações da intenção de voto do eleitor local.

Mesmo que o documento supostamente incorreto não trouxesse o nome da candidata Estela, não se trata ainda do questionário da coleta de opinião eleitoral, problema que fatalmente seria descoberto pela própria empresa aplicadora, pois ela não poderia tabular os números sem que constasse o nome de um dos principais candidatos da disputa.

A verdade é que, daqui para frente, a opinião pública vai ter de conviver com várias pesquisas e muitos institutos, o que aumentará a chance de alguns desvios de conduta e de rumos, especialmente se o governo alinhar duas ou três empresas, entre as que já financia para tudo, a fim de conseguir maquiar em bloco um grande projeto de aumento artificial de números em favor de candidatos ungidos, para criar um clima de possibilidades onde possibilidades reais não há.

A preço de hoje, não custa registrar, o quadro real de disputa tem pouca tendência de alteração, pelo menos de modo a comprometer as posições mais persistentemente consolidadas, a míngua de fatos novos. E já faz dias que a campanha começou, inclusive no guia eletrônico.

Parece também não haver dúvida de que existe uma disputa muito acirrada entre Luciano Cartaxo e Estela, não por causa exatamente dos próprios candidatos, mas de seus patrocinadores, RC e Agra. Nesse campo, ao que se vê, se um dos patronos vencer o outro, a campanha já terá tido um tipo muito agradável de êxito e prazer para o ganhador.

Há de ver, nessa disputa paralela entre os dois escorpiões que foram criados debaixo do mesmo girau mas passaram a se odiar quando cresceram seus ferrões e quando acumularam veneno, que é inteiramente possível ao escorpião maior fazer valer a sua superioridade, as suas reservas de secreções venenosas e sua experiência. E também seus estoques de poder, maldade e dinheiro público, este um dos mais terríveis venenos dos animais políticos peçonhentos.

Mas é preciso acompanhar com muito cuidado a evolução dos fatos, porque o veneno pode ser espalhado à toa com o fim, aparentemente despretensioso, de só atingir só os escorpiões rivais, e terminar alcançando outras vítimas dos dois nas redondezas.

Olho nas feras, no dinheiro público e nas pesquisas. E nos escorpiões.