Análise: Por que o governo Ricardo Coutinho quer o voto aberto na votação de suas contas na Assembleia?

POR JOSIVAL PEREIRA

Por que o governo quer votação aberta na apreciação de suas contas de 2011 na Assembleia Legislativa?
A pergunta vem à tona exatamente por que a praxe histórica dos governos de todos os matizes (autoritários ou democráticos) é a de usar a obscuridade do voto secreto para aprovar matérias de seu interesse no parlamento. Pratica-se o “toma-lá-dá-cá”, troca-se voto por cargos, usa-se a pressão e a ameaça de corte de privilégios ou simplesmente se compra os votos necessários.
Curiosa, pois, essa posição do governo Ricardo Coutinho, que tem uma situação de larga desvantagem na Assembleia, com uma bancada fiel muito diminuta (entre oito e 14), de defender o voto aberto. Por que não aproveitar o voto secreto para negociar com deputados indecisos ou necessitados? Afinal, existe uma campanha eleitoral às portas e muitas parlamentares certamente estão precisando de grana.
O assunto teria sido discutido pelo governador Ricardo Coutinho com seus articuladores na Assembleia e a orientação para se defender o voto aberto é do próprio governador, discordando diretamente de seus aliados.
Haveria três razões, segunda a versão de um articulador governista, para o governador Ricardo Coutinho defender o voto aberto na votação de suas contas de 2011.
A primeira seria a avaliação de que o governo será derrotado em qualquer circunstância. Ou seja, que não tem mais jeito de atrair o número de votos suficientes para mudar o quadro. Essa conclusão partiria da leitura de que a intenção da oposição é efetivamente reprovar as contas para criar embaraços para o registro de sua candidatura do governador à reeleição.
A partir dessa leitura, viria a segunda razão para a defesa do voto aberto. Existem vários deputados que estão a caminho da oposição no momento, mas que foram aliados e até participaram do governo até outro dia. Alguns nem tiveram motivo para se afastar do governo, como seria o caso de Iraê Lucena, que por acaso estava filiada ao PSDB e tem que seguir o senador Cássio Cunha Lima se quiser registrar sua candidatura.
Há até casos inusitados. Léa Toscano, por exemplo, é filiada ao PSB do governador. Edimilson Soares, apesar de estar filiado ao PEN, já foi aliado próximo de Ricardo. E existem ainda três ou quatro parlamentares que continuam desfrutando de benesses governamentais, mas que estão em partidos que migram para a oposição.
A avaliação do governo é que estes parlamentares se constrangeriam em votar contra no processo de votação aberto e poderiam não ter dificuldade de atender outros interesses em sendo a votação pelo modo secreto.
Outra razão, segundo o interlocutor governista, é que o governador Ricardo Coutinho avalia que grande parte da população vai tomar o processo de votação de suas contas como perseguição política, talvez criando um clima de repulsa, o que faria alguns parlamentares pensarem duas vezes na hora da votação.
Trabalha-se ainda, no governo, com a possibilidade de vitimização do governador Ricardo Coutinho no processo de reprovação de suas contas. A ideia e tentar transformá-lo numa vítima dos adversários sob a alegação de que seria vingança por não ter ele atendido pedidos de empregos para apadrinhados. Lógico que aqui existe certo sonho. A estratégia é de risco, mas também pode dá certo.
Há também um argumento fora da versão governamental. Assegura-se, dentro do governo, que o governador não admite comprar apoios ou votos na Assembleia. Pode ser verdade, mas pode ser somente um discurso para consumo externo. No caso extremado do governador buscar votos por meio da persuasão heterodoxa (a velha compra de voto), a votação aberta poderia inibir o parlamentar comprado de receber e não entregar o produto.
Alguns dos argumentos em tela não exibem muita lógica, mas na política, assim como no futebol, muitas vezes a lógica passa bem distante.

por Josival Pereira