Aliados de Cartaxo preferem confronto com Cícero

Nonato Guedes

Partidários do deputado estadual Luciano Cartaxo, candidato do PT a prefeito de João Pessoa, começam a projetar cenários para um virtual segundo turno com a presença do petista, que passou a ganhar viabilidade depois dos resultados de pesquisas de opinião pública apontando-o na liderança do páreo disputado por sete concorrentes. O crescimento de Cartaxo foi espetacular, o que é atribuído a uma série de fatores, o primeiro deles a baixa rejeição que ele ostenta. Também são encarados como decisivos o apoio do prefeito Luciano Agra, que assumiu a condição de “vítima” ao se sentir preterido no PSB, e o acordo celebrado com o jornalista Nonato Bandeira, ex-secretário de Comunicação do governo Ricardo Coutinho, filiado ao PPS e que, na condição de vice de Cartaxo, age nos bastidores como formulador de estratégias, valendo-se do conhecimento sobre os pontos fracos do esquema socialista, ao qual esteve integrado por muito tempo.

A oficialização da candidatura de Cartaxo dentro do PT constituiu-se um parto laborioso e traumático, devido a resistências emanadas de um agrupamento pró-aliança com o PSB, cujos expoentes foram o deputado federal Luiz Couto, o presidente do diretório municipal, Antonio Barbosa, e o superintendente do Sebrae, Júlio Rafael. Cartaxo contabilizou vitórias sucessivas em encontros internos, ganhou o reforço do diretório estadual, presidido por Rodrigo Soares, e passou a ser respeitado na alta cúpula do Partido dos Trabalhadores, dirigida pelo presidente Rui Falcão, além de ganhar a simpatia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez questão de gravar participações no seu Guia Eleitoral. Movendo-se com habilidade para não perder os pontos de vantagem que amealhou, Cartaxo já se considera no segundo turno, e em posição privilegiada. A dúvida que reina entre seus seguidores é sobre qual adversário (ou adversária) é ideal para o confronto com ele. Até aqui, as opiniões convergem num ponto: o senador Cícero Lucena, do PSDB, seria o adversário mais fácil de ser batido, em virtude do desgaste que enfrenta e por sinalizar a perspectiva de embate entre dois partidos que, na história recente da política brasileira, têm se enfrentado em momentos decisivos.

Os adeptos de Cartaxo avaliam que se o confronto for com José Maranhão (PMDB), de quem ele foi vice em 2009 com a decisão judicial que afastou Cássio Cunha Lima e José Lacerda Neto do Executivo, a disputa pode se tornar difícil. Embora tenha alto índice de rejeição em pesquisas publicizadas até agora, Maranhão disporia de um contingente residual de eleitores fiéis e teria a possibilidade de atrair eleitores órfãos do senador Cícero Lucena, já que ambos (JM e Cícero) evitam atacar-se diretamente, embora haja pressões internas para que eles evoluam para a radicalização. Da mesma forma, os aliados de Cartaxo consideram um risco o confronto no segundo turno com Estelizabel Bezerra (PSB), pelo empenho redobrado que o governador Ricardo Coutinho passaria a ter na campanha, dentro do raciocínio de que eleger a candidata seria questão de honra para infligir uma derrota ao PT, a Agra, Bandeira, a Cícero e a Maranhão. Daí a torcida para que os fatos conspirem no sentido de colocar o petista frente à frente com o tucano. Cícero teria dificuldades para atrair eleitores de Estelizabel e para convencer grande parcela de eleitores de Maranhão, tornando-se vulnerável no contexto.

Luciano Cartaxo tem demonstrado sorte e competência para administrar o crescimento de sua postulação. Dobrou, no PT, a resistência de Antonio Barbosa, que posa em fotografias ao seu lado, como candidato a vereador, neutralizou a influência de Júlio Rafael e deixou sem espaço o deputado federal Luiz Couto, que faz campanha, preferencialmente, em cidades do interior, afastando-se da batalha campal em João Pessoa. A conquista do apoio de Agra acabou transformando o atual prefeito num cabo eleitoral valioso, tanto mais porque ele aprofundou o rompimento de relações com o governador Ricardo Coutinho. Em tese, está quase tudo dando certo, ou soprando a favor de Luciano Cartaxo. Mas o “staff” de sua campanha, além de reforçar o empenho para aumentar seu patamar eleitoral no primeiro turno, preocupa-se em moldar as estratégias que se tornarão indispensáveis no segundo turno. Diferentemente de 1992, quando foi para o segundo turno na capital, com Chico Lopes, e perdeu para Chico Franca, desta feita o PT acredita que a história será contada de forma diferente, com a desenvoltura que Luciano Cartaxo passou a exibir ostensivamente na reta final.