Agressão a Carlos Aranha

Paulo Santos

Abro este espaço para, com tristeza, repercutir o texto do amigo, irmão e mais do que colega de “batente” Carlos Aranha, que é apenas mais uma vítima da violência que impera nesta cidade, atingindo homens, mulheres e crianças. As autoridades, em seus gabinetes refrigerados, parecem desconhecer a realidade. Leia:

“A letra é de Fausto Nilo. A música, de Fagner. Refiro-me a “Calma violência”. Passados mais de trinta anos de lançamento da composição, será que tenho direito a dizer que minha alma continua pura e em algumas coisas sou inocente? Na linguagem dos bestiais, posso até ser otário; eles não conhecem as suas almas. Eu cantava no quarto, com o estimado violão: … “E a pureza da minh’alma e a minha inocência. Calma violência, violência calma. Minha mão não tem mais palma. Dói a irreverência, violência, calma, brasileira é minha alma”…

Acho que o ano era 1976, 1977, quando morava na Bento da Gama, na Torre. “Baixavam” na minha casa, a qualquer hora. Até Jards Macalé e Jorge Mautner andaram por lá. De fato, não conhecia a violência. A calma era a transmissão da minha alma. Os outros também eram assim. Walter Galvão, Ado, Verônica, Everaldo Vasconcelos e tantos e tantos.

Agora, 2013. Violência na Lagoa. Passava junto ao final de uma das muitíssimas mesas de um quiosque (cujo dono invadiu o passeio público). “Êi!”. Olhei. Um de três caras com idade média de 25 anos perguntou: “E aí, coroa? Senta aqui pra pagar a conta da gente”. “Não posso fazer isto. Não conheço vocês e vou pra casa”. Caminhei só uns cinco passos. Os três me agrediram. Estou com um pequeno corte na testa. Um soco deixou meu supercílio esquerdo roxo. Outro soco: escoriações abaixo do olho direito. Ainda outro cortou meu lábio inferior. Os dedos das seis mãos marginais usavam anéis. Me empurraram e caí no cimento. Chegaram a me chutar, quando fui salvo por um grupo de transeuntes. Os bestiais fugiram. A queda me deixou com as mãos e os dois joelhos cheios de escoriações.

Estou com medo deste país, desta cidade. Fiquei traumatizado: sou um pacifista, um poeta, um cidadão como outros de minha idade (66 anos). Quanta violência em talvez só três minutos.

A sociedade brasileira está ficando brutal. “Calma violência, violência calma”? O saudosíssimo Gonzaguinha compôs “Explode, coração”. Não está vivo para ver que hoje seria “Explode, violência”.

Por que isso aconteceu com Carlos Aranha e acontece com outras pessoas em outros locais da cidade? Porque não há policiamento. Não é de agora que todos pedem menos planos estratégicos e mais policiamento nas cidades. João Pessoa, Campina Grande, Patos, Guarabira, não importa.

Há muita retórica, muitas reuniões, muitas “parcerias”, muitos “projetos”, muito bla-bla-bla e nenhum resultado prático pois tudo isso não leva em consideração um aspecto: falta combinar com os bandidos onde estão planos, essas estratégias serão implementadas. O que aconteceu – e está narrado acima – é num dos locais de maior movimento desta cidade. A Polícia não anda na Lagoa e a população não pode andar na Lagoa.

Os bandidos podem andar, beber, agredir… Eles sabem que não serão importunados. Aranha tem talento, tem espaço e tem coragem para narrar seu drama pessoal, mas muitos não têm esse “privilégio”. Quantos já não terão passado pela mesma situação e não puderam por a boca no trombone?

Não há Polícia nas ruas, as delegacias vivem fechadas, os carros policiais geralmente são encontrados nos bairros nobres e os cidadãos trancados em casa, muitos sem roteadores de wifi como foi encontrado no Presídio do Roger.

E já que o tema aflorou é de se perguntar: será designado um delegado especial para cada crime rumoroso e aparentemente insolúvel? Já são dois casos nessa situação: o sumiço da garotinha Fernanda Hellen (do Alto do Mateus) e o assassinato do palhaço Pirulito (no Conjunto Pedro Gondim). Em pouco tempo pode faltar delegado para outras tarefas.

VEM PRA CÁ, VEM

Quase o mundo vem abaixo porque os torcedores mineiros não suportaram ficar cerca de duas horas sem água na Arena Mineirão, inaugurada domingo passado. Êta povinho pra reclamar de barriga cheia. Imagina se esse pessoal viesse assistir Cruzeiro e Atlético, em Cajazeiras, com a estiagem que assola o Sertão.

REPERCUSSÃO

A ampla divulgação dos embates dos procuradores com o Governo do Estado parece ter causado constrangimentos à cúpula da PGE. Na última reunião do Conselho, por exemplo, o Procurador Geral pediu, com humildade, que fossem evitadas notícias sobre fatos internos. Se a Aspas vai aceitar o conselho, essa é outra história.