A força da simbologia

Marcos Tavares

Bastilha era uma velha fortaleza medieval incrustada no centro da capital francesa e praticamente fora de uso. Na sua tomada, abrigava apenas sete prisioneiros e nenhum deles de importância social ou política. O povo atacou a Bastilha apenas porque um boato avisou que ali estava guardada a pólvora com que municiar seus canhões e fuzis, mas o impacto da queda da fortaleza na história repercute até hoje mostrando que símbolos não precisam verdadeiramente encarar o que parecem. Até o Rei francês, no dia da tomada da Bastilha anotou em seu diário que “nada de importante havia acontecido”. Havia e ele pagou com a própria cabeça a falta de visão política e o conhecimento do estado de espírito de seu povo.

Heroicos por natureza, os franceses transformaram a tomada da Bastilha no marco inicial de sua revolução que vinha sendo cozinhada há anos, desde que mentes iluminadas como Voltaire começaram a desconfiar do direito divino de alguns homens reinarem. Mas como filosofia não faz revolução, faltou trigo em Paris e a cidade com fome juntou a essa fome o ódio reprimido há anos pela verdadeira servidão a que viviam submetidos, os excessos da realeza, a antipatia a Maria Antonieta, considerada sempre uma estrangeira, e isso fez acender o rastilho de uma revolução que marcou a entrada de uma nova época.

Os franceses mataram seu Rei e a Rainha, instauraram uma república que viveu à base do terror e anos após foram outra vez submetidos primeiro à autoridade quase imperial de Napoleão e em seguida a um novo Rei. A República foi um sonho adiado, muito embora a Bastilha tenha sido derrubada. É um alerta da história às revoluções, uma mãe que sempre acaba por devorar seus filhos e nem sempre atende aos apelos que a geraram. Reinos e repúblicas são geridos por homens, e os homens são falhos sob qualquer regime.

Profissionais
O que se viu nas ruas do Brasil no protesto da última quinta-feira não foi o povo. Foram os profissionais sindicais de bandeiras ao vento, bandeiras que eles não tiveram coragem da desfraldar nas manifestações populares.
Foi a força dos grandes sindicatos que não mobilizou nem categorias importantes como os metroviários e boa parte dos motoristas das grandes cidades.
Faltou o povo, o povo que não aceita mais nem o comando do governo nem dos pelegos sindicais que tentam pegar carona num movimento espontâneo para fortalecer suas posições políticas que acabam lhes conduzindo ao poder. Como sempre acontece.

 

Cartazes
Faltou o humor, a irreverência dos primeiros cartazes que mostravam uma linguagem popular em vez dos velhos chavões de esquerda já desbotados pelo tempo.
Faltou, sobretudo, alegria, muito embora tenha sobrado organização, pois nesse ponto nossos sindicalistas são imbatíveis em jogar gente nas ruas enquanto negociam com os patrões em reserva.
Não era o povo que estava nas ruas do Brasil. Eram os sindicatos.
Fastio

Senadores diminuem o número de assinaturas necessárias para que se vote um Projeto de Lei.
Antes eles delegavam as Leis ao Judiciário. Agora parece que querem passar o fardo ao povo.
Preços
Com toda a confusão cívica causada pelas passeatas, o noticiário econômico perdeu espaço.
Ao contrário da inflação, que continua engordando a olhos vistos. Basta ir a um supermercado…

Pauta
Li – com assombro – a pauta do nosso bravo Sindicato dos Jornalistas que incluía em suas demandas a reforma agrária.
Fico em dúvida se isso significa que nós vamos trocar o computador pela enxada. E sair arrancando tocos…

De morte
Dois anos sem que o assassinato de Rebeca saia do estágio zero.
Alguém já disse que não existe crime perfeito. Existe polícia imperfeita.

Nas ruas
Nessas manifestações, falta alguém. Alguém que sempre esteve à frente de todos os movimentos e que se tornou uma figura icônica dos protestos.
Aonde anda esse cidadão?!

Dureza
Papa Francisco endurece as pernas contra pedofilia e exploração de menores.
Isso é apenas circunscrito ao Estado do Vaticano. No resto do mundo, ripa na chulipa!
Frases…

Santificado – Todo pobre deveria ser canonizado. Viver com salário mínimo é milagre.
Assaltos – Mandela chegou a assaltar bancos na sua juventude militante. Alguns deles dão certo.
Dominical – A segunda é o pedágio que paga o resto dos dias.