Alguém está emprestando coragem a Agra

Gilvan Freire

A maior perplexidade de quem se detém na análise da conjuntura política em João Pessoa, hoje, é tentar compreender o que se passa na cabeça do prefeito Luciano Agra e suas relações reais com o mundo girassol, de onde surgiu como militante e já foi promovido à condição de protagonista graduado.

De um lado, ninguém jamais decifrará Agra levando em consideração o que diz, vez que, indo por esse caminho, ele ficará reduzido a ninguém, de tanto dizer e desdizer a um só tempo sobre as coisas que todos julgam mais significativas para seus interesses e projetos. É um mestre na arte de confundir e confundir-se.

De outro lado, talvez precisamente por conta desse vai-e-vem, o prefeito revela-se um tipo pouco cuidadoso quanto à imagem política que projeta, especialmente no tocante às suas relações de dependência assumida ao comando de RC, líder máximo da máquina administrativa estatal e estadual, a quem nunca desobedeceu ao longo de muitos anos, por causa disso tendo sido escolhido seu vice e sucessor na prefeitura contra pau e pedra. Pau e pedras duros como o PMDB e outras legendas da antiga coligação de partidos que levaram RC ao pódio e venceram sem ter vitórias.

Imagina-se que pelo menos duas razões tenham levado Agra a mudar de perfil tanto quanto muda agora de atitudes ao sabor dos momentos, numa tentativa de construir uma imagem diferente da oscilante e trivial: um surto de loucura e um sopro de coragem, dois predicados que a política exige para quem quer se perder ou se achar quando ainda é debutante no ofício.

A possível loucura de Luciano vem do contágio das ruas, onde todo cidadão gosta de cumprimentar as autoridades quando elas precisam demonstrar interessadamente uma face de popularidade (coisa que RC ainda não acha que precisa fazer), situação que leva o pretensioso compreender enganosamente que virou santo de andor e procissão, e que pode computar a cada aceno uma multidão de votos em cascata. Essa coisa alucinógena já deixou muitos à beira do hospício, especialmente aqueles candidatos que se acham eleitos por causa desses acenos e não recebem sequer diploma de suplentes. A política chega a ser tão ilusória que, via de regra, engana em massa aos próprios eleitores.

Quanto a coragem, Agra está indo buscar em Nonato Bandeira e Roseana Meira, soldados do exército de RC que descobriram pouco tempo atrás que ou morriam defendendo ele ou se defendendo dele. Mas, de qualquer forma, já sabem que terão de morrer, inapelavelmente, porque o signo desse girassol é de morte, e não de vida coletiva e eterna. Afinal, dito por RC, o próprio coletivo já teve de ser morto, certamente para que pudesse ele mesmo sobreviver. Foi profético.

Há, contudo, uma terceira razão imaginária para decifrar mais uma mudança de Luciano Agra, agora abrindo uma guerra suicida contra RC: ele sabe que Nonato e Roseana estão morrendo à míngua e serão sepultados por Estelizabel, a arma interna mais mortal do exército ricardista, precisamente a bazuca com a qual RC feriu Agra. Assim, quem sabe, diante desse pacto a três que fazem Luciano, Nonato e Roseana, o objetivo da renegada trindade não seja nem a morte em grupo nem a guerra à RC, mas um ataque direto à bazuca, também chamada Estela, para que tudo fique zerado e se recomponha a unidade, até que todos possam morrer solidariamente juntos, atendendo aos sinais dos tempos. É menos mal do que se salvarem uns apenas em detrimento dos demais. Mas, não custa lembrar, na história das grandes guerras, onde mulheres estão na disputa, o ciúme sempre foi considerado também uma arma letal, não raro acontecendo de matar primeiro a quem o maneja.