Rubens Nóbrega

A política pode até dominar a pauta na imprensa nacional e local, mas hoje quem pauta mesmo a maioria dos leitores, espectadores ou telespectadores é o noticiário sobre celebridades, crimes, sexo, futebol e bizarrias variadas. Para ancorar a minha tese, tenho que o porto mais seguro é a Internet, onde estão os sítios informativos mais visitados, entre os quais aqueles que trazem o conteúdo de jornais, rádio e tevê.

Cheguei a essa conclusão depois de passar alguns dias observando o ranking diário das cinco matérias mais lidas nos maiores portais jornalísticos do país e da Paraíba. Só pra vocês terem uma ideia, vejam só como estavam distribuídas no meio da tarde de ontem as principais notícias do G1, o portal da Globo:

• Na manchete, o ex-coronel Carlos Alberto Ustra dizia: “Dilma integrou grupo terrorista para implantar comunismo” (referindo-se ao passado guerrilheiro da nossa Presidente), mas naquele momento, às três e meia da tarde, a notícia mais lida tinha como título “Ex-mais gordo do mundo apela à nudez em luta por cirurgia” (sobre o britânico Paul Mason, que se mostrou nu na web para pedir ajuda com uma operação para eliminar o excesso de pele em seu corpo após perder quase 300 quilos).

Ainda no G1, na sequência de notícias mais importantes (segundo o critério de seus editores) estavam “Operação da PF no Acre prende secretários e empreiteiros” e “MP-RJ recorre contra licitação do Maracanã”. A segunda e a terceira notícias mais lidas referiam-se, todavia, à gravidade do estado de saúde do cantor baiano Netinho, internado no Sírio-Libanês de São Paulo com problemas vasculares no abdômen, e uma reportagem sobre envolvimento com o tráfico do pastor carioca Marcos Pereira, preso terça última sob a acusação de ter estuprado mais de 20 mulheres.

• Já no Uol (Universo online), que disputa com o G1 a liderança de acessos no Brasil e América Latina, as acusações de Ustra contra Dilma também ocupavam a manchete, mas a matéria mais lida especulava sobre o destino dos vilões da novela global ‘Salve Jorge’, secundada por notícias sobre carrões de craques do futebol, dispensa de jogadores do São Paulo após eliminação da Libertadores e mais informações sobre a saúde de Netinho.
As mais lidas da Paraíba

No G1 Paraíba, manchete para o crescimento da dengue no Estado (13,82% mais de notificações em 2013) e submanchetes para o reajuste salarial (5,83%) dos grevistas da UEPB e a história do menino de rua que virou campeão de surfe após ser adotado por uma bióloga. Enquanto isso, as mais lidas eram “Comerciante resgata bebê deixado trancado em carro na Paraíba”, “Programação oficial do São João de Campina Grande” e “Menina de oito anos é vítima de bala perdida em João Pessoa”.
Já no ClickPB, manchete para a caveira que o governador Ricardo Coutinho proibiu a Polícia Militar de usar e continua sendo usada em viaturas da PM, e submanchetes para o professor da UFPB que criou vacina contra a gripe aviária e inscrições permanentes para o Minha Casa Minha Vida na Prefeitura da Capital. As três mais clicadas no mesmo portal, contudo, eram “Mulher confunde estacionamento e coloca carro dentro da piscina de condomínio”, “Mulher grávida é executada com oito tiros na principal do Bancários em João Pessoa” e “Foto de Angela Merkel nua, quando jovem, em praia de nudismo causa frisson na internet”.
Não estou questionando os critérios dos colegas, até por que se estivesse no lugar deles muito provavelmente principalizaria os mesmos assuntos. É preciso lembrar ainda que algumas notícias sobre violência em geral passam antes pela manchete dos portais locais, mas apenas nos casos de maior impacto e repercussão.
Não é o forte do nosso noticiário, vamos combinar. Uma evasiva do senador Cássio Cunha Lima sobre o seu futuro político ou uma estocada do governador Ricardo Coutinho em algum adversário costuma render muito mais atenção e permanência no topo das ‘importantes’ do que um bebê trancado dentro de um carro, esquecido pela mãe, e casos semelhantes que ligeirinho assumem o primeiro lugar entre as ‘mais lidas’.
Não quero com isso…
… Dizer que o nosso senso jornalístico não é bom sentimento. Ou que o jornalismo deva secundarizar os ‘grandes temas’ para se dedicar mais a fofocas ou amenidades, ao pitoresco ou ao grotesco. Nada disso. É preciso, contudo, reconhecer a força de um noticiário supostamente alienante que apela ao entretenimento com a mesma desenvoltura com que usa o escatológico para fazer audiência e leitura.
Se intelectuais e politizados do meio torcem o nariz para essa produção informativa mais popularesca e não reconhecem que esse filão dá mais ibope, mais leitura ou mais acesso, talvez nem desconfiem que o jornalismo vigente na maioria das nossas redações já não consegue formar tanta opinião assim. Tiro por esta coluna, que graças ao bom Deus tem entre seus leitores mais debatedores e questionadores do que passivos receptores de análises e críticas aqui publicadas.
Devemos isso à pluralidade e, sobretudo, à infinidade de meios e fontes à disposição do cidadão comum graças ao avanço contínuo das novas tecnologias da comunicação, capitaneadas pela Internet e, a partir dela, ‘bombadas’ pelas chamadas redes sociais (twitter e facebook, sobretudo), onde mira e alvo da informação estão nivelados e trocando de papeis a todo instante, mostrando que no final das contas ninguém é mais nem sabe mais do que ninguém. Nem mesmo os jornalistas, um povo “que se acha e se passa”, como diz a minha caçula.