A rotina da insegurança

Por Gonzaga Rodrigues

O rosto de Clodoaldo Antonio da Silva, o empresário que a rotina da insegurança assassinou neste último fim de semana, em sua loja de materiais de construção, em Cabedelo, é desses rostos que todos desejam conhecer. Que nos dá a impressão de já termos visto. Que nos leva a achar parecido com pessoas do nosso bem ou admiramos. Um rosto de gente boa, de homem de bem, pela tranqüilidade de consciência refletida em seus olhos, na paz das suas feições.

Pois bem, é em rostos assim que eles atiram. Rostos desarmados que não causam perigo. Rostos de homens decentes e de crianças inocentes. Rostos que não pegam em arma, as crianças por não conhecerem o perigo ( abrindo os braços e o sorriso ao cão mais feroz) e os homens de bem por acreditarem que, por isso mesmo, por serem de bem, estão protegidos.

Entre civilizados era para ser assim, não há dúvida. Mas nem mesmo em países assim considerados, com bons índices de desenvolvimento cultural e social, a segurança é relaxada. Pelo contrário, quanto mais civilizada mais rigorosa. Vê-se logo na entrada, pelo tratamento, muitas vezes estúpido na fiscalização e policiamento dos aeroportos. Em Portugal, no embarque para a França, tive de afrouxar as calças a uma virago da polícia para quem todo mundo é contrabandista.

“Baixe as calças!”- ouvi incrédulo naquele português duro, de pedregulho.

Até para preservar a begônia de uma praça existe um guarda. Uma parenta, em companhia da filha, visitando o interior da França, intentou, mas nem chega a tocar numa begônia da praça, logo apareceu o guarda. Como era visitante estrangeira, quem levou a reprimenda foi sua acompanhante.

Segurança pronta a atender a cidadania, em qualquer lugar e circunstância, custa caro. Mas é o preço que se deve pagar pelas regalias da civilização ou da condição urbana.

Quanto mais civilizado, mais o estado se faz armado. Quando o estado não tem condições de se armar contra o inimigo invisível, que não é o invasor estrangeiro, mas os patrícios à margem de direitos e deveres, então o estado não deve desarmar os seus cidadãos, deixá-los à mercê da bandidagem super-equipada e facilmente armada.

Na antiga base de o risco que corre o pau, corre o machado, não se matava com tanta ausência de embaraços.