Acorrentados. Violentados. Confinados. Traficados. Depenados. Abandonados. Engaiolados. Humanizados. Escalpelados. Torturados. Encarcerados. Explorados. Caçados.
É assim, que ao longo dos últimos séculos, o ser humano tem tratado os animais.
Agora, através de um ensaio fotográfico belíssimo e chocante, a campanha Sinta na Pele mostra que não podemos mais permitir que milhões de animais, todos os dias, sejam torturados e mal tratados.
“É nossa obrigação parar para refletir, despertar e mudar nossa maneira de viver e ver os animais. Vamos sentir na pele o que os animais sentem”, diz a Ampara Silvestre, organização idealizadora da campanha.
Lea T, Thaila Ayala, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Laura Neiva, João Vicente de Castro, Fê Paes Leme, Fernanda Tavares, Luan Santana, Romulo Arantes Neto, Ellen Jabour, José Loreto e Fiorella Mattheis são os artistas que participaram do ensaio, feito pelo fotógrafo Jacques Dequeker.
São imagens fortes e reais. Muito reais. Conseguem passar toda a aflição e a dor que nós – seres humanos – infligimos aos animais. O texto de divulgação da campanha nas redes sociais diz tudo:
“Ao longo do tempo, o homem se revelou o mais irracional dos animais. Sua indiferença já maltratou e matou bilhões de seres indefesos.
A ganância desenfreada levou à extinção formas de vida insubstituíveis e devastou brutalmente seus biomas. a cada dia, 150 espécies são exterminadas do planeta devido à interferência humana.
O sofrimento, muitas vezes silencioso, é um grito de socorro desses que não têm voz para se defender.
Precisamos evoluir nosso jeito de nos relacionarmos com a natureza. Evoluir e romper este silêncio.
A conivência incentiva o crime. O poder de mudança está em nossas mãos.
A exploração a que submetemos os animais não-humanos não pode mais ser tolerada.
Tenha empatia. Reflita. Não se cale. Transforme.
Sinta na pele!”
Para que a campanha atinja o maior número possível de pessoas, ela foi transformada também em exposição. Até 7 de março, os treze painéis estarão no Jardim Pamplona Shopping, em São Paulo. A mostra é gratuita e aberta ao público*.
Junto com cada foto, há um texto, tão chocante quanto a imagem.
Para quem vê de fora, isso é só um grande objeto de decoração em que a vida aquática fica indo e vindo. O que não sabem é que não estou desfilando, mas procurando a saída. Alguns de nós se escondem nas pedras ou nos corais, buscando proteção contra as luzes artificiais. Imaginem só, eu poderia ter todo o oceano, ou mesmo um rio, para desbravar, mas fui confinado aqui, nessa caixa de vidro. Tentam reproduzir minha casa usando artifícios, mas ela é única. Ficar aqui nos mata aos poucos. Minha hora também vai chegar. E aí, tudo o que farão é me tirar daqui com uma rede, me jogar na privada, dar descarga e me trocar por outro. Minha vida não vale nada.
Engaiolados
Privaram-me da liberdade, tiraram-me o chão, roubaram-me o céu. Não sei qual foi o crime que cometi. Não importa se prenderam minha mãe e “legalmente” me fizeram nascer condenado à prisão perpétua ou se em algum momento fui capturado e engaiolado. ESTOU PRESO. Não tive direito a julgamento, nem a advogado. A cela é pequena e não consigo voar. Só recebo visitas de meu carcereiro, que tem um riso cínico e fala coisas que eu nunca entendo. Depois, novamente me deixa solitário, ilhado em mim mesmo, deprimido e estressado. Acham que meu canto é de alegria, mas é puro lamento. Tristeza pela imensidão da natureza que me foi tirada para satisfazer a vontade humana.
Explorados
Foi tudo tão rápido que mal deu tempo de desmamar. Nasci, fiquei com minha mãe por alguns dias, fui arrancado dela e, quando vi, estava em uma vitrine. Minha mãe é escravizada. É uma fábrica de filhotes e ninguém se importa com ela. Cachorros como eu, da raça da moda, valem muito. Mas preciso ser vendido rápido, pois quando fico “velho” perco o valor. Posso custar milhares de reais, parcelados no cartão de crédito, ou ainda pior, estar em oferta na Internet. Sou negociado como um objeto. Posso até ter garantia, mas meu destino é incerto. Enquanto isso, milhares da minha espécie apodrecem nos abrigos esperando por uma chance. Um dia o ser humano vai aprender que a estética é o que menos importa, e então o amor irá prevalecer.
Depenados
O lado triste do carnaval ninguém quer ver. Aves como eu são depenadas vivas e têm sua plumagem roubada para virar adereço. Muita gente acha que aquilo que desfila na avenida são fantasias artificiais, quando, na verdade, são naturais. Sobrenatural é a dor e o sofrimento que escondem. Algumas espécies são exploradas continuamente, ano após ano, e, em vez da morte, recebem a escravidão ad eternum. Se para os humanos Carnaval é festa, alegria e euforia, para mim é um grande pesadelo. Essa indústria da tortura também nos depena para enxovais que são recheados de crueldade. Como alguém pode pôr a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo sabendo que para o seu repouso foi preciso tanto sofrimento e tortura?
Caçados
Sob a mira de uma arma eu sinto medo, desespero e fico totalmente vulnerável. É uma disputa desleal e covarde. Muitas vezes erram o alvo, me machucam e eu consigo fugir agonizando. Em outras, chego a morrer, mas acabo deixando meu filhote para trás. Ele também acabará condenado. Como um ser racional, dotado de inteligência, pode sentir prazer em ver outra criatura ser alvejada e sangrar até a morte? Como alguém pode fazer desta crueldade um esporte? Onde existe assassinato não pode haver diversão. A espécie humana evoluiu e não pode mais admitir que essa brutalidade seja legalizada. Todos contra a caça!
Escalpelados
Torturados
Traficados
Violentados
Não quero brigar, mas me treinaram para ficar assim, feroz e alucinado. Querem me ver machucando e matando. Para isso, fui estimulado desde pequeno a ferir incansavelmente. Quem me deixou agressivo foi o homem, que, apesar de civilizado, acaba se revelando o maior dos monstros. Aqueles que gostam de nos ver brigando, participam desse tipo de violência e ainda apostam em quem será o vencedor não podem ser considerados seres humanos “normais”. Certamente possuem alguma psicopatia, por se divertirem com tamanha barbárie. Mesmo isso tudo sendo uma prática ilegal e absurda, ainda acontece em vários lugares do Brasil. E como sempre pode ser pior, existem políticos que querem regulamentar tal “esporte”. Na verdade, esse primitivismo é crime e deve ser combatido.
Abandonados
Encarcerados
Humanizados
*A exposição “Sinta na Pele” está aberta de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingos e feriados das 11h às 20h. O Jardim Pamplona Shopping fica na Rua Pamplona, 1704 – Jardim Paulista. Por conter imagens fortes, a mostra não é recomendada para menores de 14 anos.
Fonte: Conexão Planeta
Créditos: Conexão Planeta