Arimatea Souza

Abuso

Na edição de ontem, o jornal O Globo destaca que na Paraíba o município de Pombal fixou em R$ 20 mil o salário do chefe do Executivo, “um reajuste de 67%”.
“Com 32 mil habitantes, Pombal pagará a seu administrador mais do que capitais como Salvador (R$ 18 mil), Florianópolis (R$ 19 mil) e Palmas (R$ 17 mil)”, acrescenta o jornal carioca.

 

Brejo
O ´Globo´ cita que em Alagoa Grande (PB), “enquanto os moradores recorrem ao chafariz para ter água e a reforma do único hospital ficou para ser concluída na próxima gestão, os vereadores aprovaram em setembro salário de R$ 18 mil para o prefeito eleito, Bôda (PR) — aumento de 80%”.

Vereadores
Na mesma cidade, de 28 mil habitantes, os parlamentares reajustaram o próprio salário em 62%, de R$ 3.700 a R$ 6.000.

É Natal!
Novamente chegamos ao Natal, essa data mágica do calendário. Instante em que o Deus Menino renasce em nossos corações, retemperando a fé e indicando que o milagre da vida é dádiva perene do Criador.

Exclusão
Particularmente, tenho insuperáveis dificuldades para assimilar o Natal que tem ganhado corpo entre nós: uma absurda celebração sem Cristo.
É como se o anfitrião fosse parte espúria e irrelevante na sua própria festa.

Tradição
Há muito tempo sigo um rito natalino: antes de qualquer confraternização pela data, embalada pelo estômago, celebro o mais precioso: na Igreja, elevando o espírito para dar graças por tudo que me ocorre pela vontade generosa do Pai.

Em revista
Mas igualmente é instante de reencontro, de passear com os olhos pelas casas e mesas, como se fizéssemos uma chamada silenciosa para observar se alguém muito querido deixou de estar presente e por quais motivações.

Companhias
Nesse momento, a dor é profunda. Ao longo de muitos anos minha irmã e minha tia – chamadas este ano à Casa Celeste – eram companhias constantes, ao lado de minha esposa, mãe e filhos.

Vazio
Somente a resignação aos desígnios de Deus conforta a lacuna imensurável. E fica a incontida sensação de que o Natal anterior tinha sabor de despedida e eu não me dei conta disso.
Emerge o sentimento de que economizamos nos abraços, nos beijos, nas conversas.

De prontidão
Não nos damos conta de que somos transitórios, efêmeros nesse mundo.
“Estamos o tempo inteiro em estado de despedida”, enfatizou sabiamente o professor Edmundo Gaudêncio, sexta-feira última, na solenidade de diplomação dos concluintes de mais um período da UEPB.

Lapso
“A vida é um fiapo de tempo”, proclamou o poeta argentino Jorge Luiz Borges.
O inesquecível Ronaldo Cunha Lima ensinava que “a vida é uma eternidade de sonhos na transitoriedade dos instantes”.

Um bom lugar
Dias atrás, uma prima nossa (Adjanete), residente em Pernambuco, ligou-me para relatar o sonho que havia tido com a minha irmã (Luíza).
“Estou ótima, estou no paraíso”, escutou ela. Em assim sendo, repousa no lugar compatível com a sua existência terrena, marcada pela resignação.

Protagonista
Mas voltemos ao sentido do Natal: nascimento de Cristo. A vida desafiando o tempo através de um menino que radicaliza na simplicidade para dar força ímpar à mensagem que, ao mesmo tempo, conduz e encarna.

Amparo
Como é possível deduzir nas linhas acima, encerro um ano de perdas e dores que mutilaram a alma e que só estão sendo suportadas pela fé que nos enche do que pensávamos não possuir; que mobiliza forças onde imaginávamos existir apenas escombros.

Dádiva
Em meio a essas digressões, veio à tona um motivo para sintetizar a alegria do ano inteiro: a graduação, dia 21 último, com louvor acadêmico, de minha primogênita (Deborah) justamente na área jornalística, por pura opção e convicção pessoal, como deveria ser com todo jovem, sem pressão ou interferência dos pais.

Atemporais
E aí recobrei a essência do nascimento de Cristo: independente de nossa crença na ressurreição, na vida eterna, como professa o cristianismo, renascemos com (e através) de nossos descendentes.

Para a posteridade
O filho de Deus – ou os nossos – nos projeta, em alguma medida, para a posteridade, desdobrando-se por netos, bisnetos…
Assim como o que semeamos, escrevemos, praticamos…
Renovada crença
Que as lágrimas da minha egoísta saudade, por querer estar indefinidamente com quem gosto, reguem a infância de tantos Jesus que nascem silenciosamente a cada minuto, incutindo com o marcante choro da chegada a lição de que o Natal é uma renovada aposta de Deus na humanidade.
“Eternidade”, como canta o padre Zezinho, “é, na verdade, o amor vivendo sempre em nós”.
Feliz Natal! Viva-o com o encantamento de como se fosse o primeiro e a intensidade de como se fosse o último…