O trânsito caótico de cada dia na Aldeia das Neves retorna à coluna de carona nas oportuníssimas observações do amigo Dal, outro que volta a me prestigiar com sua leitura qualificada e preciosas colaborações. Como essa que reproduzo a seguir.
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Rubens, não acredito ser a solução para a cidade a constante inversão do sentido do fluxo do trânsito na Epitácio Pessoa. Só estaríamos transferindo o problema para as ruas paralelas. O que vejo em João Pessoa é a simples falta de planejamento do trânsito a médio e longo prazos, com falta de investimento, principalmente na capacitação dos funcionários da Prefeitura.
Apesar de não concordar com a linha administrativa do prefeito Luciano Agra, o problema não foi criado por ele. Esse problema surgiu 20 anos atrás, pela simples falta de planejamento por parte dos antigos gestores públicos. O que João Pessoa precisa é de uma solução definitiva, com investimento pesado, com novos corredores que sirvam como real alternativa à Epitácio e à Beira Rio.
Por que não criam uma marginal ao rio Jaguaribe (aliviando o trânsito na BR 230), uma paralela a Tancredo Neves, uma rota alternativa à principal de Mangabeira e Cruz das Armas? Essa moda de construir binários e sentido único para determinadas vias nada mais é que fazer gambiarras e empurrar o problema com a barriga.
A PMJP não consegue duplicar a avenida Cruz das Armas, entrada da cidade, não consegue resolver o problema do alagamento da Beira Rio nos períodos de chuva, um viaduto para a BR-230 na entrada para o Geisel, não consegue instalar semáforos nas avenidas Guarabira e Juvenal Mário, em Manaíra. Não consegue por quê? Falta de dinheiro? Ou será por falta de projetos?
Não se investe na infraestrutura da cidade nem na capacitação técnica dos quadros próprios da PMJP (valorização salarial faz parte do pacote) e deixam o trânsito aos cuidados de pessoas indicadas politicamente, geralmente sem competência para gerir os problemas.
Hoje, o trânsito em JP simplesmente não anda. Acreditaram que era só pintar umas faixas de pedestre e todos os problemas estariam resolvidos. Esqueceram de educar os motoristas e principalmente os pedestres. Resultado: onde existem as faixas, o trânsito simplesmente não anda!
Não citei o transporte coletivo porque esse não foi o objetivo inicial da coluna. Se ele fosse mais eficiente e desse conforto e segurança ao cidadão, talvez boa parte da população pudesse deixar os carros em casa.
O colunista responde
Meu caro Dal, a coluna de repique sobre o assunto tratou da parte que cabe ao transporte coletivo nesse ‘latifúndio’. Quanto à mudança na Epitácio, é apenas uma das muitas sugestões da boa cidadania para no curto prazo desafogar o trânsito da capital nos sentidos Centro-Praia e Praia-Centro em horário de pico.
Já sobre o atual prefeito não ter culpa alguma pelos engarrafamentos nos quais nos metemos todo santo dia, porque isso seria resultado da falta de planejamento ou visão dos seus antecessores… Bem, nesse caso, vamos dar uma olhada na carreira do doutor Agra e ver o que ele foi e fez antes de assumir nossa alcaidaria.
40 anos de ‘planejamento’
Segundo o portal da PMJP, ninguém mais que Luciano Agra participou do planejamento (?) da capital. Não nos últimos 20, mas nos últimos 40 anos! É o que diz o próprio currículo do homem publicado pela Prefeitura na internet. Acompanhem.
Mestre em Engenharia Urbana pela UFPB, o também arquiteto Luciano Agra “começou a carreira profissional no final da década de 70, atuando como arquiteto da Coordenadoria-geral de Planejamento da Prefeitura Municipal de João Pessoa”.
Foi também coordenador da equipe técnica responsável pela revisão do Código de Urbanismo da capital em 1979 e gerente do Projeto Cura, pela PMJP.
(…) assumiu a gerência de Infraestrutura da Unidade Administrativa do Projeto Especial Cidades de Porte Médio, do Aglomerado Urbano de João Pessoa na PMJP.
Ainda na década de 80, trabalhou também como coordenador assistente da atual Secretaria de Planejamento (Seplan); foi assessor especial do Gabinete de Planejamento do governo do Estado da Paraíba; arquiteto do Projeto Costa do Sol e primeiro secretário-executivo da Comissão Estadual de Gerenciamento Costeiro.
No período entre 1993 e 1995, ocupou o cargo de coordenador da equipe técnica responsável pela revisão dos Códigos de Urbanismo, Posturas, Obras e Edificações do Município de João Pessoa.
Depois de uma larga experiência na administração pública, e de vários projetos urbanísticos desenvolvidos nos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, Luciano Agra coordenou, em 2004, a elaboração do plano de governo do prefeito Ricardo Coutinho, no primeiro mandato.
Em 2005, assumiu a Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de João Pessoa, e em janeiro de 2009, tomou posse como vice-prefeito da capital também na gestão do prefeito Ricardo Coutinho.
Vamos repartir essa culpa
Para ser bem sincero, a minha lembrança de quando começaram esses terríveis engarrafamentos só vai até cinco anos atrás. Não quero com isso culpar apenas a gestão Coutinho/Agra, por falta de visão de futuro ou de planejamento de ambos.
Concorreu para tanto, e fortemente, acredito, a expansão da nossa economia na Era Lula. O crescimento econômico nos últimos cinco anos deu maior poder de compra à classe média assalariada. Assim, nós também somos culpados porque compramos muitos carros e entupimos as ruas da capital com o nosso conforto sobre rodas.
“Só para chegar hoje e botar a culpa no prefeito e no Mago”, talvez digam alguns dos seus admiradores, seguidores ou bajuladores mais ortodoxos, se lerem isso aqui. Faz sentido. Afinal, como diria o inesquecível e insuperável Ataulfo, ‘a maldade dessa gente é uma arte’. Por conta disso, esse povo não pára de conspirar e apontar incompetências onde ninguém esperava.