A Culpa Deve ser Dividida

Bruno Filho

No final da década de 80, eliminatórias para a Copa do Mundo da Itália, o Brasil viveu seu primeiro momento grave dentro do futebol com relação a uma violência até então desconhecida, aquela protagonizada pelos “sinalizadores”. Peças até então desconhecidas da grande maioria, com utilização única e exclusiva do Exército e da Marinha para fins militares.

Com um Maracanã lotado, apareceu a figura de Rose , “A Fogueteira”, que lançou um artefato desses para dentro do gramado, o que serviu de pretexto para o goleiro Rojas sentir-se agredido, paralisou a partida, e o Chile foi eliminado da competição e da possibilidade de disputar a Copa. O goleiro pela encenação foi simplesmente eliminado do futebol.

O que nós fizemos ? Absolutamente nada. Achamos engraçado, demos apelido para a moça, colocamos a mesma em um pedestal, ficou famosa, capa de revista masculina, e o “sinalizador” ganhou vida por parte daqueles que não o conheciam. A partir daí virou objeto obrigatório para as pseudo-festas do futebol. Infelizmente a moça faleceu prematuramente.

Junta-se a isso o crescimento nocivo desta instituição chamada “Torcida Organizada”, que campeia por todos os 4 cantos do mundo, e que ganhou uma conotação extraordinária dentro do País. Organizada em quê ? Talvez em tumulto, confusão e não acrescenta nada de positivo. Amparada pela mídia, sente-se maior que o clube e superior ao escudo que representa.

Não me refiro apenas a “Gaviões da Fiel”, refiro-me a todas que tem passe livre para andar por estádios de todo o mundo, sem que se saiba de onde vem o dinheiro que financia as viagens. Como é possível alguém que tenha emprego, estude ou faça lá o que for tenha condições de estar na Bolívia numa quarta-feira e de repente estar em Goiania no final de semana.

Viagem custa dinheiro, levando-se em conta que existe hospedagem, alimentação e tantas outras despesas inerentes. Mas para as torcidas pode tudo. Não tem problema de liberação de visto, de passaporte, nunca faltam passagens aéreas, vôos aos montes, uma facilidade inimaginável para seres comuns viventes neste mundo.

Dá nisso. Mais uma morte de um jovem de 14 anos que queria ver um jogo de futebol de seu clube contra o Campeão do Mundo. Nada mais do que isso. O que leva um ser humano a apontar um “sinalizador” para outro ser humano ? Qual é a doença que habita o corpo e a mente deste cidadão ? Infelizmente não tenho resposta para estas perguntas.

Tenho ultimamente sentido nôjo do futebol, no qual milito há 40 anos. É muita sujeira e um problema que toma contornos estruturais. Os dirigentes corruptos ocupam manchetes, jogadores que vivem vidas duplas ocupam as primeiras páginas, corrupção no mundo das apostas invadem os computadores e redes sociais descaradamente. O que esperar mais ?

Voces podem achar que não existe correlação entre as coisas, mas existe. Uma impunidade puxa a outra e dá corda para que sucedam nefastos acontecimentos. Esse é só mais um e a beira da realização de uma Copa do Mundo no nosso território. Providências…não são e nem serão tomadas, pois na Conmebol está um “Marin” deles. Nada mais do que isso.

Esta é a imagem que o clube deixa no vizinho país, culpa de sua intitulada torcida que ostenta um escudo centenário glorioso que não deveria estar estampado no peito de marginais. A culpa é de todos nós, temos que dividí-la, pois somos os primeiros a chamar estes descaracterizados de “Bando de Loucos”, na mais pura conotação de brilhantismo.

Não deveria ser assim. E não me venham com pedido de desculpas e luto oficial, pois ninguém vai diminuir o sofrimento desta família, e no próximo jogo a ser realizado no Pacaembú ou na “Conchinchina” os sinalizadores estarão de volta e se bobear serão atirados de novo contra a cabeça de algum menino que foi ensinado a amar este infernal futebol.

Saudades eu tenho de quando nada disso existia, e que na pior das hipóteses a provocação ficava em troca de bagaços de laranja entre os torcedores. Podem me chamar de “Museu”, eu aceito de bom grado, prefiro ser um “Museu” limpo e correto do que um computador de extrema potência sujo. Não troco minha história por nada e por ninguém.

Abaixo as “Torcidas Organizadas” antes que elas destruam por completo a maior paixão do ser humano que é o futebol. Podem acreditar que enquanto o caixão do rapaz estiver descendo para a ultima morada, a bola não vai parar de rolar sob nenhum pretexto e os gritos de insurreição continuarão sem controle e sem comando, até que a próxima morte apareça.

Bruno Filho, jornalista e radialista. Corintiano triste e envergonhado ! Peço perdão a Deus.

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