Agra e o ‘Lavou, tá novo!’

Rubens Nóbrega

Alguém precisa dizer ao prefeito Luciano Agra, da Capital, que não basta cancelar um contrato com suspeitas de corrupção como esse celebrado entre a Prefeitura de João Pessoa e a Ideia Digital. Tem que apurar, Doutor!

O nosso alcaide, tanto quanto o seu antecessor, Ricardo Coutinho (na gestão de quem foi assinado o contrato do Jampa Digital), age como se não tivesse a menor noção das obrigações de uma autoridade pública do seu nível.

Digo isso porque ele fez a mesma coisa no escândalo da Merenda Escolar, no escândalo do Gari Milionário que virou fornecedor da Emlur e agora repete a atitude no caso do malogrado projeto da ‘Cidade Digital’. Cancela, mas não apura.

Resumindo: ele parece convencido de que cancelando o contrato, o problema está resolvido. Mas, como disse logo no começo, aqui também prevalece o Princípio Gelol: não basta cancelar, tem que apurar.

Apurar quem fez, quem mandou, quem pagou, se rolou propina… E depois de apurar, Excelência, o senhor tem que aplicar as penalidades da lei contra quem for encontrado em culpa, além de fazer por onde o culpado ressarcir o erário.

Não é possível que ele não saiba disso! É tão evidente e tão badalado o dever do gestor público de apurar irregularidades que fico na dúvida se Luciano Agra sabe ou finge que não sabe. De uma forma ou de outra, é ruim pra ele, muito ruim.

Tanto que por não lhe querer mal torço para ele leia ou alguém leia pra ele isso aqui e informe a que o prefeito se arrisca se não mandar apurar denúncia como essa, com tantas evidências de ilícitos contra a administração pública.

Pois, Seu Prefeito, estou avisando: tome tento, cuidado e providências.

Não apurando ou se recusando a apurar, o senhor pode estar cometendo, de uma tacada só, crimes de responsabilidade, de improbidade administrativa, prevaricação e condescendência criminosa, os dois últimos matriculados no Código Penal.

Não dá pra esquecer

Mais um conselho: não vá na conversa, Seu Prefeito, de que a gente vai esquecer mais esse escândalo. Ainda mais depois de saber que o senhor já pagou, no mínimo, R$ 1 milhão e 500 mil por essa lambança digital.

A propósito, Prefeito, o senhor deve estar lembrando que esse dinheiro foi pago em 27 de agosto de 2010, conforme peguei no Sagres, o sistema de acompanhamento de gastos públicos disponível no Portal do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Não dá pra esquecer, não é, Prefeito? Afinal, mais ou menos por essa época o senhor também estava pagando o terreno do Cuiá (quase R$ 11 milhões) e todos esses pagamentos, coincidentemente, foram feitos em véspera de eleição.

Outra coincidência, Prefeito: a Ideia Digital, que recebeu aquele milhão e meio de reais, é tão baiana quanto o genial Duda Mendonça, que por aquela época estaria por aqui, fazendo a campanha de Ricardo Coutinho pra governador.

Por essas e outras, Doutor Luciano, não dá pra não apurar. Inclusive porque na administração pública, se pintar sujeira, não é tão simples a limpeza. Acreditar que ‘lavou, tá novo!’ não é suficiente, acredite.

Ah, e se o senhor não também sabe como é a história do ‘lavou, tá novo!’, preste atenção no ilustrativo comentário do Professor Menezes que reproduzo a seguir.

Diga aí, meu Professor

Sobre o Jampa Digital, suas repercussões e desdobramentos, vejam só o que mandou o Professor Menezes, filosofando em torno de posturas que vagueiam entre a higiene pessoal e moral. Deixo vocês com o ilustre colaborador, a partir deste ponto.

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Meu caro amigo, francamente não compreendo a nossa velha Paraíba de guerra.

Enquanto no Sul os desvios de conduta de autoridades que estão sendo apontados pela imprensa, que cumpre a sua missão de bem informar, vão sendo adequadamente apurados, embora se tenham dúvidas quanto aos seus resultados, entre nós o procedimento parece ser totalmente diverso.
Veja essa denúncia do Jampa Digital. A maioria dos recursos aplicados, já se sabe, era originário do Governo Federal. Isto, no meu entender, já é suficiente para trazer o feito à esfera do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, como está ocorrendo no Rio.

Lá, a investigação já está em curso e os envolvidos já estão sendo chamados ao confessionário. Aqui, tenta-se varrer o lixo para debaixo do tapete, fazendo crer que o simples cancelamento do malfadado contrato limpa tudo, juntamente com a afirmativa de que essa denúncia é parte de uma orquestração contra o atual ministro, que, como secretário municipal, envolveu-se no assunto.

MPF e PF estão mudos e podem sair calados.

Parece até aquela tirada do marido que ao ser informado da traição de sua mulher simplesmente retruca ao informante: “Deixa pra lá. Já passou. Lavou, tá novo!”.

E durma-se com o barulho.


Eleição 2012 em Jampa

Do jeito que vai, é capaz de Luciano Cartaxo acabar ganhando por W.O.