A tuitada que abalou o reino

Rubens Nóbrega

Secretária: “Governador, o senador vai entrar junto com o senhor?”.
Governador: “Não”.
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Teria sido assim ou quase o curtíssimo diálogo entre a secretária do ministro Fernando Bezerra e o governador Ricardo Coutinho no final da tarde de anteontem, segundos antes da famosa audiência concedida ao mandatário paraibano.

Depois dessa, impossível não dizer: o Campestre 2, quem diria, quase aconteceu no tuíte (ou twitter, para os íntimos e adictos desse ambiente viciante de interação virtual em que também me enxeri por recomendação do cardeal Dom Veras).

Digo quase porque não acredito em rompimento (não agora) entre criador e criatura. Um precisa do outro, por enquanto. E, na política que se pratica na Paraíba, quando os interesses convergem, as divergências adormecem.

Adormecem para somente despertar em períodos eleitorais nos quais os aliados de hoje podem se transformar nos adversários de amanhã por alguma injunção política, circunstância partidária ou idiossincrasia pessoal.

Digo pessoal porque foi no campo do excesso de suscetibilidade, talvez, em que se deu a reação do senador Cássio Cunha Lima à deselegância sincera do governador Ricardo Coutinho em Brasília.

Digo sincera porque parece congênita a inafetividade de Ricardo. Ele seria naturalmente incapaz de perceber o quanto suas palavras ou gestos – ou a falta de – podem ferir, magoar, incomodar ou perturbar os outros.

Outra coisa. Cássio conviveu com Ricardo basicamente por uma campanha eleitoral. Não acredito que tenha dado tempo de fazer evoluir a relação de palanque para uma amizade ou proximidade capaz de gerar confiança mútua.

Fosse amigo, próximo ou convivesse amiúde com Ricardo, haveria alguma chance de Cássio entender e até relevar a grosseria, embora duvide que até mesmo uma fraternidade consolidada consiga evitar ou contornar choques de egos tão inflados.

Como se não bastasse, no entorno de ambos deve ter um monte de gente botando gosto ruim no relacionamento, insuflando o distanciamento, apostando no confronto que para alguns é tão inevitável quanto o dia suceder a noite.

Desse jeito, não tem maturidade política no mundo que resista às intrigas, perfídias e armadilhas postas no caminho de duas lideranças com tamanho potencial para ocupar ou continuar ocupando o poder.

Uma coisa é certa: superada ou não, abalou o reino girassolaico – e como abalou! – a tuitada ressentida de Cássio por não ter sido convidado pelo governador a entrarem juntos no gabinete de Fernando Bezerra.

Prova disso foram as desculpas, mesmo veladas (e já é muito, acreditem), que o soberano correu a tuitar após sair do gabinete ministerial. Desculpas que, pelo visto, até ontem não haviam sido digeridas nem aceitas por seu grande eleitor.
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Ministro: “Oxente, Cássio, pensei que você fosse entrar junto com Ricardo?”.

Senador: “Eu também…”.

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Teria sido assim ou quase o diálogo entre Fernando Bezerra e Cássio Cunha Lima, tão logo o senador entrou no gabinete do ministro, anteontem, boquinha da noite desse já inesquecível 24 de abril do ano da graça de 2012.
Um livro de amor à Paraíba

Peguei emprestado de Gonzaga Rodrigues o título deste tópico para me referir da mesma forma à obra (‘Paraíba – Memória Cultural’) que Chico Pereira lança hoje à noite em Campina Grande, na sede da Federação das Indústrias da Paraíba (Fiep), com apresentação do presidente da Casa, Buega Gadelha.

Artista plástico, professor da UFPB e ex-secretário de Cultura do Estado, o autor escolheu Campina para estrear sua cria no mundo porque ele é campinense da gema. Tanto quanto a editora do livro, a Grafset, a própria Fiep e a Universidade Estadual da Paraíba, que também patrocina esse grande lançamento.

‘Paraíba – Memória Cultural’ dará vez a João Pessoa somente no dia 11 de maio próximo, também às 19h, na Estação Ciência do Cabo Branco. Na sequência, Chico deverá participar de eventos semelhantes em mais duas ou três cidades do Estado, em Brasília e, quem sabe, Rio e São Paulo, pra fechar o firo e o circuito de lançamentos.

Na apresentação que fez do livro (disponível no saite especialmente criado pela Grafset – paraibamemoriacultura.com.br), Gonzaga adianta aos potenciais leitores que a obra “não é uma produção acadêmica e sim um roteiro que tem como fio condutor a própria evolução histórica da Paraíba”.

Assinando o texto como presidente da Academia Paraibana de Letras (APL), Gonzaga diz ainda que o livro de Chico contém “uma extensa bibliografia e do muito que se produziu nos últimos anos, via jornais e revistas, entre outras informações, buscando interpretar e escolher o que se impôs como registro marcante tanto do ponto de vista popular quanto do crítico”. E arremata: “É um livro, sobretudo, de amor à Paraíba e ao gênio ou à riqueza de talento dos seus filhos”.

Pois bem, talento é o que não falta ao autor, dono ainda de formidável densidade intelectual e de respeitada capacidade de trabalho. Trabalho acurado, primoroso, que o leitor vai encontrar e perceber em cada página desse livro que por todos os créditos e méritos pode muito bem ser chamado – com toda justiça – de obra monumental.