CONTAMINAÇÃO

Arquidiocese mineira orienta padres a não promover apertos de mão em missas

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Risco de transmissão do vírus H1N1 leva comando da igreja católica de BH a recomendar uma mudança de costume. Ideia é que párocos não peçam a fiéis que troquem abraços e outras formas de contato durante as celebrações

Não basta apenas ter fé – é preciso também cuidar da saúde. Em tempos de gripes perigosas e, em alguns casos, mortíferas, como a transmitida pelo vírus H1N1, todo cuidado é pouco até mesmo na hora de rezar nas igrejas. Ciente da situação e “em defesa da vida”, a Arquidiocese de Belo Horizonte orienta o clero a tomar uma série de precauções nesse momento chamado de “circunstância pastoral” (veja o quadro). Entre as recomendações, estão a substituição da tradicional saudação da paz, feita entre a oração do Pai Nosso e a comunhão, por um momento de silêncio, e o recebimento da hóstia (eucaristia) nas mãos.

No domingo, o Estado de Minas acompanhou, em várias paróquias, o convite feito pelos padres para que os fiéis se cumprimentassem, o que intimidou muita gente. “Ao meu lado, um homem tossia diretamente sobre a mão. Na hora da confraternização, preferi dar um tapinha nas costas dele. Fiquei preocupada, pois depois a gente pega a hóstia com a mão, leva à boca, enfim, é um risco”, disse uma dona de casa, que foi à missa dominical, pela manhã, num templo da Região Nordeste. Em outra igreja, um homem ficou constrangido. “Esse costume havia parado e, no momento em que o celebrante pediu para apertarmos as mãos, me deu um certo pânico. Mas acabei aceitando, embora não vá repetir o gesto.”

Em BH, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, já foram notificados, este ano, 555 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), que exigiram hospitalização dos pacientes. Quatro deles não resistiram e morreram por influenza A, dos quais dois positivos para H1N1 e dois por vírus influenza A não subtipado. Os números de Srag já superam o total de 2015 na capital mineira, que registrou 333 casos. Segundo os técnicos, na quinta-feira passada a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) recebeu, do Ministério da Saúde, mais uma remessa de vacinas contra Influenza, que foram distribuídas às unidades de saúde. A previsão é de que os estoques estejam normalizados e as vacinas disponíveis para a população.

CONTÁGIO Nas igrejas, as opiniões dos católicos se dividem a respeito das recomendações para evitar o contágio. Na tarde de ontem, enquanto rezava na Igreja de São José, no Centro da capital, o operador de telemarketing, Guilherme Emmanuel, morador do Bairro Santa Amélia, na Região da Pampulha, informava que teme a transmissão do vírus, preferindo, portanto, um aceno de cabeça em vez do balançar de mãos no momento de dizer Paz de Cristo. “A igreja já adotou essa medida, quando houve um surto grande em 2009. Prefiro a prevenção. O melhor é evitar, nunca se sabe.”

Em outro banco da igreja, a auxiliar de cozinha Nívia Damasceno Alves dos Santos, natural de Almenara, no Vale do Jequitinhonha e residente em Santa Luzia, na Grande BH, confessou não se incomodar. “Não fico preocupada, pois, se o padre pediu para cumprimentar a pessoa ao lado, não devo ficar parada.”

Milhares de pessoas passam diariamente pela Igreja de São José, com maior número das celebrações de domingo, quando há sete missas. O titular da paróquia, padre Nelson Antônio, lembra que o mais importante é manter o bom senso, embora os cumprimentos tenham sido abolidos na paróquia. “Precisamos nos preocupar também com a saúde coletiva e temos procurado, tanto durante as missas como nos nossos informativos, conscientizar os fiéis sobre o H1N1, dengue, febre chikungunya e outras doenças. Afinal, não basta só ter fé, tem que cuidar da saúde”, diz o padre.

Nessa campanha, ele lembra que os padres distribuíram recentemente fôlderes feitos pela PBH com informações sobre a prevenção. Mas há aspectos que não podem ser ignorados. “Se um fiel me pede para receber a hóstia na boca, em vez de depositá-la nas suas mãos, tenho que atender o seu pedido. É direito dele”, diz o pároco.

SEM NEUROSE Diretora científica da Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Torácica, Virgínia Pacheco Guimarães, ressalta que não é preciso haver um clima de “neurose coletiva”, embora considere prudente que o cumprimento durante as missas seja poupado. “As mãos são o veículo de transmissão, assim como a tosse, sem proteção, de uma pessoa infectada”, diz a médica pneumologista. A recomendação é que a pessoa, ao tossir, não ponha as mãos como proteção da boca, mas dobre o antebraço e tussa na direção do cotovelo.

A previsão da Secretaria Municipal de Saúde é de vacinar 669 mil pessoas na capital – até o momento, foram imunizadas cerca de 70% do público-alvo. A campanha de vacinação contra o Influenza vai até o dia 20, nos Centros de Saúde de BH.

 

Fonte: ESTADO DE MINAS
Créditos: ESTADO DE MINAS