A loucura não tem limites

Gilvan Freire

Mesmo Sheikspeare afirmando que a sanidade mental é uma ficção, a humanidade toda sempre considerou as pessoas normais ou anormais quanto a saúde mental. A questão é saber quais os limites da normalidade ou da anormalidade e a fronteira entre um tipo e outro. Não é coisa fácil.

Por exemplo, há normais tão variáveis que ninguém sabe se eles estão antes da fronteira, ou se já pularam a cerca. Gente bobinha, que parece retardada, quando não retardada for. Por outro lado, há os instáveis psicológicos, indecisos, vacilantes, inquietos, fracos, e os de maior variação, como os ciclotímicos, bipolares, até chegar na escala dos esquizofrênicos e sociopatas. Há uma infinidade de tipos – a natureza humana é essencialmente diversificada, não tem jeito. Mas como identificar a normalidade e a anormalidade?

Na história da evolução da espécie e no estudo dos hábitos e costumes dos povos, a conduta dos humanos termina sendo muito estudada, assim como se estudam o mundo vegetal, o animal e os astros. Como se sabe, a geologia estuda a Terra, seus movimentos e sua evolução, pois a Terra também sofre variações com as mudanças de idade.

Bem, tentando compreender e enquadrar as variáveis psicológicas dos homens, a fim de se saber como se afere a normalidade ou a anormalidade de alguém, a experiência social oferece um modelo usual: o homem normal é o que não apresenta variações comportamentais significativas, o que não revela sintomas de aparentes distúrbios ou diagnóstico de doença catalogada cientificamente como patologia, ramo que estuda reações diferenciadas do organismo das pessoas. Portanto, patológico, que deriva de patologia, é essa coisa já revelada como desvio do eixo central da normalidade, ultrapassando as fronteiras e indo aos extremos.

Ainda que sejamos todos variantes, segundo a boa observação antiga de Sheikspeare (1564 – 1616), por causa de não sermos pertencentes a um padrão único, exato e matemático (todos os humanos são seres individuais e diferentes, apenas assemelhados), a preocupação do mundo deve resumir-se aos homens que não são normais, aqueles que fogem do padrão usual da normalidade. Como conhecê-los para não sermos uma vitima deles, ou como prevenir os outros para que não o sejam?

Em principio, as anormalidades também são variáveis entre si, para mais ou menos, e cada distúrbio tem a sua própria capacidade de criar problemas grandes ou pequenos. Às vezes, os anormais só causam transtornos a si próprios. Noutros casos arruínam a si e a muitos.

HÁ LOUCOS ENTRE NÓS

Essas anotações simplistas, sem cunho científico ou acadêmico, são reflexões tormentosas de um agente social responsável que deseja compreender a sociedade em que vive e preveni-la quanto à conduta de seus membros fora do eixo da normalidade psicológica. Tudo à propósito dessa nova medida do governo de RC que quer desconstruir um plano de seguridade trabalhista dos professores da rede escolar do Estado. Trata-se de um atestado de dignidade funcional que os educadores obtiveram de outro governo, em 2003, após anos de lutas e sofrimentos. É coisa sagrada deles, sacramentada em lei.

Por conta dessas e outras patifarias do atual governo, inteiramente ofensivas à ordem jurídica e ao mínimo de respeito exigido aos colaboradores da gestão pública e ao povo como destinatário da ação estatal, nada há mais pra se dizer ou prever, a não ser que esse governador é portador de uma patologia grave, e será capaz de levar o povo da Paraíba a grandes tormentos, e o Estado à ruína. Já é caso de interdição ou impeachment. Infelizmente, desgraçadamente, lamentavelmente. E se devemos esperar mais, é porque temos merecimento pra sofrer além da conta, muito embora ainda nos reste uma pergunta apenas: Por que devemos purgar esse castigo e o que fizemos concretamente para merecê-lo?