Rubens Nóbrega

Enquanto o deputado Luiz Couto ocupava ontem a tribuna da Câmara Federal, em Brasília, para cobrar de todos os poderes ações efetivas e medidas urgentes para deter a matança de mulheres na Paraíba, em Cabedelo os familiares de Márcia Suelen, 16 anos, aguardavam a liberação do corpo da adolescente para sepultamento.

Na madrugada dessa quinta, o corpo de Suelen, perfurado por 17 facadas, foi jogado no meio da rua de uma vila no Jacaré e entrou para as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Estado como a vítima nº 7312 da onda de violência que está reduzindo tragicamente a população feminina da Paraíba, sem que se vislumbre no horizonte próximo ou distante qualquer chance de estancar a carnificina.

Já em João Pessoa, enquanto o vereador Geraldo Amorim preparava-se para à noite fazer palestra e debater sobre segurança pública com fiéis católicos participantes da Novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Igreja Matriz do Altiplano, em Campina Grande, nas proximidades do Parque do Povo, alguém encontra uma garota de apenas 11 anos com ferimentos e sinais de estupro e espancamento.

A menina deve figurar entre as mais de 30 vítimas desse tipo de crime na Paraíba nos cinco primeiros meses do ano. Em 2011, na contagem do Centro da Mulher 8 de Março, 104 mulheres foram estupradas na Paraíba. Deve ser muito mais, certamente, porque o 8 relaciona apenas casos noticiados e estupro, todos sabem, é a mais subnotificada ou não notificada das barbaridades cometidas contra mulheres.

O pior é que a situação pode ser bem pior, porque já se sabe que a Secretaria da Segurança estaria expurgando dos seus números as tentativas de homicídio. Mesmo que a vítima venha a falecer horas ou dias depois, ela não entraria no controvertido mapa da violência elaborado sob os polêmicos critérios do governo atual.

Mais preocupante ainda é ver o secretário de Segurança Pública, Cláudio Lima, limitando-se a constatar e a manifestar sua preocupação diante da escalada de violência sem esboçar, sinalizar e muito menos anunciar qualquer iniciativa concreta para conter, prevenir, combater, enfim, a violência em geral e contra as mulheres em particular.

 

Falta médico, material…
Este Jornal da Paraíba deve ter chocado muita gente ao publicar ontem, com chamada de primeira página, que ‘Bebê espera há quatro meses por cirurgia’. Remete ao drama de uma mãe que durante esse tempo vem tentando, no Hospital Arlinda Marques, de João Pessoa, fazer operação de cabeça no filhinho de dez meses.

A criança tem craniostenose, “problema provocado pelo fechamento dos ossos do crânio que muda a forma da cabeça e provoca a compressão do cérebro”, explica a matéria do JP, assinada pela jornalista Luzia Santos. “Apesar de o procedimento ter sido agendado no Arlinda Marques, é sempre adiado, ou por falta de neurocirurgião, material para uso no procedimento ou de vaga na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), segundo informou a mãe da criança, Cibele Neves”, complementa.

No Arlinda funcionariam os mais apetrechados serviços de saúde pública da Paraíba voltados para o atendimento pediátrico. Mas o que existe por lá, atualmente, tem se revelado insuficiente e por vezes ineficiente diante da demanda e, sobretudo, das carências e necessidades das pessoas que procuram aquele complexo.

Mas esse é um problema que parece não preocupar muito o Governo do Estado, pois em matéria de saúde o Ricardus I estaria mais empenhado em extirpar dos gastos com pessoal os prestadores de serviço e comissionados afilhados dos novos ‘inimigos do rei’, categoria na qual foram indexados recentemente o prefeito Luciano Agra, a secretária Roseane Meira e o vereador Bira, entre outros dissidentes.
UTI pediátrica: falta leito
Por sua presidente, a Doutora Kátia Laureano, a Sociedade Paraibana de Pediatria vem alertando as autoridades para a grave defasagem no número de leitos em UTIs pediátricas na Paraíba.

“O número total de leitos de UTIP em todo o Estado é escasso, assim como vem aumentando o número de crianças portadoras de patologias crônicas que necessitam de semi-intensiva. Em média, temos um total de crianças de 1 a 17 anos de idade, entre 938 mil, e para esse total são necessários no mínimo 10% de leitos de UTIP, ou seja, deveríamos ter pelo menos 93 leitos disponíveis para essa população”, informa.

Há mais de um mês a situação é do conhecimento das Secretarias de Saúde do Estado e municípios, do Ministério Público e do Conselho Regional de Medicina.

A todos esses órgãos e respectivos dirigentes a Doutora Kátia enviou carta na qual ressalta ainda que “no aguardo de vaga em UTIP os pacientes têm o seu prognóstico clínico comprometido, e, muitas vezes, procedimentos operatórios protelados, prejudicando o índice de sucesso na terapêutica clínica e cirúrgica, comprometendo a saúde e aumentando a chance de sequelas”.

Quando reli ontem esse trecho do documento da SSP imediatamente me veio à lembrança a espera e possíveis conseqüências que poderá sofrer o filho de Dona Cibele por falta de leito na UTI pediatria do Arlinda Marques. Mas isso não deve incomodar o Governo do Estado, ao qual se vincula aquele Hospital, do qual certamente não precisam os filhos pequenos desse pessoal que por infelicidade e equívoco das urnas nos governa.