Amadeu Robson Machado Cordeiro

Às vezes, olho para o meu pai buscando compreender a sua sabedoria. Vendo-o hoje e sofrendo com a sua enfermidade, que nesse instante tão dolorido e real se apresenta como sendo um bondoso alerta divino, não posso esconder a alegria em recapitular na minha memória a sua história. E, apenas por citação, reflito nas palavras amigas e solidárias dos Desembargadores Artur Moura, Amauri Ribeiro, Joaquim Madruga, Dr. Marcio Roberto veterano Secretário do TJ/PB e tantos outros que se acostam, sem esquecer do velho amigo de mocidade Carlos Ovídio e colegas da turma de 1955, pioneira da Faculdade de Direito. Daí relembro palavras já mencionadas neste cantinho de jornal.

Este homem que eu admiro tanto, com todas as suas virtudes e também com seus limites, é um homem de olhar de menino, alegre, às vezes brincalhão, mas também, as vezes, silencioso e pensativo e que sempre me ensinou a ter flexibilidade nos primeiros açoites da jornada, onde aprendi a me dobrar com decência, tal qual um ramo verde diante dos golpes do vento.

Falar do meu pai coloca-me mais uma vez no divã da minha existência, e vejo num paralelo que a vida é mutante e que os ideais dos filhos muitas vezes se esguia por caminhos ou trilhas diferentes. É o jogo da vida; é a própria busca da sobrevivência por espaço, em tese, que se pensa mais ameno ou fantasioso.

Quanto de nós, pais, não queremos ser um referencial aos nossos filhos? Aliás, devemos ser. Às vezes a índole moral, a personalidade, a resistência às atrocidades da vida são alentos confortantes na formação dos nossos adolescentes que esmiúçam secretamente cada movimento, cada atitude, cada gesto dos seus pretores.

Adentrando minha própria privacidade, relato que certa vez meu pai me indagou se desejaria seguir sua carreira profissional. Foi magistrado de carreira e chegou a Corte maior de Justiça do nosso Estado. Lembro-me, que apesar da pouca idade tal pergunta me constrangeu. De relance, revi até onde a pequena memória podia chegar e imaginei que a resposta não lhe seria favorável. E assim o foi. Sem me perguntar o porquê, seu olhar demonstrou um entendimento fraterno e uma intensa interrogação. Mas o que eu via e vivenciava no seu dia-a-dia, fez-me calar.

Via que sua profissão fora abraçada com amor, dedicação e desvelo. Retidão jamais atacada. Mas tudo tem um preço e naquele tempo não conseguia assimilar a estafante labuta que lhe fazia adentrar as madrugadas, munido de uma pequena máquina datilográfica, distribuindo justiça a quem buscava justiça.

Ele foi um profissional livre, justo e cheio de aspirações realizadas. Ele é feliz. Obrigado, meu pai, pelo exemplo e por orientar o meu caminho, feito de incertezas, mas também de muitas esperanças e sonhos.