A HISTÓRIA SE REPETE

POR PAULO SANTOS

Quem planta ventos colhe tempestades. Nunca um provérbio popular foi tão apropriado para uma gestão impopular como a do governador Ricardo Coutinho. Qualquer cidadão – paraibano ou não – que acompanhasse com razoável interesse a movimentação política que gravitava em torno do Palácio da Redenção saberia que todos os caminhos conduziam para uma grande crise.
Desde os governos Burity I e Burity II não se via a classe política tão revoltada quanto nos dias atuais. À época, Burity achou que governaria dando as costas para a Assembleia e o que se viu foi o governador de plantão sendo acossado por todos os flancos, inclusive sem nunca ter saboreado o prazer de eleger um aliado para a presidência da Casa Epitário Pessoa.
A crônica dessa crise anunciada tinha novos episódios a cada vez que era necessário diálogo substituído pela arrogância, pelo desprezo e pelo rolo compressor sobre as bases. Falta entendimento e sobram motivos para que os políticos se afastem do Palácio da Redenção. Os poucos que ainda não bateram em retirada estão morrendo de vergonha de virem a público defender o indefensável.
O vice-presidente da Assembleia Legislativa, Edmilson Soares, escudou-se no fato da cúpula do seu partido – o PEN – ter proclamado alinhamento com a pré-candidatura de Cássio Cunha Lima ao Governo para justificar sua passagem para a oposição, mas se quisesse poderia ter passado toda a sessão desta terça-feira (1º) enumerando situações constrangedoras que viveu durante sua convivência com o Palácio.
Como Edmilson, poucos são os parlamentares que não têm uma história tenebrosa para contar – em tom de revolta – quando se referem a Ricardo Coutinho, à sua equipe ou à junção de ambos. Sem contar, é claro, as vezes em que a própria Assembleia foi achincalhada por alguns mal-educados nomeados para cargos importantes do Governo.
Estava escrito nas estrelas que o governador Ricardo Coutinho iria amargar contratempos seríssimos pelo desenvolvimento da anti-política. Os deputados nunca absorveram, por exemplo, o tal “Orçamento Democrático”, que não passa de um disfarce para excluir a influência parlamentar na repartição das obras. Até que o Orçamento Impositivo, aprovado pelo Congresso Nacional, ponha fim a essas ideias de jericos.
E Ricardo Coutinho e os poucos que estão ao seu lado não podem sequer dizer que não sabiam de que se formavam ventos e trovoadas no horizonte do Governo. Há pelo menos um ano e meio esse tsunami vem se formando e, no início, não tinha o apoio de Cássio. O PSDB da Paraíba não tem apenas tucanos, mas sabe colocar alguns “falcões” convivendo no mesmo ninho.
Os “falcões” do Governador, ao contrário dos aliados de Cássio, acreditaram na força pura e simples do poder oficial. Nenhum Governo consegue blindagem suficiente para sobreviver incólume a tantos desvarios e insanidades cometidas nos últimos três anos. A resistência de segmentos de servidores ao massacre perpetrado contra o funcionalismo público estadual foi sintomático.
Os desdobramentos não devem ser tão imprevisíveis como imaginam alguns. É fato que não se pode menosprezar o peso da caneta governamental, mas a essas alturas as novas medidas repressivas soarão apenas como vendeta e já não terão efeito pragmático sobre o que a maioria pensa e deseja.