Alexandres - Rubens Nóbrega

Transcrevo adiante dois comentários sobre a coluna de domingo último, dedicada ao jornalista paraibano Alexandre Torres, ‘O vovô de Alexandra’.

Para quem não leu ou está chegando agora, lembro que Alexandre Torres foi vitimado por hemorragia cerebral na antevéspera do Natal de 2007 e condenado à invalidez por negligência do Hospital Unimed de Brasília, conforme denunciou a família do paciente à Justiça.

No primeiro comentário, médico da minha estima e respeito faz a defesa de sua categoria e critica leigos que, a exemplo do colunista, abordariam assuntos médicos sem base científica alguma, movidos apenas pela emoção ou apreço aos amigos que o demandam para tanto.

A segunda mensagem, do jornalista Walter Dantas, esclarece uma coisa: o que aconteceu de ruim para piorar o quadro de Alexandre Torres tem nada a ver com o Hospital Unimed de João Pessoa.

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Rubens, coluna triste esta que publicaste neste domingo, 15 de maio. Como sabes, também me chamo Alexandre. Um avô meu, Eurípedes, faleceu antes que eu nascesse e o outro, Joaquim, quase não conheci, pois era muito criança quando ele morreu. Não posso, portanto, guardar memória nem sentimento de perda por algo que nunca tive.

É cada dia mais empregado e divulgado pela Psicologia a expressão resiliência, que, resumindo, significa a capacidade que o ser humano desenvolve de resistir e de suportar as perdas da vida, a exemplo dos ‘life events’ com que me deparei no início de minha pós-graduação, há mais de vinte anos.
A minha resiliência esgotou-se este ano. Fechei o consultório. Doravante, trabalharei apenas para pagar minhas contas nos empregos em que sou concursado e em um hospital de cooperativa onde ainda dou um ou outro plantão numa unidade de terapia intensiva pós-operatória, para onde são encaminhados pacientes submetidos a cirurgias neurológicas e de transplantes de órgãos, dentre outras.

Os médicos sempre tiveram entre os filósofos e religiosos seus adversários mais ferrenhos e difíceis. Mas eram mais leais. Ajudaram-nos a corrigir erros, excessos e desvios.

Hoje, os inimigos são outros. Mais poderosos e sem nenhuma intenção de fazer o bem, a não ser o deles próprios.

Impressiona-me, de outro lado, o conhecimento, a certeza e a segurança que tanta gente, que nunca estudou ou praticou a Medicina, tem em assuntos em que os médicos têm pesquisado, estudado e trabalhado há muitos séculos e que ainda não têm.

“Estudar emburrece”. Chegou a hora daqueles que passam mais horas de suas vidas sentados em mesas de bares e de restaurantes assumirem, enfim, os nossos lugares nos consultórios, salas de cirurgia e laboratórios de pesquisa.

Chega ao Brasil o anti-intelectualismo a que se referiu o Professor Jared Diamond, da Universidade da Califórnia. E não conheço nenhuma profissão em que o binômio estudo-trabalho seja mais intenso do que na profissão médica.

Encerro parafraseando um diálogo de uma das últimas cenas do filme Filadélfia: “O que são quarenta ‘médicos’ no fundo do mar? Resposta: Um bom começo”. A “minha” atendente Vânia (‘minha’ entre aspas, pois ela é “serviço prestado” de uma prefeitura da “grande” João Pessoa) me perguntou há quinze dias, comentando sobre a greve na saúde:

– Doutor Hélder, o que seria da gente sem os médicos?
Agora já tenho o que responder:

– Vânia, a humanidade sempre encontra saídas.

Por hora, vou deixar o General matar o Médico. Para tentar salvar o Homem.

(Hélder Alexandre)

PS: Rubão, permita-me uma correção. A escala de Glasgow vai de 3 a 15. Portanto, não podem existir os níveis dois, um ou mesmo zero. Quando o paciente cai ao nível 3 (ausência total de consciência e de reflexos), abrimos protocolo de morte encefálica (antiga morte cerebral) para possível doação de órgãos e tecidos. Essa confirmação só é dada por exames de imagem que comprovam a ausência total de circulação sanguínea no território encefálico.
De Walter Dantas
Caro Rubens, permita-me solicitar-lhe a precisão da informação no que se refere ao Hospital da Unimed em seu brilhante e tocante texto dedicado ao nosso amigo Alexandre Torres, com quem convivi desde os idos da pioneira turma de Comunicação Social do Decom (Departamento de Comunicação, da UFPB).
Sabemos, eu e você, que o Hospital da Unimed referência do texto é de Brasília. E por isso a mim não cabe qualquer ilação de tudo que houve e há entre aquela Singular, Alexandre Torres e seus familiares. Cabe-me precisar que não se trata do Hospital Unimed João Pessoa e assim o faço em vista dos inúmeros questionamentos tanto no ambiente interno da Cooperativa quanto na repercussão alcançada nas redes sociais.
O Hospital Unimed João Pessoa tem histórias que envolveram vários colegas jornalistas, a exemplo de Erialdo Pereira, Martinho Moreira Franco, Agnaldo Almeida e Tony Show. Destes, conheço bem o drama por que passaram e eles podem testemunhar a decisiva importância da assistência médico-hospitalar que aqui receberam.
E o que dizer sobre os quíntuplos Rafael, Lucas, Gabriel, Pedro e Mariana? E sobre o pára-quedista Marco Antônio Castanhon? E Indira Petit, filha de nosso amigo comum José Euflávio? E o que falar dos 77 transplantes – 60 de fígado, sete de coração e dez renais. O que todos têm em comum é a decisiva existência do Hospital Unimed João Pessoa e a competência da Medicina paraibana.
Walter Dantas, Secretário de Comunicação da Unimed João Pessoa.