A propósito das tiranias

Hélder Moura

Meu caro Dércio, você praticamente tem me intimado a escrever. Tenho resistido, não por que não queira, afinal escrever é um dos ofícios mais caros para mim. O silêncio, muitas vezes, diz mais, me ensina o mestre Walter Santos. Entretanto, não poderia fugir eternamente à sua convocação.

Mas, escrever sobre o que exatamente, nesses tempos modernos em que dizer a verdade se tornou provocação, meu caro Gilvan Freire? Veio me acudir Paiakan. Ele me aconselhou a versar sobre a tirania, esse fenômeno que aflige as gentes desde os tempos mais passados, cara Lena Guimarães.

“Os meios que a tirania emprega para conservar a força… (são, entre outros) reprimir aqueles que tenham alguma superioridade, fazer matar os homens que possuem sentimentos generosos”. Meus diletos Lenilson e Marcelo José, não lembra o que patrocinou Stalin na Rússia?

Stalin, que se auto-batizara de “pai do povo”, foi acusado de chacinar 20 milhões de cidadãos russos, apenas por suspeitar de sua lealdade. E mandou assassinar Leon Trotsky, no México, a machadadas, porque, apesar de também ser socialista, tinha sentimentos mais nobres e isto causava inveja ao tirano, amiga Marcela Sitônio.

Eis, Clilson Júnior, o que o filósofo alerta ainda sobre a prática do tirano: “Também é preciso saber tudo o que dizem e fazem os súditos, ter espiões… porque fala-se como menos liberdade, quando se teme ser ouvido por tais pessoas, e quando se permite falar, menos pode o tirano ignorar”. O que isto lhe diz Paulo Santos?

Todos os tiranos mais modernos usaram essa prática, considerado Janildo Silva. Hitler estimulava os filhos delatarem os pais. Mussolini instava as mulheres denunciarem os maridos. Pol Pot, no Cambodja, se comprazia em assassinar aquele que foi delatado e, pouco depois, o próprio dedo-duro. Pra não repetir contra ele. Sem dúvida, uma ironia macabra, João Costa.

“Outro recurso da tirania é empobrecer os súditos, para que os cidadãos, obrigados a trabalhar e viver pensando só no dia presente, não tenham tempo de conspirar… Os impostos constituem outro meio.” Não faz recordar o que Pinochet patrocinou no Chile, caros amigos Gutemberg e Nilvan?

Todos os tiranos, Albeni, Miltinho e Verônica, gostam de bajuladores, “aqueles que lhe fazem a baixa corte, eis porque a tirania ama aos maus, que que ama a lisonja, vício ao qual mais se abaixa o homem que tenha coração livre. Os maus servem para fazer o mal…” Aliás, essa uma prática muito em voga, caro Heraldo Nóbrega.

Atente, Vanderlan, para o que diz o filósofo: “Também é do caráter do tirano não se comprazer na sociedade dos homens graves e livres, porque ele tem a pretensão de ser o único que possui essas vantagens… aquele que afeta sentimento de nobreza e liberdade, tira ao tirano a sua superioridade e força e, em consequência é odiado como um rival.” Vocês não concordam, caros Juarez Amaral, Dagoberto e Paulo Roberto?

De qualquer modo, eu só dei crédito a todas essas observações, considerado Rubens Nóbrega, após reler o Capítulo 9, do livro “A Política”, de Aristóteles, e pinçar algumas de suas temerárias palavras, dileto Alex Filho. Aliás, espero, ardentemente, Carlos Magno, que o filósofo não seja defenestrado por ter dito tantas e tais verdades, que podem soar como provocação nesses tempos modernos.

Todos nós, meu caro Maurílio Batista, repudiamos essas práticas da tirania, tão bem capituladas por Aristóteles. E desejamos piedosamente que ela jamais se instale na Paraíba. Não queremos um Stalin, Hitler ou Idi Amim Dada por essas latitudes. Rogamos, portanto, a quem identificar qualquer candidato a tirano, caro Fuba, que denuncie. Pelo bem do nosso Estado.

Até mais ver, meu caro Dércio.