A próxima vítima

Rubens Nóbrega

Pra quem fecha escolas e hospitais sem o menor pudor ou remorso, seria café pequeno fechar um projeto de irrigação, mesmo sendo esse projeto capaz de colocar a nossa pobre base agrícola em patamar superior.

Mas é o que pode acontecer com o Projeto Várzeas de Sousa, que se encontra em situação muito difícil, segundo o engenheiro agrônomo José Antunes de Oliveira, que conhece como ninguém o empreendimento.

Por 16 anos, de 1995 a 2011, ele foi o Gerente Executivo de Irrigação daquele Projeto, cargo que entregou em julho do ano passado. Mas não largou o interesse nem a dedicação à coisa pública.

Disposição e desprendimento do agrônomo podem ser comprovados na leitura de trabalho de sua autoria, intitulado ‘Projeto de Irrigação Várzeas de Sousa – Uma análise crítica construtiva’, que ele me remeteu esta semana.

Com essa contribuição, Antunes quer tão somente chamar a atenção para “a situação crítica do Perímetro Irrigado Várzeas de Sousa e, ao mesmo tempo, oferecer sugestões para a melhor destinação dos recursos financeiros investidos no Projeto”.

Para fazer isso, ele tem, contudo, que mostrar e revelar, por exemplo, que em 2009 foi assinado termo de compromisso entre os governos federal e estadual assegurando R$ 6.749.768,08 para executar a operação inicial do Projeto. Mas, talvez por falta de compromisso do governo atual, não foi irrigado um centavo sequer daquele dinheiro para as Várzeas de Sousa.

Digo isso porque em dezembro de 2010 o Estado recebeu uma primeira parcela, de R$ 2.024.930,42, e até hoje… A grana, liberada no Maranhão III, ficou para ser aplicada pelo Ricardus I. Mas esse governo não aplicou um tostão do dinheiro federal, embora o anterior, pelo que entendi, tenha dado contrapartida que fez o valor do financiamento alcançar R$ 7.499.768,08.

Temendo pela completa desestruturação do Projeto, Antunes procurou este colunista para expor o que sabe, pensa e propõe. O que se quer é salvar um investimento que já consumiu cerca de R$ 250 milhões em recursos públicos.

É preciso dizer também que há 60 anos a irrigação das Várzeas de Sousa já era pensada e estudada e teve sua viabilidade técnica e econômica aprovada por organismos nacionais e internacionais de pesquisa nessa área, lembra José Antunes.

De minha parte, lembro que o sonho virou realidade graças à determinação do inesquecível Antônio Mariz e à operosidade de José Maranhão, que em 1995 começou a construir o Canal da Redenção, equipamento fundador do Projeto.
O que está em jogo
O Projeto Várzeas de Sousa é, sem dúvida, “a maior iniciativa pública para o desenvolvimento da agricultura irrigada do Estado da Paraíba”, como atesta José Antunes, que fornece os dados referenciais da grandeza do empreendimento. Vejam.

• Irrigação de uma área total de cerca de 4.300 ha distribuídos em 178 lotes para pequenos produtores, 18 lotes empresariais com áreas variando de 27 a 293 ha, além de áreas destinadas à pesquisa, experimentação e extensão e um lote, com área de aproximadamente 1.000 ha, cedido ao Incra para o assentamento de 141 famílias.

• Entre outros, a infra de irrigação do projeto é composta do canal adutor (Canal da Redenção), com 37 km de extensão e capacidade de vazão de 4 m3/s; Reservatório de compensação com capacidade de 150.000 m³, dotado de comporta hidráulica e comporta de nível; Canal de interligação com 150 m de extensão; Subestação elétrica com linha de transmissão de 69 kV, com dois trafos de 2.500 kva e quadro de comando e Estação de Bombeamento contendo sete conjuntos eletrobombas apresentando motores elétricos de 850 cv / 2.300 V e bombas com vazão unitária de 2.880 m³/h.

Tem mais, muito mais, mas, por enquanto, vamos ficar somente nesses porque já seriam por demais suficientes para nos convencer de que patrimônio tão caro e tão importante para o nosso Estado não pode ser destruído pela desídia de qualquer governante ou governo.
Voltarei ao tema amanhã, trazendo informações de José Antunes sobre como está o Projeto, atualmente, sobre os entraves à sua conclusão e operacionalização e o que esse governo fez ou deixou de fazer pela agricultura irrigada da Paraíba, que pode ser a próxima vítima de uma gestão rançosa, perseguidora e, além de tudo, ruinosa.
Coletivo ainda roda

De Potinho de Veneno, que pega até quatro ônibus por dia e, portanto, entende de mobilidade urbana mais do que Agra e de coletivo mais do que Derval Golzzio: “O Coletivo Girassol não acabou. Só mudou de rumo e lotação, mas o condutor e o cobrador, tanto quanto os nossos ídolos, ainda são os mesmos. É Ricardo lá na frente, dirigindo, e Coriolano lá trás, só recebendo… As passagens, camarada! As passagens!”.
Provocando Cássio
De Gosto Ruim: “Já que Cássio Cunha Lima entende e recebe como provocação qualquer cobrança ou apelo para que ele fale alguma coisa, nem que seja pra gente ouvir a sua voz, aqui vai mais uma. Aposto, senador, que Ronaldo gostaria de ver o filho falando sobre os problemas da Paraíba e não apenas sobre problemas de saúde do pai”.