Polêmicas

A seca grita. Quem ouve?

Gilvan Freire

A atuação medíocre de todos os níveis de governo no amparo as populações atingidas pela seca impiedosa que se alastra sobre a região nordestina neste momento, entrando em sua pior fase, é a repetição do que sempre acontece quando o povo nordestino precisa de alguma proteção governamental.

Na Paraíba, mais do que em qualquer outro estado da região, a situação está agravada porque o governante de plantão é uma catástrofe a parte e, em vez de corrigir os desníveis que maltratam setores da população mais vulneráveis, estabelece um governo de crises dentro da crise social da seca.

Já se vem dizendo a algum tempo que é impossível esse modelo de gestão dá certo, tendo em conta os conflitos internos que impossibilitam uma ação governamental saudável, que contemple os interesses mais urgentes do povo.

A ASSEMBLEIA SE MOVE (E SE COMOVE)

Embora se presuma que a seca esteja chegando ao final, embora cumprindo ainda sua escalada mais penosa, a medir pelas opiniões recentes do cientista Luiz Carlos Baldicero Molion, um dos mais acreditados e sérios climatologistas do mundo, baseado em sua cátedra da universidade de Alagoas, para quem os fenômenos de aquecimento do Pacífico estão se dissipando, a verdade é que o povo nordestino continua abandonado pelas lideranças políticas locais e nacionais em mais um drama de êxodo e desesperança. Com o tipo de homem público predominante no país e na região, isso é o normal, o tradicional, somente quebrada a lógica política perversa de dominação e exploração porque a insensibilidade parte agora de uma mulher, chamada pretensiosamente e petulantemente de presidenta, com esse ‘a’ que melhor caberia em ‘ausente’, para definir as ações de seu governo no atendimento às populações massacradas à míngua de políticas públicas condizentes com a situação.

De qualquer forma, pelo menos a Assembleia Legislativa da Paraíba toma uma decisão digna: leva os representantes dos pobres até onde eles sofrem suas mazelas, para que não se achem sós nem isolados como os leprosos na antiguidade não muito remota.

Os deputados não levarão cestas básicas, água ou recursos (nem chuvas), mas colherão depoimentos candentes e flagrantes fotográficos que atormentarão mais tarde a vida dos que se omitem em hora de choro, gemidos e flagelos de vizinhos não tão distantes de nós. E deixarão por onde passarem a sensação de que o Parlamento ainda não morreu de fome humana e sede moral.