CENSURADO

ABI critica decisão de retirar do ar reportagens sobre a Lava Jato

sencura marcelo euler

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) criticou a decisão da Justiça do Paraná que determinou que fossem retirados do ar textos do blog do jornalista Marcelo Auler, que questionavam a Operação Lava Jato.

“A ABI denuncia o restabelecimento da censura através da decisão da Justiça do Paraná ao determinar a remoção de textos e proibir reportagens sobre a Operação Lava Jato e a Polícia Federal”, disse a entidade em nota.

“A medida proferida pela Justiça de Curitiba [PR] representa também perigoso precedente ao exumar mecanismos de controle da expressão do pensamento usados sem parcimônia durante a ditadura militar”, acrescentou.

Segundo a Folha de S.Paulo, Auler foi acionado na Justiça pelos delegados da Polícia Federal Erika Marena e Mauricio Moscardi Grillo, que integram a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. A defensora dos delegados, Márcia Marena, alegou que o Judiciário não determinou que reportagens sobre a Lava Jato fossem tiradas do ar, mas o conteúdo considerado ofensivo.

Leia o posicionamento de Marcelo Auler no seu blog:

Delegado reclama do blog, pede segredo de Justiça e medida coercitiva contra jornalista

A advogada Márcia Eveline Mialik Marena em petição ajuizada na tarde desta terça-feira (31/05), pediu à juíza Vanessa Bassani uma ação coercitiva contra o editor deste blog por noticiado a decisão dela determinando a suspensão de oito reportagens e a proibição de “divulgar novas matérias em seu blog com conteúdo capaz de ser interpretado como ofensivo”. (Veja em: Justiça retira matérias do blog e proíbe falar do DPF Moscardi)

A petição foi apresentada na ação de indenização por danos morais contra o editor desta página em nome do delegado federal Maurício Moscardi Grillo. Nela, em nome do delegado, foi pedido ainda a decretação do segredo de Justiça na ação, para evitar o acesso da imprensa.

Nesta mesma tarde, a juíza rejeitou o segredo de justiça – “por falta de amparo legal” – e não se manifestou sobre os outros pedidos, abrindo prazo de cinco dias para que os advogados Rogério Bueno da Silva, Tarso Cabral Violin e Thaisa Wosniack, do escritório Rogério Bueno, Advogados Associados, que defendem o blog, se manifestem. Vanessa, porém, ressaltou:

“no intuito de aclarar a decisão proferida à seq. 10.1, esclareço que a determinação liminar foi no sentido de que deve a parte reclamada retirar de seu blog as matérias elencadas no Título “II – DAS MATÉRIAS PUBLICADAS” da petição inicial (seq. 1.1), bem como se abster de divulgar novas matérias em seu blog com conteúdo ofensivo ao reclamante, isto é, com a capacidade de caluniar ou difamar a pessoa do reclamante e que digam respeito aos mesmos fatos tidos como inverídicos e narrados na inicial”.

 Na sua petição, a advogada acusa o jornalista de estar se rebelando contra a decisão do juízo e tentando intimidar e constranger as pessoas citadas nas reportagens aqui publicadas:

“O que nos parece que o Réu também quis fazer com esse ato de rebelião, foi promover a intimidação, tentando constranger as pessoas que cita na matéria. Diante desse evento, requer-se a aplicação de medidas coercitivas aptas a fazerem o Réu cumprir em definitivo a ordem judicial, bem como, retirar a matéria em anexo do site, por propagar fatos inverídicos, extremamente ofensivos e contrariar a ordem mandamental expedida por esse Douto Juízo.
Márcia Eveline, que é irmã da delegada federal Érika Mialik Marena, a primeira a processar o blog, demonstrou preocupação com o acesso da imprensa aos autos, tentando conseguir o segredo de justiça para o processo. Sua justificativa, entre outras coisas, é que a divulgação do que está nos autos coloca em risco a vida do seu cliente, o delegado federal Moscardi. Curiosamente, do processo constam apenas a inicial e os documentos apresentados pela própria advogada, pois até o momento, a defesa do blog só anexou a procuração. Diz a advogada:

 “Ademais, com fulcro no art. 189, incisos I e III, requer o trâmite do processo em segredo de justiça. Os autos estão sendo acessados pela imprensa, que vem divulgando o conteúdo dos artigos e distorcendo a parte mandamental da decisão liminar, não obstante, há na peça inicial dados sobre terceiros, dados referente aos trabalhos desenvolvidos pelo Autor que não são de conhecimento público, e dados pessoais do Autor, que atualmente chefia uma Delegacia de Entorpecentes, sendo que a publicização trazida ao conteúdo dos autos, como tem promovido o Réu, poderia pôr em risco sua integridade física“.
Provavelmente, o que o delegado e sua advogada não imaginavam era a repercussão que as medidas decretadas pela juíza, a pedido deles, provocaria. Tanto a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) emitiram notas oficiais contra a censura – ABI e Abraji protestam contra a censura imposta ao blog. Reportagens sobre o caso saíram nos jornais Folha de S. Paulo, O Globo, Tribuna do Paraná, em quase todos os blogs – Tijolaço, JornalGGN, Brasil247, Cafezinho, Vi o Mundo, Conversa Afiada, e agências de notícias. Na tarde desta terça-feira, uma moção de apoio ao blog e a seu editor foi aprovada na Assembleia Popular, organizada pelas Frentes Povo sem Medo, Brasil Popular e outras entidades e movimentos sociais, reunida na ocupação do Palácio Gustavo Capanema, sede do Ministério da Cultura no Rio de Janeiro . A moção é publicada após a petição da advogada do delegado federal e a decisão da juíza.

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Créditos: PORTAL IMPRENSA