A que ponto eles chegaram!

Rubens Nóbrega

Mesmo se tivesse algum talento para a ficção, jamais construiria uma trama tão intrincada, tão nebulosa e com tantos personagens e episódios tristes e deploráveis como esses a que estamos assistindo agora na Paraíba.
Mas a fita em cartaz, sob o título de ‘O Caso Urquiza’, mostra que determinadas figuras conseguem fazer com que a realidade seja muito mais criativa na produção de enredos sobre degradação da vida pública em nossa perplexa e brava Pequenina.
Fico imaginando que a cena de abertura poderia ser assim: alguém anunciando que a péssima governança levou a Paraíba ao fundo do poço, enquanto na tela rolam imagens de gente do poder cavando um pouco mais.
Enquanto isso, algum herói popular e genuíno sobe na mesa de bar e faz discurso pra vereador, feito o bêbado da canção, indignado porque secretário da Prefeitura da Capital ganha mais de R$ 15 mil por mês, mas tem uma filha inscrita no Bolsa Família.
Na sequência, o secretário ocupa emissoras de rádio para se defender e complica a própria situação ao admitir que a filha está no cadastro de pobres assistidos pelo Governo Federal porque precisa comprar um apartamento para morar.
Nesse caso, a suposição natural é de que a moça forneceu informações falsas ao governo, de que seria pessoa carente, quando na verdade é dependente econômica de um pai que recebe de salário mais do que 98% da população paraibana.
Roda mais um pouco e entra o prefeito da Capital para piorar o que já era ruim. O homem é pilhado no twitter praticamente implorando ao secretário para renunciar ao cargo e ficar quieto, sob promessa de recompensa.
Nesse momento, a audiência aguarda ansiosa que o Chapolin Colorado ou o Ministério Público apareça para nos salvar. Que nada! Quem aparece é o governador Ricardo Coutinho pra tirar sua casquinha eleitoral da trapalhada municipal.
Mas aí a câmera abre e na tela aparece uma galera irada, dizendo que ele chamou todo mundo de desmemoriado ou burro, lembrando que o inesperado vilão até pouco tempo atrás era pessoa da mais absoluta confiança de Ricardo.
Um dos figurantes, mais atrevido, pergunta que moral ele tem pra falar que demitiria Urquiza no ato se ainda fosse prefeito se, já governador, premiou com gorda aspone secretário pilhado em escandalosa compra de kits escolares.
Outro, dedo em riste, manda ver: “O senhor pensa que a gente esqueceu que Urquiza foi seu chefe de gabinete, seu superintendente da Emlur na Prefeitura e o candidato que o senhor mais apoiou para a Câmara ou Assembléia?”.
Ricardo desaparece sem dar respostas; em seu lugar, surge um promotor ou procurador de Justiça, não dá pra ver direito, oferecendo a Urquiza ingresso no programa de proteção a testemunhas em troca de delação premiada.
O secretário não aceita. Prefere atender ao prefeito. Divulga nota à imprensa comunicando sua demissão do cargo e deixa bem claro que se todos eles ainda estivessem juntos e misturados “nada disso estaria acontecendo”.
O filme termina com Urquiza voltando ao velho Cefet para reassumir o cargo de professor. Já fora do cinema, muitos que assistiram vão pra casa com a certeza de que o silêncio do demissionário será recompensado, conforme prometeu o chefe.

 

Catão esclarece sobre
folha do Estado

A propósito de comentário publicado ontem neste espaço sobre atraso na divulgação dos gastos com pessoal do Governo do Estado, o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Fernando Catão, enviou o esclarecimento a seguir.

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Senhor Jornalista,
Sobre matéria de sua coluna publicada, nesta quinta-feira (27), no prestigioso Jornal da Paraíba e intitulada “Estado desatualizado do Sagres”, temos a esclarecer, para reposição dos fatos, o que segue.
1) Mais uma vez, informamos que os dados de Receitas e Despesas referentes ao mês de agosto, tanto dos Municípios quanto do Estado, são entregues ao TCE, por norma, até o final de setembro, e disponibilizados à sociedade até o dia 15 do mês subsequente ao da entrega.
2) Esclarecemos, ainda, que os dados da Folha de Pagamento do Estado, diferentemente daquelas dos Municípios, que têm remessa mensal, nos são entregues, bimestralmente. Desta forma, os dados de julho e agosto por Vossa Senhoria reclamados serão encaminhados ao Tribunal até o final deste setembro.
Pelo exposto, rogamos a publicação destas explicações, tendo em vista que não existe o atraso atribuído ao Tribunal de Contas por Vossa Senhoria.
Fernando Rodrigues Catão
Presidente do Tribunal de Contas do Estado

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Não atribui atraso algum ao TCE. Apenas questionei porque o Ricardus I ainda não fornecera os dados ao TCE, para em seguida aventar a possibilidade de o governo ter fornecido e o Tribunal não ter ainda implantado as informações no Sagres.
Outra coisa: na explicação que me enviou sobre o assunto no 11 de setembro, o Doutor Catão não disse que a remessa dos dados da folha do Estado é bimestral, e não mensal, como a dos municípios. Tivesse dito, o questionamento não teria sido feito.