Gilvan Freire
Não haverá um só mês durante o governo de Ricardo Coutinho em que não haja contra ele um descontentamento de pessoas ou setores da sociedade. E não será um desgosto injusto desses em que só o governador tenha razão. Prevalentemente, serão protestos da parte de quem está sendo vítima de uma grave injustiça, de uma descortesia pública, como a que aconteceu a Wilson Braga, ou de uma afronta descabida e tirânica, como ocorreu ao professor Abrão, diretor eleito democraticamente pela comunidade escolar do Liceu Paraibano, enxotado do cargo por ato de força.
Nos dois casos, afora centenas de agressões sofridas por entidades e indivíduos na rotina dessa nova Paraíba de doidos varridos, há um recado embutido dirigido a mais gente, que quer dizer mais ou menos o que o ditador Garrastazu Médici¹ exigiu da nação naqueles tempos sombrios:“Brasil, ame-o ou deixe-o”, um slogan massificado pela propaganda da ditadura que tinha o objetivo de forçar o povo a amar o país aceitando e amando a tirania e ao próprio Médici. Todo ditador tem a mania de confundir ele mesmo com a pátria. Se é assim, Ricardo ainda poderá ser muito amado na Paraíba, a começar por Wilson Braga, que dá seu silêncio de deplorável conformação em troca de favores públicos e desrespeitos governamentais. Já não se discutem mais as questões de honra, porque ao rei será dado tudo, ao contrário do que ensinava o intrépido Djalma Marinho² diante da fúria dos déspotas: “Ao rei tudo, menos a honra”.
Cássio pode ser moído
O governo de Ricardo, que é a maior máquina pública do país, hoje, na fabricação de crises (até quando, como a máquina de triturar a agave, corte as mãos do próprio dono) está colocando Cássio Cunha Lima na plataforma de moagem. Ricardo ainda aguardará a definição judicial do chamado Caso Cássio, para saber o tamanho que terá a próxima vítima que ele pretende triturar. Mas para o coletivo de Ricardo Coração de Leão, a bola da vez é Cássio. E é urgente.
Caberá ao ex-governador Cássio medir seu próprio tamanho e força, dois atributos que parece ter de sobra para enfrentar a máquina trituradora de Ricardo, que não poupa ninguém, nem mesmo aliados que eventualmente tenham instalado no poder a própria indústria de crueldades. Se Cássio estiver eleitoralmente tão grande como o vê o imaginário coletivo, poderá ser refugado pela moenda na hora da moagem. E aí talvez reste a Ricardo a alternativa de dragá-lo aos poucos, pedaço por pedaço, como já vem acontecendo ultimamente.
Os se’s da equação
Se Cássio for osso duro de roer, por qualquer razão social ou humana, a máquina mortífera de Ricardo vai enguiçar, e a solução para evitar o pior talvez seja vomitar a presa, dar marcha à ré, e aguardar outro instante, até que a máquina amplie sua capacidade de trituração, ou Cássio diminua de tamanho.
Mas, se tiver de reagir contra o moinho que ele próprio inventou para se defender de outros predadores, Cássio precisará se unir às velhas máquinas inimigas, pois seu risco de morte não está nas mais antigas e sim nas novas indústrias de demolição instaladas na Paraíba, recentemente. E essas novas precisam engolir alvos grandes para testar sua capacidade de esmagamento, vez que os pequenos já estão devorando aos montes. Mas é dos grandes alvos que Ricardo precisa se livrar, para não ser atropelado por eles, ou ter de enfrentá-los mais crescidos depois.
Ricardo se excita com esses exercícios de combate e tem um prazer orgástico quando precisa defenestrar um concorrente, ainda que já tenha sido seu aliado ou protetor mas que se ponha a frente de suas desmedidas ambições. Fica como quem pratica o esporte perigoso das esgrimas mas não percebe que os riscos não estão apenas nas espadas, sabres e floretes, e sim no próprio corpo usado como escudo.