Deixa eu facilitar a vida para você que, por não gostar de política, ignora o que acontece em Brasília e acha que, agora que o PT está sendo defenestrado do Palácio do Planalto, ninguém mais passará a mão na sua bunda (sem autorização, claro).
Vou usar um artifício já adotado aqui. Particularmente, acho o que acontece na capital federal mais sujo e emocionante que Game of Thrones. Mas se você prefere fantasia, vamos lá:
Cunha, um aprendiz de feiticeiro ajudou seu mestre, um obscuro bruxo chamado PC Farias, a usar magia proibida para colocar no trono um dos caras mais sujos do reino, Collor, que se apresentava com ilibado cavaleiro.
Ele sobreviveu mesmo com o rei tendo sido deposto após um escândalo que começou com a doação ilegal de uma carruagem do tipo Fiat Elba e o bruxo, seu mestre, estranhamente assassinado por uma concubina quando estava em fuga em um reino do Oriente Distante. Sobreviveu, mas não sem ser acusado de não ser digno das funções reais que desempenhara.
Daí conheceu um sacerdote que o apadrinhou (literalmente, não estou usando metáforas neste caso). A partir daí, começou a pregar a Palavra Santa na províncias do Rio de Janeiro, negando os rituais pagãos que praticara na juventude. Conhecido e amado pelas massas, foi ungido cavaleiro da corte provincial da Assembleia Legislativa dos Escudeiros e depois na Câmara dos Cavaleiros Deputados.
Lá, ganhou guerras para o rei Lula e depois para a rainha Dilma – que sabiam que, apesar dele pregar a Palavra Santa, continuava usando magia proibida. Em verdade, suas majestades não queriam ouvir sobre tais heresias, desde que o reino funcionasse e tudo aparentasse tranquilidade.
Tornou-se poderoso. Contava com o apoio de muitos cavaleiros sem prestígio do baixo clero, apresentando-se como seu líder. Ao mesmo tempo, fechou acordos obscuros com mercadores das associações comerciais e os artesãos das grandes empresas de dentro e de fora do reino para facilitar-lhes o comércio. Com as moedas de ouro que ganhou, aumentou seu poder junto aos demais cavaleiros.
A soberba dos conselheiros reais, que não conseguiam enxergar nele uma ameaça, pavimentou o caminho para que fosse entronado pelos outros cavaleiros como Senhor da Guerra, impondo uma vergonhosa derrota ao preferido real na Câmara dos Cavaleiros Deputados. Com as contas do reino enfraquecidas por conta das decisões equivocadas tomadas pela rainha, por seu primeiro-ministro e por conselheiros, a coroa se vê, enfim, dependente do Senhor da Guerra.
Ele passa a atender os pedidos de fanáticos religiosos, pequenos senhores da guerra ou senhores feudais, que haviam-no ajudado a chegar ao poder. Mulheres, crianças, estrangeiros e pobres perdem direitos.
O reino passa a viver um período de obscurantismo, piorada pela incompetência crônica da Coroa e pelo oportunismo das outras casas reais que também desejam o trono, como a Casa Bela e Recatada, tendo Michel Temer à frente, a Casa de Ipanema, com Aécio Neves, e a Casa Nem à Direita, Nem à Esquerda, com Marina Silva. Os mais velhos afirmam que a situação era semelhante aos dias que antecederam a Grande Noite, quando inaugurou-se 30 anos de trevas no reino em 31 de março de 1964 anno domini.
Apesar de um antigo tratado haver proibido manifestações religiosas dentro da Câmara dos Cavaleiros Deputados, o Senhor da Guerra permite que um ato de pregação da Palavra seja lá realizado. A injúria foi tamanha que Lorde Roberto Freire, dignatário de uma casa real de oposição à Coroa, bradou que isso era um ultraje e foi atacado por cavaleiros em transe.
Cunha nunca se dava por vencido: ignorando antigas tradições do reino, e independente do que morrer ou se perder no meio do caminho, ele seguia uma batalha até vence-la. Mas lutava apenas as batalhas que desejava, prometendo, por um lado, lealdade à Coroa e, por outro, às diferentes casas reais.
O Senhor da Guerra deixava claro que queria a coroa, mas nunca foi visto como ameaça. Por considerá-lo plebeu, as outras casas reais acham que ele não terá forças para assumir o trono, apesar de precisarem dele para retirar a rainha. Como guerra é a sua profissão e ele vai seguindo a estratégia que mesmo traçou. Quer chegar lá.
Daí, de repente, correram pelo reino acusações de que ele continuava usando magia proibida, tal como o bruxo PC, seu mestre, um quarto de século antes também fizera. Os acusadores dizem que tiveram que entregar muito ouro para o Senhor da Guerra a fim de poderem fazer negócios com o reino. Cunha foi acusado, vilipendiado, tripudiado, taxado de gatuno, de farsante, de salafrário. Descobriu-se que guardava muitas moedas de ouro – ouro roubado do reino – em bancos da Confederação Helvética.
Questionado pelos escribas, disse que faria o que sabe fazer: ir à guerra. E que explodiria a coroa.
Enquanto isso, na Terra das Capivaras, o cavaleiro Moro preparava um ataque direto ao antigo rei à rainha. Tido como o mais puro do reino pelas casas de oposição, ele acabou por usar magia proibida para conseguir seu intento, rasgando o Santo Livro da Constituição.
Mesmo criticado, o plano deu certo. Em descrédito junto aos seus súditos, a rainha ainda tentou trazer o velho rei para atuar como seu grão-vizir, mas foi proibida pelo Conselho dos Anciãos do STF.
Com o tesouro real esgotado diante dos erros da rainha, os mercenários contratados partiram em debandada. E muitos cavaleiros foram convencidos pelo conspirador, Lorde Temer, e por Cunha a jurarem fidelidade eterna à Casa Bela e Recatada. Com a ajuda de Neves, da Casa de Ipanema, ele convocou a Câmara dos Cavaleiros Deputados para decidir sobre a deposição da rainha.
O que se viu foi uma carnificina. Não que a rainha não tivesse cometido seus erros, mas o reino atônito percebeu, assistindo aos debates, que o mais humilde criador de porcos era mais sábio, nobre e virtuoso que a maioria dos cavaleiros.
Logo após a decisão que abriu caminho para a coroa deixar a cabeça da rainha e passar para a de Lorde Temer, os cavaleiros leais a Cunha já exigiam que tanto a Câmara dos Cavaleiros quanto o Conselho dos Anciãos garantisse indulto e salvo-conduto para ele por ter livrado o reino das mãos da Casa de São Bernardo. Enquanto, é claro, sonhavam com todo o outro que poderão continuar roubando sem serem incomodados pelos escribas.
A história não terminou. Mas todo mundo sabe como, muito provavelmente, pode terminar. Com o aprendiz de feiticeiro, tornado o bruxo mais importante do reino, saindo livre, dando uma banana para todos.
Mas é possível mudar o fim. Depende do que farão os súditos, que assistem, bestializados, a essa realidade com cara de fantasia. Estarão eles tão entorpecidos que acreditam mesmo que o mal foi extirpado quando, na verdade, ele está mais forte do que nunca?
Fonte: BLOG DO SAKAMOTO
Créditos: BLOG DO SAKAMOTO