Análise: Denúncias de Couto revelam descontrole na Segurança Pública do Estado

Por Josival Pereira

A denúncia do deputado Luiz Couto (PT) de que estaria novamente na mira de matadores de aluguel põe a Polícia Federal (PF), o governo Ricardo Coutinho e ele próprio numa tremenda saia justa, além da baita confusão que já gerou.

Couto abriu a boca, em pronunciamento na Câmara Federal, por ter recebido da Polícia Federal (PF), por escrito, a informação de que, juntamente com a ex-ouvidora da Polícia Militar, Valdênia Paulino, corria risco de morte em razão da contratação, por servidores da Secretaria de Administração Penitenciária, de dois pistoleiros de Alagoas para assassiná-los.

Além disso, havia um agravante na denúncia: parte dos R$ 500 mil do contrato teria sido transportado numa viatura da Secretaria de Administração Penitenciária.

Conforme documento da PF, as informações teriam sido repassadas por integrantes da Secretaria de Segurança Pública do Estado.

O problema é que o Governo do Estado, através da Secretaria de Comunicação, negou que as informações tenham partido da Secretaria de Segurança e ainda sustenta que as denúncias carecem de fundamento.

Aqui começa a confusão.

A Polícia Federal (PF) está mentindo ou falando a verdade?

Se estiver mentindo, ou seja, se não recebeu informações de integrantes da Secretaria de Segurança, terá cometido um erro gravíssimo, que precisa ser apurado e os responsáveis punidos.

Uma possível mentira suscitaria a suspeita de que alguém da PF estaria interessado em fomentar uma disputa entre os secretários de Segurança e da Administração Penitenciária do Estado ou simplesmente em derrubar o secretário Cláudio Lima, que é da PF.

Se estiver falando a verdade, é a nota do Governo que mente e indicaria descontrole na Secretaria de Segurança Pública, o que é gravíssimo para a segurança da sociedade.

E se integrantes da Secretaria de Segurança repassaram informações à PF?

Levando-se em consideração à seriedade do trabalho da PF e a permanente cooperação entre as instituições, suponha-se que as informações sobre o plano para se executar o deputado Luiz Couto tenham efetivamente partido de integrantes da Secretaria de Segurança Pública. Essa possibilidade também gera uma situação gravíssima.

Se o secretário Cláudio Lima não sabia de nada significa que não tem controle das ações da Secretaria de Segurança Pública ou que o pessoal de sua inteligência trama contra ele. E se não tem controle de sua equipe, o secretário Cláudio Lima não tem controle da Segurança do Estado.

Já se o secretário Cláudio Lima sabia dos fatos e do repasse de informações à PF significa que a intenção última seria atingir o secretário Walber Virgolino (Administração Penitenciária), o que é péssimo para o Governo do Estado e gravíssimo para a segurança da sociedade.

Outras graves questões

A partir do desdobramento ou de repostas a essas questões postas outras se impõe, e não menos graves do que as primeiras.

Se a Secretaria de Segurança Pública sabia das ameaças informou ao governador Ricardo Coutinho?

Se não sabia, menos mal. Se sabia e não informou significa que o governador não tem controle da Secretaria de Segurança Pública.

Já se o governador foi informado é de se perguntar se ele indicou as orientações necessárias para proteger as possíveis vítimas.

Disputa interna e envolvimento de Couto

Seja como for, o episódio é revelador de problemas na área de Segurança Pública do Estado.

Lógico que é lícito a um ameaçado de morte dar divulgação ao fato com certo estardalhaço para intimidar os possíveis agressores. Assim, o deputado Luiz Couto agiu correto para defender a vida.

Veja-se, porém, que este é o segundo ataque direto do parlamentar ao secretário Walber Virgolino em um mês. E em ambos os ataques Couto faz referências aos supostos planos de Virgolino para ser Secretário de Segurança, o que indica sua repulsa a referida possibilidade, assumindo, pois, pelo menos aparentemente, o lado do secretário Cláudio Lima.

Por isso, Couto também pode acabar em sai justa, observando-se ainda que a PF o informou não haver elementos de comprovação das denúncias.

A verdade é existe efetivamente uma disputa dentro do Governo pelo controle da Secretaria da Segurança, com o explícito envolvimento externo do deputado Luiz Couto. O governador não pode ficar de braços cruzados assistindo a esse tenebroso espetáculo.

O Governo vai investigar como deve?

A denúncia de suposto envolvimento de servidores da Secretaria de Administração Penitenciária na possível trama contra o deputado Luiz Couto merece investigação rigorosa em qualquer circunstância. O Governo não pode simplesmente partir do pressuposto de que não é verdade. Deve investigar.

Agora, quem vai investigar? Um delegado da estrutura da Secretaria de Segurança ligado ao secretário Cláudio Lima ou um colega de carreira amigo do secretário Walber Virgolino?

Vê-se, de cara, que uma correta investigação desse fato deveria ser feita por autoridade isenta. O Governo anuncia que fará o pedido ao Ministério Público. Isso vai efetivamente acontecer?

Algo grave

Apesar de todos os desmentidos, a impressão que fica, com um episódio desse porte, é que há algo de muito estranho na área de Segurança do Estado. Dá até medo.