A desesperança de Anísio

Rubens Nóbrega

Meu caro Rubens, a história que passo a contar me aconteceu ontem (9 de maio de 2012) nas dependências do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), da UFPB (Campus de João Pessoa), onde concluo meu curso de Direito, que, entre outros objetivos, inclui o de me transformar num ser humano melhor e, quem sabe, ajudar a transformar nossa sociedade em algo mais justo e aprazível.

Ocorre que fatos como esse me enchem de desesperança e ajudam a entender por que a sociedade brasileira é o que é e porque nossa representação parlamentar se enche de quadrilheiros, alguns enrustidos, das mais diferentes estirpes.

Pois bem, nessa quarta-feira, após assistir a uma aula de Metodologia nas dependências do CCJ fui à Sala de Reprografia para colher um texto que o professor havia deixado para que fizéssemos um resumo como requisito para avaliação.

Por descuido deixei uma mochila que sempre uso aberta, de onde caiu minha carteira de cédulas. Alguns minutos após o ocorrido, dei-me conta da perda e passei a procurá-la sem lograr êxito. Recorri aos lugares por onde passei, desesperado para encontrar meus documentos, objeto da minha maior preocupação, em função, claro, do trabalho que teria para requisitar a segunda via de todos.

Cerca de vinte minutos depois, um servidor da segurança da Universidade, com muita gentileza, me liga dizendo que encontrou minha carteira de cédulas jogada em uma das ruas da UFPB e me devolveu.

Meu espanto maior, caro amigo, foi ver que aquele que primeiramente encontrou a carteira, antes do segurança, teve o cuidado de extrair dela os cerca de setenta reais que havia dentro, deixando, como consolo, os documentos.

Será que tenho que agradecer a Deus por isso? No Brasil, creio que sim. Essa perda, Rubens, é absolutamente recuperável, mas sinto profunda desilusão por me deparar com a possibilidade de um jovem estudante universitário, supostamente elite cultural e intelectual do país, ser capaz de roubar uma carteira.

Inunda-me de tristeza ter que acreditar que a desonestidade está no DNA do brasileiro. Pior se tiver sido um estudante de Direito, porque aí penso que ele mesmo sabe que esse comportamento está capitulado no nosso Código Penal como crime. E mesmo assim o cometeu.

Isso explica a representação parlamentar que temos. E mais, explica porque nunca iremos a lugar algum. O problema do Brasil não é o Brasil, é o brasileiro.

Fatos como esse insinuam que alguma coisa fiz de errado na vida por nunca ter me seduzido alguma chance de entregar pizza nos Estados Unidos.

Abraços amistosos de Anísio de Carvalho Costa Neto.

Permita-me, meu caro

O autor do instigante relato é multiplamente talentoso. Além de auditor fiscal dos melhores e jornalista de primeira, Anísio de Carvalho é excelente observador das circunstâncias, práticas e valores morais na vida contemporânea.

Sou-lhe muito grato pela mensagem que dá conteúdo e qualidade à coluna de hoje, mas não me acosto à sua descrença. Digo assim porque acredito mesmo que somos um povo bacana, majoritariamente honesto, fraterno, solidário, justo.

Somos muito mais o guarda que encontra e entrega os documentos e muito menos o sujeito fraco de idéias e caráter que furta o dinheiro do nosso amigo e colega.

Mantenho-me na certeza ainda inabalada de que somos verdadeiramente bem melhores do que esse proto de corrupto que surrupiou dinheiro de Anísio. Sou do clube que aposta no sustentado desenvolvimento humano e material do país, mercê das ações e transformações impulsionadas por nossos governos nacionais nos últimos dez anos.

Graças a esse crescente, sinto-me privilegiado por ter a condição de, tanto quanto o amigo e colega Anísio de Carvalho, viajar algum dia aos Estados Unidos para fazer turismo e consumir prazeres diversos, incluindo comer – e não entregar – uma boa pizza das cantinas e padarias italianas de Miami, Nova York, Chicago ou São Francisco.

Quanto aos quadrilheiros, meu caro, certamente eles não se limitam ao Parlamento. Temos evidências de sobra de que eles andam por aí impunemente, aprontando mil e uma safadezas em todos os poderes, instâncias e esferas. E cada vez menos enrustidos.
Tiro pelo que vejo atualmente na Paraíba, onde, de uns tempos pra cá, como diria o nosso catolaico poeta, bandidos passaram a agir com assombrosa desenvoltura e escancarada desinibição.

MEMÓRIA CULTURAL

“Sexta-feira é osso, madrinha!”, diria o netinho da minha amiga Áurea. Mesmo assim, apesar do sufoco de ter que dar conta de tanta obrigação no trabalho e da devoção de aprontar duas colunas seguidas para o sábado e o domingo…

Mesmo assim vou fazer o máximo para estar às sete da noite em ponto na Estação Ciência do Altiplano Cabo Branco, local do lançamento em João Pessoa do monumental ‘Paraíba – Memória Cultural’, livro do Professor e Artista Plástico Chico Pereira, um dos mais brilhantes intelectuais da Pequenina.

A obra, editada no padrão Grafset de qualidade, recupera a produção cultural da Paraíba por toda a nossa história, ou seja, da fundação a nossa última refundação, datada de 1º de janeiro do ano passado.