A ONÇA VAI BEBER ÁGUA

Por Paulo Santos

Há muito a política paraibana vem se arrastando num modorrento cipoal de amadorismo. Finalmente surgem vestígios de que alguns bons profissionais do ramo decidiram fazer política, mesmo que a plebe rude tome isso como politicagem, pondo fim às discussões quase esquizofrênicas sobre o rompimento do grupo político comandado pelo senador Cássio Cunha Lima e o esquema aboletado no Palácio da Redenção sob coordenação do governador Ricardo Coutinho.

Com o desaparecimento de várias figuras paraibanas que praticavam a política profissional – João Agripino, Ernani Sátyro, Abelardo Jurema, Fernando Milanez, Joacil Pereira, Vital do Rêgo, Tarcísio Buriti, Humberto Lucena, Antônio Mariz, Ronaldo Cunha Lima e vários outros – era natural que fosse formado esse vácuo de gerações.
Os poucos verdadeiramente profissionais que ainda causam empatia junto à população – o ex-governador José Maranhão e o deputado Wilson Braga – dão demonstrações de que os cordões da política têm que se manietados pelos Mais jovens, com todos os riscos que isso possa oferecer.
O processo conduzido pelo PSDB, nessa caminhada pelo afastamento de Ricardo Coutinho, está sob o comando de Cássio, mas tem um auxiliar importante na arquitetura da decisão: o presidente estadual do ninho tucano e deputado federal Ruy Carneiro. Os demais são metos coadjuvantes.
E o PSDB, sob a condução da dupla Cássio-Ruy, fez o PSB da Paraíba provar do mesmo veneno que foi aplicado pelos socialistas na presidente Dilma Rousseff e no PT: a ruptura lenta e gradual, a manipulação da mídia, o crescimento paulatino da expectativa sobre a possibilidade de uma candidatura e, enfim, a sugestão da entrega de cargos. Tudo isso estava na cartilha de Eduardo Campos e assimilado pelos tucanos da Paraíba.
É preciso esperar a reação do esquema político de Coutinho. É certo que sua reeleição pode estar fazendo água, mas é previsível que a critura morra de pé diante dos seus criadores. Ricardo conquistou suas vitórias emparedando o clã Cunha Lima até servir de instrumento do poderoso grupo campinense para defenestrar Maranhão.
Se o afastamento não tem volta, o jogo de aproximações começa agora. Até o prazo fatal estipulado pela legislação os dois – Ricardo e Cássio – tentarão atrair o máximo de partidos e lideranças para seus condomínios políticos e isso causará, sem dúvidas, sérios prejuízos para o sonho do PMDB de retomar o poder estadual. Esses são outros 500.
O profissionalismo político não depende da vontade dos partidos nem do eleitor. É mérito dos líderes e a Paraíba, carente de líderes e discursos consistentes, deve observar os acontecimentos (sobretudo o volumoso contingente de sabe-tudos da imprensa) pode ser novamente enganada pelas falsas promessas, pelos projetos mirabolantes que nunca serão realizados.
O grande problema reside, agora, na mediocridade que cerca os profissionais. Há que se ver, por exemplo, se Ricardo Coutinho terá quadros para preencher as lacunas deixadas pelos tucanos. É certo que os aproveitadores vão querer ocupar todos os espaços, mas isso pode levar o Governo de vez para o fundo do poço.